147 – Uma Maravilhosa Massagem Ayurveda

A cidade de Cochim é um mimo. Parece uma cidade de brincar, pequenina, colorida e limpa, de ruas estreitas e sem trânsito. Após hora e meia entretida a passear de bicicleta – eu e a ovelha, recolhemo-nos ao hotel. Sim, desde que cheguei a Cochim que passei a andar com uma ovelha. Ainda não tinha falado dela? A humidade é tão grande que o meu cabelo transformou-se numa criatura viva – passei a andar com uma ovelha em cima da cabeça, independente de mim, com vida e vontade próprias.
É uma da tarde. E não há almoço para ninguém, conforme se pôde ver na crónica anterior. Ou melhor, houve almoço sim, o já tradicional almoço de bananas, iogurte e bolachas. Fiz uma papa como se faz aos bebés…
É hora de repouso também. Esta vida agitada já dura há 22 dias – é verdade, vou hoje no 22º dia de viagem.
Vou descansar. Vou dormir. Até porque sem uma alimentação mais consistente começo a sentir alguma debilidade. E muita fome. É o quarto dia em que estou a tomar o medicamento, amanhã acabou-se, já é altura de o organismo começar a aceitar uma chicken tikka masala…

E nada melhor para despertar, às 4 da tarde, do que ir direta para uma massagem.
Desde que cheguei à Índia que vou vendo aqui e ali publicidade às massagens Ayurveda, massagens e não só. Ayurveda é o nome dado ao conhecimento médico desenvolvido na Índia cerca de 2.000 A.C., durante o período védico, o que faz dela um dos mais antigos sistemas medicinais da humanidade. A palavra Ayurveda vem do sânscrito: ciência (veda) e vida (ayur), e continua a ser a medicina oficial na Índia.
Sim, é a altura certa para conhecer a medicina Ayurveda, agora sob a forma de uma massagem.
Há que descansar. Relaxar.
Inscrevi-me na massagem antes de adormecer, e foi meio ensonada que depois me dirigi à pequena divisão dentro do hotel, uma pequena casinha à parte. Fui recebida por um médico que me perguntou se eu sofria de algum mal, se eu queria aplicar a massagem a alguma maleita. Sorri e perguntei-lhe, Há massagens para crises gástricas?… O médico riu-se e respondeu que não. Então eu sou uma criança saudável, pode ser uma massagem normal…
Também não tinha percebido até então (mas irei perceber…) porque insistiam eles – eu já tinha andado a sondar estas massagens no Rajastão, apesar de só agora me ter rendido a elas – porque insistiam eles em explicar que as mulheres faziam massagens às mulheres, e os homens faziam massagens aos homens. Bom, eu não perguntei nada, no meu país há massagistas homens e mulheres e ninguém liga a isso… Mas pronto, aqui na Índia são mais tradicionais.

Depois percebi.
Percebi quando fui entregue a uma massagista – uma mulher – que me deu instruções para me despir toda. Toda? Cuecas?… Soutien?…
Sim.
Pronto…
E ali fiquei eu, completamente nua.
Por esta é que eu não esperava.
Então estendi-me na cama que se vê na foto abaixo e fui esfregada de alto a baixo com um óleo quente. Até dentro dos ouvidos era colocado o óleo.. Dentro dos ouvidos!… Vá lá, nem sei como não foi para outras zonas mais íntimas… Os movimentos são rápidos – em dois segundos talvez, as suas mãos percorriam desde a ponta dos pés até à ponta das mãos, que estavam colocadas acima da cabeça. Parece difícil, mas é verdade, eram movimentos extremamente rápidos. E o couro cabeludo também não escapou: levou igualmente um banho de óleo, conforme se apercebe na segunda foto abaixo.

Esta foto, apesar de aparecer aqui em primeiro lugar, foi tirada já depois da massagem. Troquei a sua ordem propositadamente, para terem uma melhor noção. Reparem que a massagista já tem o avental sujo de óleo e há toalhas espalhadas no chão. A minha massagista está aqui com um ar um pouco carrancudo, mas desenganem-se: foi muito simpática e sempre sorridente. Acho que eu já estava é a maçá-la com tantas fotos… (Agora era a vez dela de ficar quietinha!!).

Depois fui para um banho turco – tive de enfiar-me dentro desta caixa. Puseram-me toalhas à volta do pescoço para o vapor não sair, e ali fiquei uns minutos.
Isto sabe bem, de facto…
Mas ainda não acabou.
Agora é altura de tomar banho. E não sou eu que trato do banho – a saga continua – é a massagista que me dá banho. Agora sou esfregada com uma pasta esverdeada feita de relva e lentilhas (e cheirava mesmo a relva) e um shampoo para o cabelo. Eu quietinha, nuazinha, obediente… No que eu me vim meter…
Depois tirou-me toda aquela mistela de cima com um chuveiro.
Sequei-me (correção – ela secou-me!…), vesti-me (agora sim, voltei a tomar as rédeas…) e é com o ar tranquilo e relaxado da foto abaixo que saí daqui direta para um passeio de barco. Durou uma hora e um quarto, toda esta operação.

No dia seguinte ao almoço aventurei-me com alimentos mais consistentes. E a partir de então começou a minha recuperação total.
Maravilha. Fez bem o descanso, a massagem Ayurveda, e o tranquilo passeio de barco ao pôr do sol.
A massagem que tive foi a “Abhyamgam”, cuja descrição no panfleto que me deram reza assim:
O ser humano é a combinação perfeita entre corpo, mente e alma. O corpo está ligado à mente através dos cinco sentidos. Fazendo a abhyamgam, a massagem de corpo inteiro, os vários tecidos do corpo são oleados e lubrificados tornando a pele sensível, suave, brilhante, e evitando o seu cansaço e desidratação. Isto é feito com óleos medicados, preparados de acordo com os antigos textos ayurvédicos. O óleo usado para a cabeça é diferente do usado no corpo. Na abhyamgam, apesar de ser dada importância ao ato da massagem, na realidade é a ação dos óleos medicamentados que tem valor terapêutico e uma importância crucial.

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