123 – Visitando o City Palace
Em 1993, dos 800 nascimentos de meninas registados no hospital de Usilampatti, 600 “desapareceram”. Ninguém falou sequer dos nascimentos não registados como o que o Jayanti descreveu. Não existia documentação. Não existiam números.
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Também se tornou claro que o infanticídio feminino não conhecia barreiras de castas, comunitárias ou socioeconómicas. (…) Numa vila, o panchayat (presidente da câmara) tinha acabado de eliminar a sua terceira filha. Noutra, o mais rico e poderoso proprietário de terras tinha matado a sua quarta.
Em Dharmapuri, uma das áreas mais gravemente afetadas, uma média de 105 bebés meninas eram mortas todos os meses em 1997.
(…)
Ao contrário de estados como o Rajastão, em que o assunto é escondido debaixo do tapete, o governo de Tamil Nadu trouxe o assunto à luz do dia e estava a tentar enfrentá-lo através da organização de programas especiais educacionais.
Mas as crianças do sexo feminino continuavam a ser mortas. Na vila de Nalampalli, Palaniamma falou de como a sua sogra tinha acabado de matar a terceira filha da sua cunhada. “A mãe do meu marido embrulhou a recém-nascida numa toalha molhada. Atirou-a ao chão e pisou-a com o pé. “Quem quer isto?”, disse ela e saiu do quarto. Ficámos todos ali, com receio de pegar no bebé. A minha cunhada, fraca depois do nascimento, só chorava. Poucas horas depois, a criança morreu. Conseguiram um certificado de um médico a dizer que morreu de pneumonia.”
Estava-se no ano de 1999. Descobriram novos e “melhores” métodos para matar.
Há cinco anos atrás, os habitantes de Usilampatti mostravam-se desafiantes e insensíveis às opiniões das gentes da cidade. Agora eram mais cautelosos e secretos. Alguns pais tinham sido presos sob a acusação de assassínio. E assim a prática camuflou-se.
De um processo relativamente rápido e indolor, passou-se para outro mais prolongado e torturante. “Agora têm medo de ser descobertos”, disse Alphonso Mary, um enfermeiro do estado que trabalhava na zona. “Se alguém suspeita de um caso de infanticídio feminino e o corpo é exumado, os “antigos” métodos para matar podem ser detetados”.
Como resultado, desenvolveram-se novos métodos. A recém-nascida era deliberadamente enfraquecida e desidratada pelos próprios pais. Faziam isto embrulhando-a numa toalha molhada ou mergulhando-a em água fria logo após o parto, ou logo que chegava a casa do hospital. Se ainda estivesse viva após algumas horas, era levada ao médico o qual diagnosticava pneumonia e prescrevia medicamentos. A prescrição era cuidadosamente guardada, mas os medicamentos nunca eram comprados. Quando a criança finalmente morria, os pais tinham um certificado médico a provar a pneumonia. Algumas vezes, a criança era alimentada com álcool para criar diarreia. Outra “doença” certificável.
Os habitantes das vilas também aprenderam a cremar os pequenos corpos. Antigamente enterravam-nos em sepulturas nos campos, apenas pondo uma pedra em cima do local para evitar que os animais lhe chegassem. Agora era diferente. Mesmo os modernos métodos para matar não ajudavam mais.¹
(Cont.)
Esta foto foi invenção do guia que me acompanhou durante as várias visitas em Jaipur. Já conhece os cantos à casa e pelos vistos deve tirar uma foto aqui a toda a gente, nesta posição.
Aqui, neste palácio, vive o atual marajá. É o único edifício amarelo – a cor real – e com cinco andares, em Jaipur. Nos restantes edifícios do palácio existe um museu onde não é permitido tirar fotos, pelo que nestas crónicas temos de ficar-nos pelo exterior. Tinha têxteis e retratos dos marajás.
Este é um dos carros do atual marajá, e o guia explicou-me que as duas bandeiras hasteadas no topo do palácio significava que ele se encontrava ali. E calhou vê-lo sair e meter-se nele.
¹ Aravamudan, Gita (2001), “Born to Die”, Rediff.com, 24 de Outubro. Página consultada a 2 de Dezembro de 2009, <http://www.rediff.com/news/2001/oct/24spec.htm>.