24 – 12º dia, adeus Lom, chegada a Sófia
Hoje é sexta-feira, 21 de julho de 2023.
E eram 9 da noite, ontem, quando finalmente descobri como é que vou partir de Lom, hoje. Normalmente planeio tudo com antecedência, mas desta vez deixei-me ficar até ao último minuto na incógnita. Os comboios não são diretos para Sófia, é preciso mudar, e aquelas letras cirílicas assustam-me. Além do facto de quase ninguém falar inglês. Mesmo nas bilheteiras, nos cafés, nos restaurantes, é muito complicado. No restaurante ao lado do hotel, por exemplo, mostraram-se mesmo agressivos e sem vontade de ajudar, quando eu não percebi o preço que tinha de pagar pela bebida. Estavam a dizer-me o preço em búlgaro. Tem de ser tudo à base de Google Translator. Se porventura fico sem bateria, ou sem internet, adeus. Então perguntei à Nia se há espaço para mim, no seu carro. Ela vai levar o Antonin e a Kit. Disse-me que sim, desde que eu tivesse pouca bagagem. E eu que vim com uma mala de 16,5 kg. Nem eu própria sei de onde é que vem tanto peso. Tenha a viagem quinze dias, ou um mês, o peso é sempre o mesmo. Tenho de comprar uma mala nova, esta pesa muito, mesmo vazia. E levo-a no meu colo, se for preciso.
O terraço continua todo fechado, com os plásticos, por causa da chuvada de anteontem. Perde completamente a graça. Já não choveu mais, mas os plásticos aqui continuam. Perguntei ao marido da dona do hotel, uma das três pessoas habituais às seis da manhã, porque é que não recolhem os plásticos. Aliás, não perguntei nada, apontei para os plásticos e fiz sinal de subi-los. Ele encolheu os ombros. Ainda bem que me vou embora, que isto assim é uma desolação, fechada no meio de plásticos.
E veio a família toda despedir-se: o Krisko, a Kriska e os quatro filhotes. Foi uma festa. O krisko não gosta nada do flash da máquina fotográfica, fecha os olhos e vira-me costas. A Kriska é mais fotogénica, não fecha os olhos e mantém-se firme.
Sobraram estas duas pinturas, coitaditas. A azul apanhou uma chuvada, está toda engelhada da água. Não sei se tem recuperação. Levo as duas comigo para Portugal, pode ser que continue a pintá-las no meu estúdio. A verde de certeza que continuarei.
Coitadinho do Krisko, ninguém lhe põe Betadine na orelha. Só espero que a ferida sare.
Partilho um queijo e um chocolate com eles. O chocolate não gostaram (tem bolacha dentro), comi-o eu todo, mais tarde.
O Krisko não foi rápido a comer o queijo, e veio a Kriska e tirou-lho. Ele larga a comida e afasta-se imediatamente, à aproximação dela. Quem manda é a Kriska.
Tive que dar-lhe outro bocadinho, senão ficava sem nada.
São 7h08, as lesmas também se alimentam.
E eis o final da história do gato bebé fechado na casa abandonada. A Maya mãe escreveu-me isto no Google Translator. Segue a tradução em português:
A mãe do gatinho nunca apareceu, e a minha filha levou o gato para cuidar dele…. Levaram-no ao veterinário ontem e está tudo bem com ele… é um macho e deram-lhe o nome de Simba!
As duas Mayas, mãe e filha. Mas quem ficou com o gatinho foi a Christina, a outra filha da Maya, que aparece na crónica 14.
São 9h, aí vamos nós. O Antonin afinal não veio, é muito cedo, ele optou por regressar a Sófia mais ao final do dia, de comboio. O Antonin vive em Sófia. Assim houve espaço para a minha bagagem, no banco de trás. A Kit vai à frente, e a Nia conduz.
10h37. Uma breve paragem para a Nia e a Kit comerem. Eu já tomei o pequeno-almoço, não como a esta hora. Este foi o restaurante onde o Voin também parou, quando vínhamos para Lom. Eu ainda não tirava fotos, nessa altura.
12h25. Entramos em Sófia.
A Nia deixou-me a mim e à Kit, aqui. E eis que damos conta que a rua se chama “Lom”. Foi puro acaso, pois a Nia deixou-nos a poucos metros do meu hotel. A Kit tem um voo às 7 da tarde, para Londres, onde vive, e cerca das 4 irá de metro para o aeroporto. Vai deixar as suas bagagens no meu hotel, entretanto, e vai dar uma volta.
A receção do meu pequeno hotel, mesmo no centro de Sófia. Chegámos à hora de almoço, eu e a Kit, e o rececionista não se encontrava. Esperámos. Eu entretanto almocei nesta mesa, a comida que trouxe do supermercado de Lom: arroz de legumes com aquilo que eu pensava ser um filete de peixe, mas afinal era algo de queijo. Tenho talheres de metal comigo. Já estou experiente nestas coisas. Quero sentar-me e comer, sem demoras e buscas de restaurantes, com a bagagem toda atrás. Mulher prevenida vale por duas. E mais uma maçã e umas passas, de sobremesa. A menina trata-se bem, não é verdade? Tenho um regime alimentar rigoroso, e a comidinha não pode falhar, tem de ser sempre a horas. (A Kit tinha comido há pouco tempo – e comeu carne, no restaurante, bem como a Nia. Elas não tomam o pequeno-almoço, vão diretas ao almoço às onze da manhã. Também é um regime interessante, e eu fi-lo durante alguns anos, no passado, quando era notívaga. Mas almoçava lá para as 2 ou 3 da tarde, quando acordava. Agora dei em ser matinal e às seis da manhã estou esgalgada com fome).
Despedi-me então da Kit, após o rececionista chegar e lhe explicarmos a situação das bagagens. A Kit vai dar uma volta e deixa aqui as bagagens. Às 16h vai para o aeroporto. Eu também vou dar uma volta, mas deixo as bagagens já no meu quarto. Ainda vou ao supermercado, e depois afastar-me-ei, pois não tenho de estar aqui às 16, posso chegar mais tarde. Então despedimo-nos e separámo-nos.
Eu pedi um quarto individual, e foi dos mais baratos que encontrei, mesmo no centro de Sófia. Mas pelos vistos posso convidar mais duas pessoas. Será que o acordeão e os violinos funcionam? Ainda fazemos todos uma festa.
A entrada para o meu hotel, onde diz “Johnnie Walker”. Prefiro sempre hotéis no centro, e aconselho isto a todos. Faz toda a diferença passear numa cidade, estando no centro, do que ter de caminhar muito, ou ainda apanhar um transporte para lá chegar. E não é uma questão de preço. Este é dos alojamentos mais baratos em Sófia e fica em Serdika, exatamente no centro.
Outra esqusitice minha, é que não pode ter trânsito. Barulho de carros. A minha fobia ao trânsito já será conhecida, por esta altura, pelos leitores de crónicas anteriores. E grandes azáfamas de mudanças de quartos e hotéis, já provocou. Ora, um hotel no centro de uma capital europeia, é por natureza barulhento. Errado. Como veem, este é bem sossegado, fica num beco. Dormi em silêncio todas as noites, no centro histórico de Sófia.