Dia 8 – De bicicleta: Fonte de Ferro, Universidade de Shirak, loja de bicicletas & tarde de estúdio

Acordei às 5h50, 10 minutos antes do despertador. Dormi nove horas. Acordei totalmente encharcada, tive que mudar de roupa imediatamente. Choveu torrencialmente durante a noite e fez relâmpagos e trovoadas. Tive períodos ocasionais de tosse intensa.

São 6h10.

Soldado russo. A Rússia tem uma base militar aqui em Gyumri.

Os comprimidos cor-de-rosa são indicados para distúrbios psiquiátricos, e fico violenta se não os tomo. Não, é mentira: é mesmo o Centrum, o suplemento alimentar. A Granola comprei-a ontem no supermercado, 1130 drams (2,69€). E mel, que já tinha.

O destino hoje é a “Fonte de Ferro”, um monumento histórico e cultural. É um passeio pequeno, de apenas 4 km, porque não estou segura da minha constipação, e porque está com ar de chuva. E de seguida regressarei a Mush, mas passando primeiro pela loja das bicicletas, que fica no bairro ao lado do meu, a 2 km. Fica a caminho do estúdio e aproveito para comprar um cadeado para a bicicleta.

São 8h20 e cheguei ao meu destino.

Encontro a seguinte informação no site “Armenian Explorer”:
“Esta criação pós-apocalíptica é a fonte “Amizade”, carinhosamente conhecida como a “Fonte de Ferro”, projetada por Arthur Tarkhanyan, um estimado arquiteto arménio. A fonte foi inaugurada em 1982 e rapidamente se tornou um local popular para lazer e passeios noturnos até ao devastador terramoto de 1988. Embora a fonte em si tenha resistido ao terramoto relativamente ilesa, a área ao redor caiu em ruínas, e os anos desafiadores que se seguiram não proporcionaram nenhuma oportunidade para a sua revitalização.
Uma proposta de restauração foi apresentada por “A3 Architects” há vários anos, com uma animação 3D disponível no canal do YouTube da filha de Tarkhanyan. Só podemos esperar que um dia a fonte seja restaurada, recuperando a sua antiga glória: https://youtu.be/r93KqwUBLyY”¹

A “Fonte da Amizade”, ou a “Fonte de Ferro” (conhecida em inglês por “Iron Fountain”) nos tempos antigos.
Imagem retirada de “Armenian Explorer”¹.

E vou agora à loja das bicicletas no distrito austríaco. Chama-se assim, o bairro ao lado do meu. O meu destino é onde se encontra a bandeira axadrezada; em baixo podem ver o “Mush 2 district”. A loja fica a 4,5 km de distância daqui e foi o Vahagh quem me enviou a sua morada, através de sms, quando eu lhe disse que precisava de comprar um cadeado.

Pedalei cem metros e parei nesta rua, para observar tantos corvos. E eis que na casa ao lado aparece esta senhora. Chama-se Leila, vim a saber. E a Leila convidou-me para tomar café.

Entretanto chega o Vashik, o seu marido, que foi apanhado de surpresa com a minha visita e a minha foto.

Groselhas. Esta bebida é chamada “Kompot”: é preparada cozendo frutos num grande volume de água. Adiciona-se mel ou açúcar a gosto. É servida quente ou fria.

Eu estava a preparar a máquina fotográfica para nos tirar uma foto aos três, e experimentei tirar esta foto, para ver como ficava. Ficou tão bem, que decidi mantê-la.

O Vashik vai apanhar groselhas.

A Leila tem 75 anos e foi professora de matemática durante 41 anos no ensino secundário. Nasceu na Geórgia e depois veio estudar para a Arménia. Fala-me no “Instituto Arménio”, pressuponho que seja uma escola. Entretanto conheceu o Vashik e casaram-se. Têm três filhos rapazes, um é coronel no ministério, contou-me. Tem um irmão a viver na Bavaria, na Alemanha. Contou-me que o seu tio, na Georgia, foi ministro da educação.

A Leila aprendeu inglês na escola, mas não tem praticado, e já se esqueceu de muita coisa. Diz-me algumas coisas em inglês, mas a maior parte das vezes usámos o tradutor Google. Aquele telemóvel vermelho é meu, e a Leila está a escrever algo no alfabeto arménio.

Estivemos algum tempo a ver fotografias no telemóvel da Leila – da sua família. Nesta foto a Leila está no meio. Mostrou-me um dos filhos em frente a um restaurante – “é um homem de negócios”, disse-me. Mostrou-me a neta, que terminou o ensino secundário e foi agora aceite na universidade, em Medicina, em Yerevan. Mostrou-me muitas pessoas, crianças sobretudo, e também me mostrou familiares já falecidos, com as suas fotos nas campas, que eu vi com muito interesse.

A Leila entretanto quis oferecer-me uma prenda e foi buscar este pano de cozinha. Estava embrulhado e pronto a colocar na minha mochila, eu é que o abri para tirar esta foto.

Entretanto pedi-lhe para ir ver o seu quintal, onde vi salsa, pepinos, girassóis, malaguetas, morangos, uvas, tomates, amoras, bolotas e sei lá que mais. A Leila tinha que escrever em arménio, no meu telemóvel, para eu identificar as plantas. “Pepino” – leu ela em português. Eu ri-me, ao ouvi-la falar em português.

