148 – Parto de Cochim

Voltemos aos call centers indianos e fiquemos com uma notícia da CBS:
Os filmes americanos fazem parte do treino de um agente para parecer um verdadeiro americano. Lavanya Prabhu é uma instrutora que guia os jovens indianos através do labirinto do inglês americano. E ela diz que é capaz de perceber alguns dos típicos sotaques americanos enquanto ensina os seus estudantes.
“Bom, temos Brooklyn. ‘You walk the walk and you talk the talk.’. E temos os sulistas. ‘Oh hello, there. What can I do for you today,'” diz Prabhu, que passa a maior parte do seu tempo a des-indianizar os seus compatriotas.
Mas é difícil entrar. De facto, Prabhu diz que aceitam aproximadamente cinco candidatos em cada 100. Os empregados dos call centers ganham $3,000 a $5,000 por ano, numa nação onde o rendimento per capita é menos de 500 dólares. Os benefícios incluem transporte privado de e para o trabalho, mais o paraíso absoluto de um local de trabalho com ar condicionado.
Existem poucos aspetos da nossa vida telefónica que não acabem mais cedo ou mais tarde na Índia – desde alguém a falar sobre um novo cartão de crédito, passando pela tentativa de devolução do maravilhoso presente da sogra, até à garantia de que a fatura seja paga. A cobrança de dívidas é, como sempre foi, uma atividade em crescimento.
Arjun Raina, um ator shakespeariano, ajuda os cobradores de dívidas a persuadirem, desempenhando um papel. “Há também a hierarquia dos cobradores de dívidas. Há o doce e gentil da primeira chamada que diz “Apenas para o lembrar”, certo? E então os mais duros entram em cena, e estes levam-na bem porque, por exemplo, muitos homens não têm problemas em ser agressivos, certo? O sotaque não interessa”, diz Raina. “Está a ver, uma vez que estou a ser agressivo consigo, não preciso de ser educado e elegante. Posso ser duro consigo, certo?”
Partha Iyengar, um analista na Índia para a Gartner, uma empresa americana de investigação, afirma que este é talvez o melhor exemplo da globalização.
Algumas fontes afirmam que toda esta revolução de outsourcing, se lhe podemos chamar assim, será um dos fatores chave que levará a Índia de encontro a um status de economia desenvolvida.¹

Aquele homem de camisa às riscas é do Dubai. Andavam muitos turistas a passear para cá e para lá, e este meteu conversa comigo, estava eu parada na bicicleta. Contei-lhe que estive no aeroporto de Abu Dhabi, em trânsito para a Austrália, e que é o mais fascinante aeroporto que vi em todas as minhas viagens.

Este rapaz teve um tetravô português, contou-me. E queria que eu o trouxesse para Portugal… Trabalhava naquela loja de “International Calls”, e senti uma certa cumplicidade com ele por ter também uma ovelha em cima da cabeça. A minha agora está domada, está com os óleos da massagem Ayurveda.

Vista do meu quarto, no hotel. Com uma piscina verde que não cheguei a usar – por falta de tempo e sobretudo porque apenas gosto de piscinas azuis 😛

Talho e peixaria.

Mais umas bananinhas minúsculas para o caminho. Serviam-nas sempre assim, embrulhadas em papel e com uma corda ou um elástico, não vá alguma fugir do cacho!…

Repare-se em algo muito importante: não há crianças ou adultos a pedir nas ruas. A miséria crassa do Rajastão acabou em Kerala. Com certeza que continua a haver gente a pedir, em qualquer país há mendigos, e ainda mais na pobreza extrema da Índia, mas aqui no sul as coisas são nitidamente diferentes do norte.


¹ Leung, Rebecca (2004), “Out Of India”, CBS News.com, 1 de Agosto. Página consultada em 17 de Janeiro de 2010,
<https://www.cbsnews.com/news/out-of-india-28-07-2004/>

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