168 – Bisbilhotemos as Suas Casas

(Cont.)
Em toda a Índia, quando uma desgraça acontece as pessoas queimam malaguetas para afastar o mau-olhado. O gás cheirava a malaguetas queimadas e as pessoas disseram umas às outras que devia ser um poderoso mau-olhado que estava a ser expulso, porque o cheiro era muito intenso.
Fugindo ao gás, os habitantes de Bhopal agarraram avidamente os filhos. Alguns bebés caíram, respirando com dificuldade, e os pais tiveram de escolher quais os que levariam aos ombros. Uma imagem continua a surgir nos seus sonhos: no meio do tumulto, milhares de pessoas tropeçam nos corpos dos filhos.
Em 2001 a multinacional que fabrica o napalm casou com a maldição de Bhopal: a Dow Chemical comprou a Union Carbide por 7,8 mil milhões de euros mas distanciou-se imediatamente da catástrofe. Se a Union Carbide estava em falta, tanto pior, porque tinha deixado de existir.

370 euros de indemnização
Em 2002, a Dow pôs de parte 1,48 mil milhões de euros para cobrir potenciais riscos derivados da produção americana de amianto pela Union Carbide. Em comparação, o total das indemnizações para Bhopal foi de 316 milhões de euros. As famílias dos mortos receberam em média 1.480 euros; os feridos receberam 370 euros; uma porta voz da empresa explicou que essa quantia até era “bastante boa para um indiano”. Tal como um membro da Câmara dos Representantes, Frank Pallone, de Nova Jersey, observou em 2006, “Em Bhopal, algumas das pessoas mais pobres do mundo estão a ser maltratadas por uma das empresas mais ricas do mundo”.
A Union Carbide e a Dow puderam furtar-se às suas responsabilidades devido às estruturas jurídicas internacionais que protegem as multinacionais. A Union Carbide vendeu a sua filial indiana e abandonou a Índia. Warren Anderson, diretor-geral da Union Carbide na altura da fuga de gás, vive um exílio luxuoso nos Hamptons, embora exista um mandato de captura internacional em seu nome por homicídio por negligência. O Governo indiano ainda terá de dar seguimento a um pedido de extradição. Imagine-se se um executivo indiano tivesse fugido à liberdade sob fiança por causar uma tragédia industrial que matasse dezenas de milhares de americanos. Que hipóteses teria de se bronzear ao sol de Goa?¹

(Continua).

Este já é o meu almoço, no hotel em Munnar. Ao jantar era buffet, ao almoço era a la carte. Escolhi chopsuey de vegetais (toda contente pensando que ia ser idêntico à comida chinesa – mas não, não gostei nada disto e ficou tudo no prato…) e bife de búfalo com cogumelos e vegetais. O bife de búfalo, pelo menos o que veio naquela tijela, não é nada famoso. Tinha muitas gorduras e eu sou como as crianças, se tem gordura já não como. Ou então tem de ser tudo muito bem tirado, e assim quase que não sobrou nada. Fome, portanto. Toca a atacar nos doces de sobremesa: pudim flan e gulab jamun (dois bolinhos de massa cozidos servidos em xarope de açúcar – ver foto na crónica 121).


¹ Mehta, Suketa (2009), “19 mil mortos – 25 anos depois, a  contaminação continua”. Expresso, 12 de Dezembro, p. 22 do Primeiro Caderno.

<< >>