A Leila apanhou 3 ou 4 morangos e quis dar-mos. Eu comi apenas um, e era muito bom, muito doce e maduro.

Chegou um vizinho, que acabou por ser fotografado também, pois claro.

E chegou a hora de eu abalar. Acabei por ficar hora e meia em casa da Leila, esta visita foi demorada. Agradeci a simpática manhã, trocámos os contactos do WhatsApp, e deixei o convite para visitarem o meu estúdio, em Mush.

Agora sim, são 10h09 e 4,4 km para o meu destino: a loja de bicicletas.

A poucos metros da loja das bicicletas, vejo esta universidade e decidi entrar. Universidade Estatal de Shirak. Shirak é o nome da província onde estamos. Então hoje é a cerimónia de graduação.

Perguntei-lhes se esta universidade era exclusivamente feminina, se não há rapazes. Elas responderam-me que sim, que há rapazes – e foram chamá-los. Então os rapazes lá apareceram e reuniram-se para eu fotografá-los também:

Perguntei-lhes porque não estavam com o traje universitário, como as raparigas, e o rapaz ao centro, que se chama Ramzik, pediu emprestada a capa de uma das raparigas, bem como o rapaz ao lado, na foto abaixo. Ambos se formaram em Educação Física:

Foi a Milena, à esquerda, quem me pediu estas fotos. A Milena não é desta universidade, está a tirar um mestrado em Comunicação Empresarial (“Business Communication”, como me disse) na universidade em Yerevan. A rapariga ao centro, trajada, é sua amiga ou familiar, nem cheguei a saber, no meio desta azáfama de fotos. Eu fui requisitada como fotógrafa de serviço; todos queriam uma foto e fiquei com o WhatsApp de todos para lhas enviar posteriormente.

Este é o Alexander, sobrinho da Milena. Primeiro tirou uma foto a sorrir, mas depois considerou que é pouco masculino, e tirou esta segunda foto, que gostou mais. Ficou esta, portanto. (Mas eu guardei a primeira, onde ele está a sorrir, e que efetivamente gosto mais. Mas o Alexander é que manda – ele gosta desta, é esta que publico).

À esquerda está a Alisia – fiquei com o seu WhatsApp para enviar as fotos – e todas estas raparigas, das próximas fotos, se formaram em Psicologia.
Esta situação é curiosa: lembrem-se que eu tenho a bicicleta estacionada lá fora (ainda sem cadeado – mas elas dizem-me que não há problema) e eu estou de capacete, a circular na universidade e a tirar estas fotos.

E depois de mais este interregno, é desta que chego à loja das bicicletas. São 11h57. O pequeno passeio de 4 km já vai em 4 horas e meia.

A atender está a Ripsik.

A Ripsik tem o meu telemóvel vermelho nas mãos – está a traduzir algo, naturalmente. Eu perguntei-lhe se é a dona da loja. Ela respondeu-me que é a mãe do gerente. Rimo-nos as duas. (A mãe é que costuma mandar…)
Vi o preço das bicicletas, e andavam pelos 45 mil drams (107€).

E quando eu saí para a pequena oficina que existe cá fora, para colocar o suporte do cadeado na bicicleta, a Ripsik veio ter comigo e ofereceu-me lavash com queijo tradicional da Arménia.

Este senhor prendeu o suporte do cadeado – com parafusos – à minha bicicleta. Não queria dinheiro por este serviço. Deixei uma moeda de 200 drams em cima da mesa.

Ficam aqui os contactos da loja, que não encontrei em lado nenhum na internet. E a morada: Gyumri Bike, Rua Paruyr Sevak, 10. A aplicação Maps.me identificou a loja e a morada.

São 12h19 e regresso a Mush, onde me espera uma bela tarde de pintura, já com o estúdio mais quente da temperatura da tarde!

Desta vez é uma shawarma de porco. Estou com uma alimentação pouco variada, e excesso de carne, mas não há um único restaurante em Mush. Ponderei em fazer eu uma salada de feijão frade com atum, ovo cozido e algum vegetal, mas quando perguntei no supermercado por “feijão frade” (no tradutor Google), nem sabem o que é isso, não é um produto comercializado na Arménia, pelo que percebi. Aqui existem outro tipo de leguminosas – e mostraram-mas no supermercado – que não sei eu cozinhar (nem estou para aí virada).
À esquerda, nesta foto, está o queijo e o lavash que a Ripsik me ofereceu. É um queijo muito rijo e seco.

Estou muito contente porque terminei estas duas pinturas – pensava eu. Afinal não terminei, a da esquerda irei continuar a pintá-la, ainda não estou totalmente contente com ela.

Esta terminei-a hoje.

Esta também.

A primeira de cima está terminada. As duas de baixo também. As outras vão prosseguir.

São 20h25.


¹“The Iron Fountain in Gyumri” (s.d.). Armenian Explorer. Página consultada a 12 agosto 2024,
https://www.armenianexplorer.com/urbexarmenia/the-iron-fountain-in-gyumri

<< >>