06 – 3º dia, rotinas artísticas

São 6h13, acabei agora de tomar o pequeno-almoço.

São 6h29. Podem ver, pelo meu ar, que não estou propriamente infeliz, pois não?… 😄 Efetivamente considero-me no paraíso, com um cenário deslumbrante como este. Espera-me um belíssimo dia de pintura até às 4 ou 4h30 da tarde. E então irei à praia.

São 10h17 agora. A Kat Pegler (do Reino Unido, com o vestido às flores) e a Janne Jakobson (da Estónia, com o vestido laranja) foram nadar no Danúbio, e regressaram agora. Ainda me perguntaram se eu queria ir com elas, mas era muito cedo e ainda não está calor suficiente para mim, sou friorenta, pelo que fiquei no terraço a pintar. A Janne tem o vestido molhado, do fato de banho. Esta está inserida no projeto “Music Art Tabor” e parte daqui a pouco de Lom, vai regressar à Estónia. Ela é administradora de arte na Orquestra de Câmara de Tallinn. O projeto “Music Art Tabor” também terminou aqui em Lom e vai continuar noutra localidade da Bulgária, pelo que toda a equipa se vai embora também, ou já foi. Ficamos sozinhos, os residentes da Tower Water Art Residency.

RUNA, “Elas estavam a comer melancia”, 2023. Acrílico e óleo sobre papel, 49 x 30 cm (19,3 x 11,8 polegadas)

Esta foi a segunda pintura que terminei, no decorrer da residência. Tinha que ser, não é verdade?

O gato Krisko veio fazer uma visita ao terraço. Entretanto uma senhora que trabalha no hotel – a Maya – explicou-me que “Krisko” é o nome de um rapper búlgaro famoso, e que lhe deram este nome – ao gato – porque este canta muito. E é verdade, o Krisko tem cá umas cordas vocais, é impossível não o ouvir num raio de muitos metros à volta. Repare-se que esta foto tirei-a com o telemóvel. A máquina fotográfica está em cima da mesa. Tive que ser rápida, porque este cantor não se demora muito, nas visitas.

Pelo que percebi, esta é a mulher do Krisko. Eles têm 4 filhotes, que em breve aparecerão nestas crónicas.

A comida fornecida pela residência artística, aqui já muito desarrumada por todos. Os frios estão num frigorífico no terraço. Em breve mostrá-lo-ei também.

Às 4 da tarde cá estamos na praia. O meu companheiro habitual, desde o primeiro dia, foi o Voin. Por vezes íamos sozinhos, cada um de nós, e mais tarde o outro aparecia. Por vezes apareciam outros elementos da residência também.

Vou fazer a tradução para inglês, para o público estrangeiro:

This image I took from my cell phone and it says at the top “Serious high temperature warning”. It shows the maximum and minimum temperatures from Thursday to Friday of the following week. On Thursday, July 13th, the maximum temperature is 41° Celsius / 105.8° Fahrenheit; and 21°C / 69.8°F minimum temperature. Esta noite tivemos as apresentações formais dos mentores da residência artística.  Nesta foto aplaudimos a artista búlgara Nia Pushkarova. Curadora, pintora e performer, a Nia Pushkarova é a fundadora e a força motriz desta residência artística – “Water Tower Art Fest”, bem como do projeto “Music Art Tabor”. De acordo com o website do primeiro: “Ao participar e colaborar na troca de ideias acredito que a arte pode superar a estagnação da vida política, cultural e social dos dias de hoje. Ao fazer isto, acredito que podemos ajudar a mudar a mentalidade local para melhor, superando preconceitos, trazendo tolerância para com o “outro”, incluindo a interação social através das artes.” A artista Wai Kit Lam. Copio a apresentação feita pela Water Tower Art no seu Facebook: “Wai Kit Lam é uma artista talentosa que nasceu em Hong Kong e agora vive e trabalha em Londres e Hong Kong. Com uma formação educacional impressionante, que inclui um MFA da Universidade Chinesa de Hong Kong, e um BA (Hons) em Belas Artes da Goldsmiths, Universidade de Londres, Wai Kit Lam é uma verdadeira mestra no seu ofício. O seu trabalho abrange uma variedade de expressões artísticas, incluindo fotografia, videoarte, texto, som e instalação. Além das suas atividades artísticas, Wai Kit Lam também é fundadora do Studio Collective – Fine Art Photography Consultation.” Voin de Voin. De acordo com a apresentação feita pela Tower Art Fest: “Conheça Voin de Voin, um talentoso artista de Sófia que administra um espaço de arte independente chamado Æther, realiza a curadoria da SAW Sofia Art Week, e estabeleceu uma plataforma para educação alternativa chamada School of Kindness. O seu trabalho abrange vários campos das artes visuais, da performance à instalação, e incorpora pesquisas em rituais coletivos, estudos de género e muito mais. Voin celebra a arte como ativismo e tem mostrado o seu trabalho em todo o mundo. Descubra o cativante e desafiador mundo de Voin de Voin no Water Tower Art Festival.”
Sim, eu tenho estado a descobrir, posso dizê-lo. Cativante e desafiador são mesmo os termos corretos. E adicionalmente tem uma paciência de santo para as mil fotografias que eu quero tirar (a ele e a tudo). Efetivamente estamos os dois sempre prontos para tirar fotos. Começando da esquerda: Voin de Voin (Bulgária) / Nia Pushkarova (Bulgária) / eu (Portugal) / Kat Pegler (Reino Unido) / Antonin Bouchy (França e Bulgária) / Mariane Mazel, aka Demoiselle MM (França) / Svetli Evgeniev (Bulgária) / escondido está o Nikola Cvetanov (Bulgária) / Yves-Christian Angelov (Bulgária) / Katharina Brandl (Áustria). No canto direito agora, depois do Svetli Evgeniev vêem-se a Viktoria Nikolova (Bulgária) e a seguir o Nikola Cvetanov. Mas faltam aqui alguns residentes, nomeadamente o músico Boyan Avramov (Bulgária, aqui mesmo de Lom), que foi um dos mentores; a pintora Mariana Tantcheva (Bulgária), que viria a chegar no dia seguinte; faltam também os artistas Dana Ferrari & Tobibi Bienz (Argentina e Chile, respetivamente). E ainda um outro mentor, Hristo Panchev (Bulgária). Todos irão aparecer mais à frente, noutras fotos e locais. Em pé encontra-se um dos mentores, que nasceu e vive aqui em Lom: Svetli Evgeniev, formado na Academia Nacional de Artes de Sófia. De acordo com a apresentação feita pela Water Tower Art: “Descubra o mundo de Svetli Evgeniev, um artista multidisciplinar cuja matéria-prima é a cerâmica. Com a sua paixão pela natureza e materiais orgânicos, Svetli cria obras contemporâneas que exploram conceitos complexos de existência, como a relação entre o ser humano e o meio ambiente, o impacto das tecnologias modernas e a necessidade de sustentabilidade ecológica. Através da sua arte, Svetli procura encontrar um equilíbrio entre a estética visual e o conceito subjacente à sua experimentação. Com exposições internacionais e colaborações com artistas de todo o mundo, o trabalho de Svetli é instigante e inspirador. Experimente a beleza das suas criações simples, mas poderosas, no workshop de cerâmica.” Depois das apresentações, a residência artística ofereceu o jantar, que foi gentilmente preparado pelo Antonin, nesta foto. Eram onze da noite quando eles ficaram nestas lides do carvão, e eu despedi-me de todos e retirei-me. Recordemos que às seis da manhã, hoje, eu já estava a pintar; consigo lá estar acordada a esta hora e comer carne tão tarde. Estou impaciente por acordar outra vez e ir pintar outra vez. Parece que o mundo vai acabar. A Nia, também gentilmente, guardou-me um pratinho de salsichas no frigorífico do terraço, que iria ser o meu almoço, ao meio dia, no dia seguinte, já depois de eu ter satisfeito o vício. Pintar, entenda-se.

Nesta foto já se vê o músico Boyan Avramov, de camisa azul.

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