191 – Pelas Ruas de Kerala & Deus Shiva
Já Shiva é o deus destruidor, ou também chamado de transformador, pois destrói para construir de novo. Shiva destrói os velhos hábitos com a sua arma, um tridente. Recordemos que é o pai de Ganesh, e que este possui um tridente desenhado na testa. À volta do pescoço Shiva está uma serpente, a “Naja”, a mais mortal de todas. Usar uma serpente em volta da cintura ou do pescoço significa que Shiva dominou a morte e tornou-se imortal. Shiva monta um boi branco chamado Nandi (“alegre”) e senta-se em cima de uma pele de tigre, este representando a mente. A primeira mulher de Shiva foi Sati, a segunda foi Parvati, a mãe de Ganesh.
Conforme visto na crónica 171, o deus Shiva por vezes é representado não com a aparência de um ser humano, mas de um objecto chamado “lingam”, um cilindro, um símbolo fálico. O lingam representa o pénis, instrumento da criação e da força vital, a energia masculina que está presente na origem do universo. Está associado ao poder criador de Shiva. É comum, nos templos, pendurar-se sobre o lingam uma vasilha com um pequeno orifício no fundo. A água é derramada constantemente sobre ele numa forma de reverência. A base do lingam representa yoni, a vagina, mostrando que a criação se dá com a união do masculino e feminino.
Outra lenda sobre as maldições lançadas a Brahma que supostamente impedem este de ser adorado na terra está ligada a este lingam: conta a história que Vishnu e Brahma se aproximaram de um enorme lingam, e quiseram descobrir onde este começava e terminava. Tomando a forma de um javali, Vishnu foi para baixo e começou a escavar a terra, ao passo que Brahma tomou a forma de um cisne e voou para cima. Todavia nenhum deles conseguiu chegar ao destino. Vishnu, satisfeito, chegou ao pé de Shiva e inclinou-se perante si, em reverência. Brahma não desistiu tão facilmente. À medida em que subia, Brahma avistou uma flor que era querida de Shiva, Kaitha. O seu ego forçou-o a pedir a Kaitha que prestasse falso testemunho sobre Brahma ter descoberto o princípio de Shiva. Mas quando Brahma contou a sua história, Shiva, o-que-tudo-sabe, ficou irado com o ego de Brahma, tendo-o amaldiçoado para que nunca mais fosse adorado por ninguém¹.
Façamos uma breve pausa neste relativamente tranquilo tráfico, destas ruas de Kerala, para falar do trânsito em geral, na Índia, que eu ainda não comentei:
Não são necessários semáforos na Índia
Era assim mesmo.
E nunca assisti a nenhum acidente.
Conduzir ali não é para qualquer pessoa, exige firmeza, persistência e nervos de ferro. Quem esperar ou hesitar não passa.
Reparem como são os autocarros os mais respeitados não só pelo tamanho, mas como tive oportunidade de contar numa crónica, porque não têm qualquer receio de levar uma pancada, entre as mil e uma amolgadelas que já têm. E as motas vão agarradas a eles.
https://www.youtube.com/watch?v=7aSkJCUDAes
Lingam
Shiva
¹ Wikipédia (s.d.), “Brahma”. Página consultada a 27 de fevereiro de 2010, <http://en.wikipedia.org/wiki/Brahma>.