069 – Jeep Safari (cont.)

Segundo a Enciclopédia Britânica Online, o uso do termo “casta” data do século XVI. A palavra começou a ser empregue na altura pelos portugueses para descrever a divisão da sociedade hindu em categorias ocupacionais classificadas socialmente. Num esforço para manter a distância social vertical, estes grupos praticavam a exclusão mútua em matérias relacionadas com a alimentação, e presumivelmente, com o casamento. Subsequentemente, “casta” foi adotada em inglês e na maior parte das línguas europeias (particularmente em holandês e francês) com o mesmo sentido específico.

Qual a origem desta divisão social, porém? Recapitulando o que foi dito na crónica 36: cerca de 1500 A.C. a Índia foi invadida em vagas sucessivas por tribos vindas do noroeste que a si próprias chamaram de “ārya” (arianas), palavra que significa nobre, respeitável. Estas tribos levaram consigo uma língua e também uma religião naturalista que divinizava as forças da natureza. A sua fusão com os já existentes habitantes dravidianos, de pele escura, deu origem à cultura clássica indiana.

Segundo explica a Enciclopédia Britânica Online, esta população local, de pele mais escura, foi chamada pelos arianos de “daha” (inimigos) ou “dasyus” (servos). Ambos, arianos e dasyus, podem ter sido grupos étnicos antagónicos, divididos pela aparência física, cultura e língua. Mas fossem quais fossem as suas relações, é provável que eles se tenham vindo a integrar numa ordem social plural influenciada pela organização social já existente, dos arianos. Uma divisão em três categorias: sacerdotes, guerreiros e plebeus, fez parte da herança ariana. Num período inicial, a pertença a uma casta parece ter sido baseada sobretudo nas aptidões profissionais, mais do que no nascimento, status, ou riqueza. Todavia, no fim do período rigvédivo, cerca de 1.000 A.C., o princípio da hereditariedade na categoria social tornou-se prevalecente.¹

Temos assim um severo sistema social ligado à religião hindu. Um bem definido sistema de interdependência mútua, através da divisão do trabalho, cria segurança na comunidade. E pertencer a uma casta, com uma história e genealogia próprias, instila nos seus membros o sentido de pertença a um grupo, bem como orgulho cultural. Desta forma, o sistema de castas serviu, e continua a servir, como um poderoso instrumento de ordem numa sociedade onde impera o consentimento mútuo, mais do que a coação².

O hinduísmo funciona como elemento disciplinador, portanto. Ademais, na religião hindu, crê-se na imortalidade e na reencarnação, e segundo o karma, ou seja, o caminho rumo à perfeição, os obstáculos devem ser ultrapassados através do sofrimento. Virtude e resignação são as qualidades fundamentais do indivíduo.
Assim chegamos aos surpreendentes resultados da Universidade de Roterdão sobre a felicidade na Índia, apresentados na crónica 51. A população hindu (80% , ou seja, cerca de 800 milhões) encontra-se na sua maioria resignada, esperando que a reincarnação lhe traga melhor sorte, sendo o sofrimento atual uma prova pela qual tem de passar para atingir a perfeição. Quanto mais se sofre, portanto, mais perto se está da perfeição. E consequentemente, mais feliz.

Resumindo: religião e divisão social estão assim perfeitamente interligadas, num assombroso equilíbrio.
Até ver.

A mãe (na foto abaixo) tem 29 anos. E tem 5 filhos.


¹ Encyclopædia Britannica Online (2009), “Caste”. Página consultada a 14 de Setembro de 2009, <http://www.britannica.com/EBchecked/topic/98395/caste>

 ² Wikipédia (s.d.), “Caste system in India”. Página consultada a 14 de Setembro de 2009 <http://en.wikipedia.org/wiki/Indian_caste_system>

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