134 – No Dia do Taj Mahal… Adoeci

Não podia escapar, não é verdade?… Um mês inteiro com comidas exóticas… De qualquer forma o médico que me assistiu no hotel – teve de ir um médico ao meu quarto, porque eu mal conseguia levantar-me – disse-me que podia ser também uma insolação. Nunca chegámos a descobrir o motivo. Será que foi de eu comer o frango assado à mão? Mas eu lavei as mãos antes. E não me parece que o frango assado com as batatas fritas me fizessem mal. Terá sido uma insolação em Fatehpur Sikri? É plausível, sim. Não usei chapéu. Fosse como fosse, às 6 da tarde da véspera comecei a sentir-me mal. Saí da piscina e já não consegui fazer mais nada. Caí na cama. Nem me despi, muito menos jantei e passei a noite com febre e diarreia. Completamente prostrada. Nem quero lembrar-me do que passei nessa noite. Levantar-me para ir à casa de banho era uma operação extremamente delicada. Eu quase delirava com febre, o quarto e a mobília rodopiavam a toda a velocidade. Às seis da manhã é suposto estar no Taj Mahal, pelo que planeava levantar-me às 5. Qual levantar. Nem banho ainda consegui tomar, depois da piscina. Estava completamente prostrada, sem quaisquer forças. Mesmo assim fui muito lentamente pelos corredores fora, que me pareceram intermináveis; estava a ver que caía redonda no chão – já estou muito desidratada – até chegar junto do guia que me iria acompanhar, bem como do Kailash. A custo subi para o banco da frente e disse-lhes, Levem-me ao hospital. Não quiseram levar-me ao hospital, não percebi nada, ao que parece era muito cedo e ainda não havia médicos. Então não há médicos de urgência? Façam como quiserem, eu preciso de ser vista por um médico e urgentemente. (Não pensem porém que eu disse estas palavras com esta pujança toda – quais palavras, qual quê, eu simplesmente fiquei encostada no banco, de olhos fechados, sem conseguir fazer mais nada – o que é capaz de ter sido mais elucidativo do que falar…) Então optou-se por chamar um médico ao hotel. Arrastei-me novamente pelos corredores fora até à minha bem-fadada cama. Com umas tonturas enormes. O quarto anda todo à roda. Estou com febres altas. Isto – seja o que for – bateu mesmo forte. Não me digam que vou morrer antes de ver o Taj Mahal. Que ingrato, ao menos deixem-me ver o Taj Mahal, vim de tão longe…

Às 7 e um quarto o médico bateu à porta do quarto. Tem de esperar um pouco, senhor doutor, porque levantar-me da cama e chegar aí à porta é uma tarefa hercúlea e arrisco-me a ficar pelo caminho. O médico teria uns cinquenta anos, era magro e alto. Era o Dr. Prateek Mathur. Muito elegante. É o médico indiano que assiste os hóspedes deste hotel de cinco estrelas. Ainda bem que estou num hotel de cinco estrelas, tenho todos os confortos possíveis. Olhem se estivesse na noite do camping no deserto. Era impossível, claro, teriam de deitar-me na carroça e recambiar-me de volta à vila, onde ao menos havia lá o médico.
Eu tinha comigo uma série de medicamentos receitados pelo Instituto de Medicina Tropical, na consulta do viajante, bem como outros tantos que já conhecia das viagens anteriores. Pelo que tinha tomado uns comprimidos para a diarreia. O médico olhou para o frasco destes comprimidos, tentou perceber as palavras em português, e identificou de facto o medicamento. Isto não serve aqui na Índia, disse-me ele. Já reparei, senhor doutor… (Também não pensem que dei esta resposta, mas qual resposta, eu nem consegui estar sentada para recebê-lo, fiquei estendida na cama e ele sentado numa poltrona aos pés dela. Como é possível eu andar a nadar na piscina toda contente, e pouco tempo depois nem conseguir levantar-me…) Então o meu amigo médico, o meu salvador, que lá conseguiu erguer-me e apontar-me o caminho do Taj Mahal, deu-me uma placa com 10 milagrosos comprimidos. Daqueles que fazem efeito na Índia e pelos vistos até levantam um boi se for preciso. Um tal de Floxip-500. Pouco depois estava a pé e a tomar o pequeno-almoço. Senhor doutor, se calhar 250 já seria suficiente… Ainda me deu outros comprimidos para a febre, no caso desta se manter, mas não foram necessários. Fiquei curada. Bom, e aí estou eu, numa das fotos abaixo, até me custa a acreditar no sorriso que apresento. Era então uma da tarde. Consegui tomar banho, mudei de roupa, consegui até comer antes de ir. Queques de chocolate, bolos e bananas e tudo o que possa fortalecer-me. Deu-se um milagre com um simples comprimido. Iria tomá-los durante cinco dias – de doze em doze horas, religiosamente. Taj Mahal, aí vou eu, pensavas que te tinhas visto livre de mim?… Não é assim tão fácil.

O guia que me acompanhou nesta visita. O bilhete de entrada para turistas custa 750 rupias (cerca de 11,5 €), o mais caro de todos os monumentos que visitei nesta viagem. Para os indianos é 20. A entrada é livre para crianças com idade inferior a 15 anos, em ambos. Um valente estímulo à população indiana, portanto.

Esta torre é direita, não se deixem enganar pela minha desgraçada foto. É mesmo das câmeras fotográficas; ainda vivemos na época das cavernas, nunca mais inventam lentes e câmeras como deve ser. (Também a televisão era curva, antigamente, e impossível de resolver!)

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