090 – 14º Dia, Parto de Bicicleta
Tirada do quarto do hotel, seriam umas 7 da manhã. Os hindus já praticavam rituais de purificação nas margens do lago sagrado.
Foi desta que visitei o templo dedicado ao deus Brahma, antes de partir de Pushkar. O Kailash ficou na ponta da extensa rua, no carro, à espera, com a máquina fotográfica. Eu fui de bicicleta. Fi-lo esperar quase uma hora, paciência, nunca pensei que demorasse tanto tempo. Não receei pela bicicleta estando ele no fim da rua. Fui guiada por um estudante universitário, um rapaz educado, que vai ali para ajudar o seu mestre hindu e para ganhar algum dinheiro nas férias. Lá tive de descalçar-me, como é da praxe. Não há fotos, porém não tinha nada de especial, lá dentro. Um templo como os outros. Sujo.
Depois deu-me umas flores e levou-me a um ghat, as escadarias que levam à água sagrada do lago. Já tinha estado aqui ontem, clandestina, calçada. Hoje foi oficial, tive de descalçar-me e ganhei uma pulseira. Mais outra. E existia um quiosque a quem tinha de pagar para cuidar das sandálias, e mais outros tantos a pedir dinheiro pelas rezas e pelo incenso e sei lá porquê. Ora eu que não tenho nada a ver com o deus Brahma (que seja feliz…), quero lá saber das rezas e das flores. Era suposto atirar as flores ao lago e pedir desejos.
Surgiu um grande problema, todavia, que ultrapassava muito o do meu desinteresse pela religião. É que havia abelhas gigantes a voar à volta das flores. Os indivíduos a quererem que eu cumprisse o ritual (e no final lhes desse dinheiro…) e eu em pânico com as abelhas, a dizer que não quero as flores, podem ficar com elas, não vou agarrar nelas, tantas abelhas, são tão grandes, ainda me picam, não quero. Acabaram por ser eles a atirá-las para o lago, mais um pó colorido, enquanto eu pedia os desejos. Mas as abelhas andavam já à minha volta e eu cada vez mais aflita. Adeus. E fugi a correr, pelas escadas acima.
Ficaram parados lá em baixo a olhar para mim, com o prato das flores na mão. No topo das escadarias meti uma nota na caixa das contribuições, pronto, para não ficarem de mãos a abanar. Bolas, aquilo não são abelhas, são abelhas dinossáuricas.
Deixo Puskhar de bicicleta. Nem a guardo no carro, vou já de bicicleta. Mas não cheguei a fazer dez quilómetros, acabei por desistir porque tinha um vento fortíssimo contra. Foram apenas cinquenta minutos e a habitual garrafa de litro e meio de água.
Tráfego congestionado: carroças, carros, camelos e a minha bicicleta. E sabem a que se deve o congestionamento? Era o Kailash que estava parado à minha espera. Tinha seguido à frente, e agora parou à espera. E como é hábito – lembrem-se que os indianos não encostam à berma – parou na faixa de rodagem, pois claro. Então todos tinham de ultrapassá-lo. Os lentos camelos ainda ajudaram mais.
Ao fundo (foto acima e foto abaixo) vêem-se as montanhas Aravalli, que têm uma extensão aproximada de 800 km.