094 – Dormir ao Relento no Deserto

Já que se dorme, continuemos com o tema dos preservativos, iniciado na crónica 89, e fiquemos com extratos de um artigo de 2007 da PSI – “Population Services International”, uma organização de saúde global fundada em 1970, com programas voltados para a malária, a sobrevivência da criança, o HIV e a saúde reprodutiva. A PSI foi uma das organizações envolvidas no marketing social do Nirodh, e criou ainda a sua própria marca: “Masti” (ver link abaixo).

A Índia passou em 2007 um marco: vendas cumulativas de um bilião de preservativos. Apenas outros dois outros países sob o programa de marketing social da PSI atingiram este marco: o Bangladesh, em 1992, e o Paquistão, em 2002.
[Recordemos que a Índia britânica se dividiu nestes três países (ver a crónica 24 sobre o Paquistão, e a 49 sobre o Bangladesh). Os recordes de preservativos estão portanto no país de origem do kamasutra…].
Demorou quase 15 anos para a Índia atingir este recorde, com uma população de um bilião em 2003; comparado com os 16 anos do Paquistão, com uma população de 149 milhões; e 17 anos no Bangladesh, com 147 milhões.
Na Índia, a PSI iniciou o marketing social do preservativo em 1988 com o lançamento do Nirodh Deluxe, a marca do governo. Quatro meses depois, a PSI lançou sua própria marca, Masti, somente no estado de Uttar Pradesh. O Masti é agora vendido em 22 estados.

O mercado indiano é muito fragmentado – há mais de 200 marcas vendidas e a maior parte delas são regionais. A ORG MARG, uma empresa de auditoria que controla apenas 74 marcas, informa que foram vendidos um total de 643 milhões de preservativos no ano de 2002. A principal marca foi o Nirodh, que representou 40% do volume de vendas.
Não se espera que sejam necessários outros 15 anos para atingir o segundo bilião, diz Dipak Basu, director de marketing da PSI. “No caso de conseguirmos fundos adicionais, com o nosso esforço de marketing criativo, devemos ser capazes de atingir os dois biliões em cinco anos”.¹

Ora esta questão do marketing social e do marketing criativo transporta-nos por sua vez para outro tema: o dos anúncios explícitos, como puderam ver um pouco no link do You Tube, na crónica 89. [Nota: este vídeo já não está disponível. Foi colocado outro, mais recente, naquela crónica, e consideravelmente mais discreto]. Para já, esclareçamos o que é isso de marketing social, do qual o governo indiano se tornou a maior entidade no mundo, segundo o artigo da PSI. Conforme explicado na Wikipédia, o marketing social consiste na aplicação sistemática de marketing, juntamente com outros conceitos e técnicas, com o objectivo de criar determinados comportamentos com vista ao bem social ².
Temos de ter em conta o extremo conservadorismo dos indianos na sua vida social. As castas foram abolidas da lei, mas estão mais arreigadas do que nunca, ninguém se pode casar fora delas sob pena de ser apedrejado, ou algo que o valha, e os pais é que devem escolher os noivos e as noivas dos filhos (ver crónica 40 com a sondagem: 72% da população prefere que continuem a ser os pais a escolher os noivos). As mulheres andam de véu. Príncipes são deserdados por assumirem a sua homossexualidade: “Ninguém deve mais referir-se a mim como mãe do príncipe Gohil”, disse a mãe do príncipe num comunicado, após aquele ter revelado, não apenas aos seus parentes, mas também publicamente, a sua homossexualidade.³

E de repente surgem anúncios a preservativos, com imagens de gays inclusivamente. Como explicar às pessoas para que servem e como se usam sem mostrar explicitamente a coisa?…

(Continua nas próximas crónicas).

O mais divertido foi a casa de banho. Eu tinha uma casa de banho privada, no deserto. Um luxo! A meio da noite acordei e lá fui, de lanterna.


¹ Olson, David (2007), “PSI/India: Over One Billion Served”, 8 de Janeiro. Página consultada a 25 de Outubro de 2009, <http://www.psi.org/news/0903a.html>.

² Wikipédia (s.d) “Social marketing”. Página consultada a 25 de Outubro de 2009, <http://en.wikipedia.org/wiki/Social_marketing>.

³ Folha Online (2006), “Família indiana deserda príncipe que assumiu ser gay em TV”, 7 de Julho. Página consultada a 25 de Outubro de 2009, <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u97689.shtml

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