179 – Lago da Reserva Natural de Periyar
Foi só pousar as malas no quarto e sair para um passeio de barco. Não há tempo para descansos, nesta vida de viajante. De qualquer forma o passeio revelou-se bastante tranquilo, na Reserva Natural de Periyar. Esta é uma das dezasseis reservas de tigres existentes na Índia. Há cerca de um século atrás, um engenheiro britânico traçou um plano para construir uma represa no rio Periyar, a qual veio a ser construída em 1895. As florestas ao redor ficaram sob a proteção do Marajá de Travancore. Estas e o reservatório de 55 mil metros quadrados fornecem proteção a animais como tigres, elefantes e búfalos.
Recordemos que estamos na época das férias escolares, aqui na Índia, pelo que era uma multidão a fazer este passeio. Uma série de barcos encheram-se (eu estava sozinha, sem guia, e podia entrar no que quisesse, pelo que fui para um de dois andares) e só havia mais dois turistas brancos, talvez alemães. Foi fácil avistá-los, grandes, brancos.
E enquanto navego lago afora, regressemos ao deus Ganesh. Este tema dá pano para mangas, existindo histórias encantadoras sobre a sua mitologia. Porque tem o deus Ganesh cabeça de elefante?
Ganesh é filho dos deuses Shiva e Parvathi. É meio irmão, portanto, do deus-macaco Hanuman, abordado na crónica 45. E tal como existe uma explicação para Hanuman ter cabeça de macaco (ver essa crónica 45), também existe uma explicação para Ganesh ter cabeça de elefante. A verdade seja dita que as histórias não são conclusivas, e os estudiosos não se entendem sobre a matéria. Alguns mitos dizem que Ganesh é filho apenas de Shiva, outros que é filho apenas de Parvathi, outros dizem que apareceu misteriosamente a ambos, Shiva e Parvathi, sendo que a versão mais corrente é a seguinte:
Uma vez, quando a sua mãe Parvathi queria tomar banho, não havia guardas na área para protegê-la de alguém que pudesse entrar na sala. Então ela criou um ídolo na forma de um garoto, feito da pasta que havia preparado para lavar o corpo. A deusa infundiu vida no boneco, e então Ganesh nasceu. Parvathi ordenou a Ganesh que não permitisse que ninguém entrasse em casa e Ganesh obedientemente seguiu as ordens da mãe. Daí a pouco Shiva regressou da floresta e tentou entrar em casa. Ganesh impediu-o. Shiva enfureceu-se com essa criança estranha que o desafiava. Disse a Ganesh que era o marido de Parvathi e que ele podia deixá-lo entrar. Mas Ganesh não obedecia a ninguém que não fosse a sua querida mãe. Shiva perdeu a paciência e teve uma feroz batalha com Ganesh. No fim, ele decepou a cabeça de Ganesh com o seu trishula (tridente). Quando Parvathi saiu e viu o corpo sem vida do seu filho, ela ficou triste e enraiveceu-se, ordenando que Shiva devolvesse a vida de Ganesh imediatamente. Mas, infortunadamente, o trishula de Shiva foi tão poderoso que atirou a cabeça de Ganesh para muito longe, e todas as tentativas para encontrá-la foram em vão. Como último recurso, Shiva foi pedir ajuda a Brahma que sugeriu que ele substituísse a cabeça de Ganesh com o primeiro ser vivo que aparecesse no seu caminho com a cabeça na direção norte. Shiva então mandou o seu exército celestial (Gana) encontrar e tomar a cabeça de qualquer criatura que encontrassem dormindo na direção norte. Eles encontraram um elefante que dormia assim e após a sua morte, tomaram a sua cabeça e colocaram-na no corpo de Ganesh, trazendo-o de volta à vida. Shiva tornou-o então no líder (pati) das suas tropas (Gana) – daí o nome pelo qual Ganesh também é conhecido: Ganapati.
Outra história conta que quando Ganesh nasceu, a sua mãe Parvathi mostrou-o aos outros deuses. O deus Shani hesitou em olhar, pois é dito que o seu olhar é diabólico e prejudicial. Porém Parvati insistiu que ele olhasse para o bebé. Infelizmente o deus Shani olhou para ele, causando que a cabeça do bebé ardesse, transformando-se em cinzas. O deus Vishnu acorreu e substituíu a cabeça em falta pela de um elefante.
Esta é uma pintura de Shiva e Parvathi dando banho ao pequeno deus Ganesh (Miniatura Kangra, século XVIII. Museu Allahbad, Nova Delhi).
Imagem retirada de Wilkipédia.
As quatro crónicas sobre Ganesh foram escritas com base nestas fontes:
“Ganesh, God of India. Symbol and Presence”. Página consultada em 14 de Fevereiro de 2010
<http://ganapati.perso.neuf.fr/anglais/indexe.html>.
Wikipédia (s.d), “Ganexa”. Página consultada em 14 de Fevereiro de 2010,
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Ganexa>.
Wikipédia (s.d), “Ganesha”. Página consultada em 15 de Fevereiro de 2010,
<http://en.wikipedia.org/wiki/Ganesha>.
Das, Subhamoy, “Ganesha: Lord of Success”. About Hinduism (s.d). Página consultada em 15 de Fevereiro de 2010,
<http://hinduism.about.com/od/lordganesha/a/ganesha.htm>.