122 – Instrumentos Astronómicos em Jantar Mantar

Com a ajuda de Jayanti, que trabalhava para o Indian Council for Child Welfare em Usilampatti, foquei-me na vila de Alligundam. Apesar do objetivo do ICCW ser a reunião de estatísticas, as mulheres que nele trabalhavam também tentavam impedir o infanticídio convencendo as futuras mães a entregar as crianças nos hospitais, onde havia a chance de salvá-las se fossem raparigas. O ICCW também possuía um pequeno orfanato, com berços para bebés não desejados. Foi o famoso esquema de “berços de bebés” iniciado pelo então chefe de governo J Jayalalithaa, o qual apelou às mães para deixarem os bebés nos berçários em vez de os matarem. O esquema, todavia, não gerou muita resposta. Num ano, apenas sete bebés do sexo feminino foram deixados no berçário, ao passo que 700 “desapareceram” rapidamente depois de nascerem.
O Jayanti descreveu as situações hostis que a sua equipa sofria diariamente nas vilas. As comunidades de Thevar e Kallar, centradas no homem, mostravam-se rancorosas com estas pottachinga (termo depreciativo para mulheres) que vinham e corrompiam as suas mulheres com ideias do diabo.
A caminho de Alligundam, o Jayanti contou-me de duas colegas suas que, apenas uns dias antes, tinham mantido uma vigilância apertada sobre Lakshmi, uma mulher que estava prestes a dar à luz a sua terceira criança. Apesar de Lakshmi estar no grupo de alto risco porque já tinha tido duas raparigas, recusou-se a ir ao hospital ter o parto. As duas assistentes sociais que ficaram à sua porta esperando que a criança nascesse, tiveram de suportar os escárnios e os nomes que lhes chamaram durante algumas horas. Mas quando dois homens apareceram ameaçadoramente com os seus típicos aruvaals (machados), as jovens mulheres ficaram intimidadas e foram-se embora. Quando voltaram, a filha de Lakshmi já tinha nascido, sido morta e enterrada. Eles colocaram até uma pedra no local de enterro para evitar que fosse detetado. As assistentes sociais não se atreveram a perguntar nada.

Tradicionalmente, as meninas não desejadas são alimentadas com leite misturado com yerakkam paal ou casca de arroz, assim que nascem. O método da casca é mais cruel: corta a sensível garganta com as suas pontas afiadas, à medida em que desce por ela. As famílias mais “modernas” usam pesticidas ou comprimidos para dormir. Por vezes sufocam simplesmente a criança com uma almofada.
Alligundam despertou a atenção de muitas formas. As famílias ali eram agressivamente protetoras do seu direito de eliminar as suas crianças do sexo feminino. Um homem Thevar, idoso, depois de me ter dado uma longa explicação sobre a necessidade do infanticídio feminino, subitamente gritou muito zangado: “Quem lhe contou que nós matamos penn sisus (meninas) nesta vila? Vá e veja… Vai encontrar pelo menos uma menina em cada casa.”
O que ele se esqueceu de dizer que a seguinte… e a seguinte… e a seguinte seriam eliminadas. (…) A Karuppayee disse-me: “É melhor que morram a viver como eu”.¹

Observatório de Jantar Mantar, onde se reúnem um conjunto de instrumentos astronómicos construídos entre 1727 e 1734 pelo marajá Jai Singh II. Este marajá construíu cinco instalações como estas, espalhadas pela Índia. Esta de Jaipur é a maior. “Jantar” significa instrumento e “mantar”, cálculo. Aqui podem ver-se portanto instrumentos para medir o tempo, prever eclipses, verificar a localização de estrelas, calcular a órbita da terra à volta do sol, bem como outras posições de planetas. O guia que me ia explicando os instrumentos mostrou-me como se media o tempo, em alguns deles. Vimos as horas com precisão de vinte segundos. No maior de todos viam-se as horas com uma precisão de dois segundos. Eram 14.23h e eu pude comprovar como os instrumentos estavam certos.


¹ Aravamudan, Gita (2001), “Born to Die”, Rediff.com, 24 de Outubro. Página consultada a 2 de Dezembro de 2009, <http://www.rediff.com/news/2001/oct/24spec.htm>.

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