Dia 11 – Dia inteiro de estúdio

Hoje é 5ª feira, 11 de julho de 2024.
Desta vez dormi apenas sete horas, entre as 23 e as seis. Continuo a transpirar muito durante a noite. O aquecedor é imediatamente ligado, quando me levanto. Estão 14° agora (57F), e dão 28 de máxima para hoje (82F).
Ao acordar tenho o WhatsApp, o Telegram e o Viber cheios de mensagens dos arménios, tenho enviado as fotos para todos.
Estou impaciente por pintar. Anteontem não pintei porque cheguei tão aborrecida do restaurante e do suposto feriado, que nem quis pintar. É melhor não pintar nestes dias, senão só me saem coisas más. De qualquer forma passei a tarde toda a estudar o mapa da Arménia, os percursos e os transportes, o que foi decisivo para organizar os meus próximos dias. E ontem com a azáfama da internet que falhou, a andar para trás e para a frente, não consegui pintar também.

Logo pela manhã enviei uma mensagem detalhada ao taxista Rubo, que me trouxe ontem da loja da Telecom, com os meus planos de viagem até à basílica de Yereruik, amanhã. Do meu estúdio até lá, são 55 km de distância, por caminhos de terra para a bicicleta. Planeei fazer 31 km na bicicleta até à povoação de Aghin, e o restante no táxi; e depois no regresso o taxista Rubo trar-me-ia de volta. Fiz a simulação do percurso ida e volta, desde o estúdio até à basílica, na app Yandex Taxi – que me dá logo o preço: 12.600 drams (30€) – e perguntei-lhe se estava interessado neste serviço, que o iria ocupar desde as 10h30 da manhã, hora a que eu espero chegar a Aghin, até se calhar às 13h, hora de regresso, dado que eu quero ficar algum tempo na basílica, como é hábito; não gosto de chegar e ir logo embora. O taxista Rubo aceitou o serviço. Combinei então consigo passar-lhe algumas coisas minhas, ao final da tarde de hoje, se ele conseguir passar por Mush, nomeadamente água, figos secos e nozes. Eu devo precisar de água, já não conto com lojas nenhumas, nestas terras. E o taxista Rubo passou por Mush ao final da tarde e levou as minhas coisas. Entreguei-lhe um garrafão de água com mais de um litro de água, e passei-lhe as minhas sandálias também, para eu poder trocar de calçado no regresso.
Tudo corre bem e este passeio há de concretizar-se amanhã.

As nossas mensagens de Whatsapp são curiosas: eu escrevo em arménio, e o taxista Rubo responde-me em português. Ver este diálogo, posteriormente, é absolutamente ininteligível. Trocámos muitas mensagens, aquela combinação não foi linear. O tradutor Google de vez em quando não traduz bem, é preciso reformular. A certa altura eu recebi uma mensagem sua, em português, dizendo que eu iria escrever uma carta. Eu irei escrever uma carta?… Eu traduzi para arménio, esta frase, e ele riu à gargalhada, não foi nada disto o que ele escreveu, claro.
As mensagens que eu troco com a Nelly, da churrascaria, é a mesma coisa. A Nelly escreve-me em português, eu escrevo-lhe em arménio. Temos grandes trocas de mensagens sobre costeletas e o modo como eu quero que sejam feitas. É verdade, eu ainda não tinha comentado isto: eu quero as costeletas apenas com sal, não quero temperos nenhuns. Porque aqui na Arménia a carne é muito temperada com algo vermelho, deve ser pimentão e outras especiarias. Eu gosto da comida cozida e grelhada apenas com sal, gosto de sentir o sabor da carne o mais puro possível. Mas a Nelly já sabe isto de cor e salteado, com tantos pedidos meus. Manda-me muitos stickers, com corações, beijos e flores. É uma joia, a Nelly.

São 6h51. Eu deixo a comida no parapeito, mas cai sempre alguma lá para baixo, e os pardais e os corvos são rápidos a apanhá-la. Ao abrir a janela, sinto o frio matinal dos 14°. Estou no meio de montanhas, uma com neve. O estúdio está quente, e o aquecedor está a bombar.

A residência tem duas embalagens de detergente para a máquina, disponíveis.  Os meus ténis estão ali dentro também; vão ter que secar hoje, porque amanhã preciso deles.

Este minibus 26/3 vai em direção a Marmashen, agora já sei. O outro que aqui passa, o 25/5, vai para o centro de Gyumri. São direções opostas. Só daqui a uns dias irão esclarecer-me sobre o porquê de ter dois números: 25 e 26 eram os números antigos; agora são o 3 e o 5. Mas para as pessoas mais velhas, habituadas ao número antigo, não se baralharem, disseram-me, usam os dois números.

Este terminei-o agora. Vai ficar a secar.

Eu tenho boas facas no meu apartamento, e uma bem grande, mas esta estava no apartamento ao lado, por estrear, e eu, que passo a vida a cortar carne, decidi trazê-la.

Lavar a louça é uma maçada; perdi hora e meia a cozinhar, comer e lavar a louça. Estou na Arménia se calhar uma vez na minha vida, não é suposto perder tempo com estas coisas, sobretudo tendo uma bolsa da União Europeia que me paga as despesas todas. A questão é que não tenho restaurantes aqui, só a churrasqueira. Mas não sei se vou voltar a meter-me nisto, já basta eu ter de cozinhar na minha casa em Lisboa, agora ainda vir para aqui lavar tachos!

Aquele é o frasco de molho arménio que a Tatiana me deixou. É bom, vou comprar mais. Pelo menos esparguete posso fazer, e adiciono este molho.
Aquele melão é maravilhoso, muito doce; e ainda comi uma tablete de chocolate.

Saí para comprar tomates, fruta, água e leite, e conheci a minha vizinha de baixo, do 4º andar: a Hmik (lê-se “Asmik”). Cumprimentou-me, e trocámos de número de telefone. Quero convidá-la, e às crianças que estão consigo, para visitarem o meu estúdio.
Enquanto nós duas falávamos, passou outro vizinho nas escadas – um homem dos seus 65 anos – e eu cumprimentei também. Nem me respondeu. A Hmik fez-me sinal que não, que este não é simpático – pelos vistos não gosta dos artistas estrangeiros que aqui ficam. É assim a vida.

Ali é o Distrito Austríaco, onde fica a rua Paruyr Sevak, onde se situa a loja das bicicletas, a universidade de Shirak e a loja da Telecom. Daqui a pouco conheço aquela rua tão bem como a minha, aqui em Mush. Parece que está perto porque tenho o zoom da câmera fotográfica no máximo. São 2,3 km até à loja das bicicletas.

Soldado arménio.

Vigia pássaro.

São 20h15. Os ténis já secaram; pu-los ao sol.

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