15 – 9º dia, visita a uma instituição
Há uma cegonha intrusa! A cegonha 1 luta contra a cegonha 2, para manter o seu território!!
Anda à procura do filhote. Ontem não lhe ligaste, senhora gata, agora ainda o procuras?!…
Entretanto, mais tarde, a Nia dir-me-á que a gata acabou por aceitar o filhote. Fizemos uma festa de alegria.
Mas desenganem-se, a história não vai acabar aqui. Não percam os próximos capítulos. Ou crónicas.
A dona do hotel.
RUNA, “As margens (Rio Danúbio)” / “The riversides (Danube)”, 2023. Acrílico, óleo e pastel de óleo sobre papel, 49 x 30 cm (19,3 x 11,8 polegadas)
São 10h11 e eu deixo as pinturas e o Danúbio, e acompanho o Yves a uma visita a um lar de adultos com deficiência mental. O Yves esteve lá na véspera, e estando ligado ao som e música, apresentou algumas músicas aos residentes do lar. Foi uma visita cordial, afinal de contas estas pessoas passam tanto tempo sozinhas, sem visitas, a não ser eventualmente da família. E quando fomos todos tomar um copo, na noite anterior, conversei com o Yves e perguntei-lhe se eu podia ir também. Tivemos que ajustar o transporte. Eu tenho um tendão magoado, no pé, de andar muito a pé, ando a ser tratada em Lisboa, e não convém abusar, como já expliquei noutra crónica. Perguntei se podiam ir buscar-me ao hotel. A carrinha da instituição ia buscar o Yves à sua residência, a cerca de 25 minutos a pé do meu hotel. E sim, o Yves lá conseguiu arranjar tudo. Às 10h apanharam-no a si, e às 10h05 a mim.
De acordo com a apresentação feita pela Water Tower Art Residency:
“Yves-Christian Angelov (Bulgária) é um artista de música experimental, arte performática e literatura. Os seus principais interesses são a gravação de campo, colagem de som (assim como música concreta) e música experimental. O seu trabalho consiste no mapeamento de espaços sonoros e na sua transformação em obras que visam revelar as qualidades sonoras do ambiente urbano, da natureza e das memórias. A sua principal motivação para a candidatura a esta residência foi a oportunidade de trabalhar diretamente num local que permaneceu intocado pelas convenções da arte institucionalizada, bem como pelas peculiaridades socioeconómicas das relações entre as pessoas, organizadas pela manutenção de uma cena musical ativa.”
O Yves está atualmente a fazer um doutoramento na Universidade de Sófia sobre “Dimensões estéticas do ato terrorista no início do século XX: perspetivas literárias”.
Estivemos duas horas aqui, e foi uma manhã muito agradável. Acabei por dançar também, com os residentes. O Yves ia passando música popular búlgara, ou dos Abba, por exemplo, pelo que foi uma festa. Nesta foto, a Mimi, a responsável por esta instituição, perguntou se eu podia ir desenhar com giz no chão, com os residentes. Ora, eu estou sempre pronta para desenhar e fazer riscos.
Um dos residentes escreveu o seu nome, em búlgaro, no chão. E eu tratei de imitá-lo, assinando o meu nome também, no chão.
Depois dois dos residentes foram mostrar-me os animais que têm na quinta.
O Yves e a Mimi.
A capela que existe no interior da quinta.
E uma sala cheia de pássaros, também no interior da instituição.
De regresso ao hotel, hoje almocei com o tão simpático Yves, que foi comigo ao supermercado buscar comida para si também. O Yves não está alojado neste hotel, está com outros artistas numa residência perto. Não cabemos todos neste hotel.
E é bom ter alguém búlgaro comigo, nestas alturas, e que fale inglês, para explicar-me as comidas. Ele pediu esta mistura de legumes, disse-me que tem ovos e queijo, e eu acabei por comprar também. Disse-me que normalmente isto é comido ao pequeno-almoço. É bom.
Por esta altura já só o iogurte é da residência, e sobrou de ontem, que eu não consigo comer um iogurte deste tamanho, gigante, inteiro, à sobremesa. Tudo o resto já foi comprado por mim no supermercado.
Fomos a pé até à galeria de arte, pois eu tinha que ir verificar com o responsável da galeria municipal, o Dani, como é que as minhas pinturas iriam ser penduradas. Hoje é dia 18 de julho, a exposição inaugura no dia 20; já há grande azáfama. Eu tenho 8 pinturas terminadas, até agora. A Nia irá fazer a curadoria, vai decidir quantas serão expostas, e como.
Nesta foto está a música Viktoria Nikolova, também coordenadora da residência. Toca e canta de tal maneira, que nos deixa completamente enfeitiçados.
E a Kat também toca piano maravilhosamente. De acordo com a apresentação feita pela Water Tower Art Residency:
“Kat Pegler (Reino Unido) – Uma talentosa pesquisadora, criativa e artista multidisciplinar que está a conquistar o mundo! Apaixonada por música, sustentabilidade e artes, Kat é uma verdadeira visionária que adora criar trabalhos emocionantes e imaginativos em espaços não convencionais. Seja produzindo experiências imersivas para o público, aproximando as pessoas do património, da arte e do meio ambiente, ou colaborando com áreas inovadoras STEM (“science, technology, engineering and mathematics”), com vista a maximizar o envolvimento, Kat está sempre a ultrapassar os limites e a explorar novas fronteiras.”
E a Kat fez uma improvisação maravilhosa, agora, ao piano. Cada um de nós ia tratando das suas coisas, ao som da sua música.
O músico Boyan Avramov, aqui de Lom, dedicado à música experimental e eletroacústica, o qual se disponibilizou desde cedo para ajudar-me a conhecer Lom, sabendo que eu sou uma artista-viajante, e que iria publicar crónicas no meu website. Efetivamente deu-me várias dicas importantíssimas – de um local mais remoto para eu ir passear (lá chegaremos, nestas crónicas), e posteriormente, já estando eu em Portugal, informações que lhe fui pedindo, nomeadamente de questões históricas, sobre Lom, para escrever estas crónicas.
Os músicos ensaiam, portanto, e eu tento descobrir como é que as minhas pinturas vão ser penduradas, usando os materiais que a galeria disponibiliza. Têm uns vidros, mas não são do tamanho das minhas pinturas. Algumas nem estão ainda totalmente secas.
A pintora Mariana Tantcheva (da Bulgária) já se foi embora da residência, entretanto, e será a Nia a tratar da exposição das suas obras.
A outra pintora de “street art”, a Mariane Mazel (de França) também se foi embora hoje, e o seu mural, no exterior, ficou terminado.
Há outro pintor, o Nikola Cvetanov (da Bulgária) que está a fazer o seu trabalho aqui dentro da galeria, no chão. Não o fotografei, é pena. Ainda me sinto intimidada, por vezes. Fotografo as pessoas com quem lido mais. O Nikola tinha dificuldades com o inglês, fez a sua apresentação em búlgaro, que foi sendo traduzida por outro colega, e pouco falámos.
O Svetli Evgeniev também vai apresentar pinturas, mas ele é aqui de Lom, e tem o seu estúdio, pelo que não trabalhámos juntos no terraço do hotel, onde eu estou.