197 – Navegando pelos Canais & os Dois Grandes Épicos Indianos

Existem dois grandes épicos sânscritos, na Índia antiga:
O Mahabharata, composto por vários livros, um dos quais o Bhagavad Gita, que, como referido na crónica 193, conta a conversação entre Krishna, (o oitavo avatar do deus Vishnu), e o seu mais poderoso discípulo, o herói Arjuna, o arqueiro supremo, antes da batalha final em Kurukshetra.
E o Ramaiana, que, conforme referido na crónica 45, consiste em 24.000 versos que contam a história de um príncipe – Rama (o sétimo avatar do deus Vishnu) cuja esposa Sita é sequestrada pelo demónio Ravana.

O Mahabharata é constituído por cem mil versos e longas passagens em prosa, com 1,8 milhões de palavras no total, o que o torna no maior poema épico no mundo. É dez vezes maior do que a Ilíada e a Odisseia juntas, cinco vezes maior do que a Divina Comédia de Dante, e quatro vezes maior do que o Ramaiana. A palavra “Mahabharata” pode ser traduzida literalmente como “a grande história da dinastia Bharat”. Bharat, ainda não tinha referido nestas crónicas, significa “Índia”, pelo que o nome oficial para “república da Índia”, em hindi, é “Bharatiya ganarajya”.
A história central do Mahabharata é a luta pelo trono de Hastinapura, o reino governado pelo clã Kuru. Dois ramos da mesma família participam nesta luta: os Kaurava e os Pandava, cada qual reunindo reinos aliados. A batalha final travou-se em Kurukshetra, onde a família dos Pandavas (a quem pertencia Krishna) saíram vitoriosos. Esta luta provoca conflitos complexos entre parentes e amigos, e nela as lealdades entre famílias e o respetivo dever tomam precedência sobre o que é certo; bem como o oposto.
Mas o que o Mahabharata retrata no fundo é a descoberta e explicação do “eu” e do papel do “eu” face à sociedade e ao mundo. Retrata os quatro objetivos humanos¹:
Dharma (o dever, a moral e a retidão);
Artha (o propósito de fama, riqueza e elevado estatuto social – todos ligados ao desenvolvimento económico);
Kama (prazer físico ou emocional, com as atividades sexuais codificadas no célebre kamasutra; além dos prazeres como os do paladar, visão, audição e tato. Aqui entra a gastronomia e a música, por exemplo);
E moksha (libertação, conceito este ligado às sucessivas reencarnações até à libertação final. No jainismo, por exemplo (ver crónica 38) moksha e nirvana são a mesma coisa.
São definidos assim os caminhos do karma. O karma pode ser definido como a relação de causa e efeito de uma determinada ação. Se é praticado o bem, a consequência será o bem. Se é praticado o mal, a consequência será o mal. Cada qual, na sua existência, recolhe aquilo que semeia nas suas vidas passadas e, ao mesmo tempo, está a semear aquilo que recolherá na sua próxima existência. Quando uma pessoa semeia desgraças, provocando danos aos demais, na realidade isso mesmo virá a recolher. Essa é a lei do karma, no hinduísmo.
Não há certezas sobre quando o Mahabharata foi escrito. Sabe-se sim que foi sendo escrito ao longo de muitos anos. Segundo Subhash Kak, estudioso dos Vedas e com uma série de livros publicados, o épico começou a ser escrito no ano 3.000 A.C.²


¹ Wikipédia (s.d.), “Mahabharata”. Página consultada em 7 de Março de 2010, <http://en.wikipedia.org/wiki/Mahabarata>.

² Kak, Subhash (s.d.), “The Mahabharata and the Sindhu-Sarasvati Tradition”.  Página consultada em 7 de Março de 2010, <http://www.ece.lsu.edu/kak/MahabharataII.pdf>.

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