109 – Entremos no Hospital

Bisbilhotei tudo, nesta vila. Já estou com prática nisto, já estou muito saída da casca, muito diferente de quando aterrei em Delhi, ensonada, com os horários trocados, sem conhecer nada. Agora já sei o que a casa gasta.
Mas não sei ainda o que gasta um hospital, pelo que resolvi entrar. (De início com receio, mas depois incitada pelos meus novos amigos e pela indiferença da juventude que se vê na segunda foto abaixo). Nem sabia que era um hospital – a única coisa que se consegue ler ali é “Rajasthan Health”, mas daí a imaginar que o edifício é um hospital… Foram os miúdos que me disseram. “Hospital!” Ah isto é um hospital? Então vamos conhecer o hospital. Pelo menos até me expulsarem lá de dentro.
Primeiro tive receio pela bicicleta, não queria deixá-la cá fora sem ninguém a tomar conta. Desmontei e fiquei à entrada, a espreitar para dentro. Onde estarão os médicos?… Andarão de bata branca?
Eis quando aparece o Kailash, a pé, vindo não sei de onde. Ora bem, vem mesmo a calhar, caro Kailash, queira p.f. ter a paciência de tomar conta da sua bicicleta (se não era dele, era da agência de viagens, o que vai dar ao mesmo) que eu vou conhecer o hospital. Foi a providência que o mandou.
De facto vim a descobrir mais tarde que o Kailash se encontrava numa espécie de café que fica mesmo à saída dos domínios do palácio. O próprio hospital fica ao lado. E não foi sem algum desagrado que o vi aproximar-se: então mas anda a espiar-me? Estou a passear na vila, a falar com as pessoas, e o motorista anda a controlar-me?…
Ingrata, eu sou, talvez. Se calhar preocupado comigo, e eu ingrata. Na volta pensava que eu estava a sentir-me mal e que precisava de ir ao hospital.

Explicaram-me entretanto, já não me recordo quem, acho que foi o rapaz da receção (era uma receção, na segunda foto abaixo), explicaram-me que existem três médicos neste hospital, e que de momento estava um de serviço. Fui cumprimentá-lo. Estava no seu gabinete mesmo ali ao lado, sozinho. Ainda receei que estivesse a atender alguém e que eu fosse perturbar, mas não, o rapaz da receção incentivou-me a ir ter com ele – apontava para onde ele estava. Apertei-lhe a mão, sorri-lhe, disse-lhe que vinha de Portugal. Era um homem de estatura média, com a sua bata branca, e de tez clara. Pareceu-me que ele não saberia muito de inglês porque não desenrolou a conversa. Deixei-o em paz, terminei a visita ao hospital, dei um último giro ali à volta, na bicicleta, e regressei ao palácio, satisfeita. Está a anoitecer, vou sentar-me no baloiço, com o tranquilo lago à minha frente, a ouvir os chacais e a observar o morcego.

É uma vida muito dura, esta de turista.

Nos extremos estão duas farmácias, identificadas pelas cruzes vermelhas. Ficam ao lado do hospital. São autênticos barracões, sem ar condicionado, claro. Ou seja, os medicamentos são conservados à temperatura ambiente de 45 graus centígrados. O rapagão da foto abaixo pediu-me para enviar-lha por email – e o endereço era mesmo da “Gautam Distributors”, que se lê na parede da sua loja.
A palavra “farmácia” deve estar do lado esquerdo, pois repete-se igualmente na loja do lado direito.

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