19 – A preparar a exposição final

É curioso como num ambiente pequeno como Lom, onde porventura pensamos que cada qual está na sua casa a cozinhar, há tantos clientes a vir comprar comida feita. O supermercado vende quantidades grandes, como podem ver nas fotos, todos os dias. Exceto domingo. Naquele domingo em que vim buscar comida, não tinham. No entanto tinham duas caixinhas com o frango com batatas que sobrou da véspera. Foi o que me desenrascou. E nós – da residência artística – somos os únicos estrangeiros que por aqui andam. Os clientes deste supermercado são todos lomenses – ou sei lá como é o gentílico. Ou eventualmente família búlgara dos lomenses, de férias. Vejo na internet que a 15 de junho de 2023 existem 24.038 pessoas com endereço permanente aqui em Lom, e 21.577 com endereço atual. Ou seja, a diferença – 2.461 pessoas – têm endereço aqui, mas estão a morar noutro local. São dados do “Sistema Unificado de Registo Civil e Serviços Administrativos da População”¹. Vamos contar com 21.577 habitantes, portanto. Mesmo assim ainda é muita gente para alimentar.
Neste link da Wikipédia (indicado no fim desta crónica) são nomeados uma série de lomenses célebres, deste futebolistas, compositores, revolucionários, artistas, atores, astrónomos, arquitetos, etc., etc.

Desta vez fotografei os preços do meu almoço, comprado no supermercado:
Batatas 1,49 leva
Iscas de porco grelhadas (não são fritas, são grelhadas) 1,27 leva
Cogumelos 1,72 leva
Total: 4,48 leva
(2,28 euros)
Recordo que a moeda na Bulgária é o lev, e que no plural se diz “leva”, inclusivamente em inglês. O câmbio que estou a usar é 1 lev = 1,96 euros.

Quanto paguei pelo tomate e pela maçã, já não sei.

Ainda no terraço do hotel. O Antonin prepara um trabalho com slides (nesta foto e na de baixo) para a exposição final.  Ele e o Voin encontraram estes slides na casa amarela, abandonada, que se vê no final da crónica 9.

Já na galeria da Câmara Municipal de Lom. Fui a pé até lá, desde o hotel, com as minhas pinturas debaixo do braço, entre dois cartões. São cerca de 20 ou 25 minutos a andar. Estive a fazer os últimos preparativos depois do almoço, nomeadamente tentar fixar o pastel de óleo. Cheguei muito encalorada. Hoje é dia 19 de julho e a exposição inaugura amanhã. Vai grande azáfama dentro da galeria. São agora 15h46.

O Dani, galerista, e a Nia, discutem como é que vamos pendurar as pinturas. Recordo, como expliquei noutra crónica, que a galeria dispõe de uns vidros, onde caberiam duas pinturas juntas. No entanto o vidro não cobre na totalidade as duas pinturas, ficaria a faltar cerca de um centímetro, pelo que desistimos logo dessa ideia. Segundo a Nia, adicionalmente, as pinturas já têm muito brilho (usei óleo), pelo que colocar vidro em cima, já seria brilho a mais.

O Svetli desenrasca-se sozinho com as suas. Está a martelar.

A Viktoria e o Yves.

Decidimos colar as pinturas a um cartão, com fita cola, cartão esse que teve de ser cortado à medida. O Dani ajudou-me em praticamente tudo; foi-me passando os cartões, e eu fui colocando a fita-cola no lado de trás das pinturas. Ponderámos em colocar fita-cola dupla, mas eu não me mostrei muito recetiva a isso, porque sei, de experiência própria, que depois para descolar é um sarilho, e o papel corre o risco de rasgar-se.

Antes de colar as pinturas aos cartões, ainda as assinei. Não vá o meu avião cair, no regresso a Lisboa, e depois ninguém sabe quem é que as pintou. Reparem que estou toda picada das melgas. O olho direito já está a inchar. As melgas devem picar com um analgésico, porque no momento a coisa nem se sente muito. Esta noite eu viria a passar mal, com tanta picada. Trouxe pomada de Portugal, irá ajudar.

O papel ainda está engelhado, e depois de estar tudo pendurado, o Dani retirou todos da parede, a meu pedido, e colocámo-los em cima da mesa, colados aos cartões, com um peso em cima, para eles ficarem a endireitar durante a noite. Amanhã será só pendurar, ficou tudo preparado.

O Yves também a tratar do seu trabalho.

O Antonin idem. Está a preparar o projetor de slides e está a explicar-me algo.

O Boyan, que não gosta de fotografias e está a rosnar.

A Dana e o Tobibi.

A Kit, o Antonin, a Katharina e a Kat.
A Katharina Brandl, da Áustria, tem uma história curiosa sobre a sua participação nesta residência artística, e contou-no-la, durante a sua apresentação: foi outra artista austríaca a selecionada, na open call, no entanto surgiu-lhe um imprevisto de última hora; e essa artista (com autorização da Water Tower Art) disse à sua amiga Katharina que esta tinha duas horas para fazer as malas e meter-se num autocarro a caminho da Bulgária, para participar nesta residência, em seu lugar. A Katharina não foi de meias medidas: fez as malas e partiu em duas horas. A Katharina está a fazer uma licenciatura em escultura, na Áustria.

A mulher do Krisko. Não tem nome. Temos que arranjar-lhe um nome e combater este partriarcado de gatos. Ela tem direito à sua individualidade e não ser conhecida apenas como mulher de um macho. Doravante passa a ser a Kriska.
A Kriska teve uma conversa séria comigo, agora. Vêem pelo seu ar sério. Disse-me que eu ando a tirar a fotos a todos, e depois eu não fico nelas. Deu-me instruções.

Decidi voltar atrás e comer um pouco de melancia.
Fui bem ensinada.
E foi o Tobibi quem nos tirou esta foto.


¹ Wikipédia (s.d.). Лом. Página consultada a 30 de agosto de 2023:
https://bg.wikipedia.org/wiki/%D0%9B%D0%BE%D0%BC

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