051 – A Felicidade na Índia
Estava eu a ler o jornal à hora de almoço, já em Lisboa, quando deparo com esta notícia. Pasmem-se, meus amigos, julgavam que viviam felizes aqui em Portugal? Aqui na Europa? Comparados com a pobreza da Índia?
Desenganem-se.
Aquela rapaziada é mais feliz do que nós. Pelo menos eles assim o acham.
Reza assim o artigo do jornal Expresso:
Os economistas sempre quiseram medir o bem-estar. É usado o consumo, o lazer, mas ultimamente têm surgido outras variáveis.
Em Janeiro de 2008, o Presidente francês, Nicolas Sarkozy, pediu a dois prémios Nobel da Economia, Joseph Stiglitz e Amartya Sen, que criou o índice de desenvolvimento humano das Nações Unidas, para encontrarem uma medida de bem-estar alternativa ao produto interno bruto (PIB).
Para Sarkozy, as estatísticas oficiais não refletem o bem-estar dos franceses. Tal como na década de 70, o rei do Butão propôs, em alternativa ao PIB, a utilização do índice de Felicidade Nacional Bruta (gross national happiness na denominação anglo-saxónica), que tem em conta variáveis quantitativas mas também avaliações subjetivas relacionadas, por exemplo, com a saúde ou a educação no país.
Todas estas propostas partem da observação de um fenómeno que tem intrigado os economistas nas últimas décadas. Felicidade e riqueza são duas variáveis que nem sempre andam de mãos dadas. “O que é surpreendente é que, apesar do produto estar a aumentar, das pessoas trabalharem menos tempo, terem mais férias e melhores condições de vida, nas últimas décadas no Ocidente o nível de felicidade não está a aumentar”, refere César das Neves. Ao mesmo tempo há países mais pobres com populações mais felizes.
É o chamado paradoxo de Easterlin, batizado por Richard Easterlin da Universidade da Pensilvânia, que, em 1972, concluiu que a felicidade dos povos não dependia do PIB por habitante, pelo menos, desde que estivessem garantidos os níveis mínimos de subsistência.
Desde então surgiram inúmeras propostas para medir a felicidade, entre as quais a World Database of Happiness da Universidade de Roterdão, construída a partir de vários indicadores e inquéritos. Portugal surge na 78ª posição da tabela num conjunto de 144 economias, atrás de países como o Irão ou a Costa do Marfim.
A medição do bem-estar é um desígnio antigo dos economistas, que utilizam muitas vezes o consumo ou o lazer nas suas funções de utilidade. “Nós gostaríamos de medir o nível de utilidade – o bem-estar – mas nunca conseguimos fazer isso”, sublinha João César das Neves. “O conceito sobre o que estamos a tentar maximizar é algo que não compreendemos bem”, acrescenta Dan Ariely.
Nesta altura é ainda cedo para perceber que impacto estas novas medidas vão ter na compreensão da realidade pelos economistas e no comportamento dos políticos. Na dúvida, Villaverde Cabral prefere recordar Oscar Wilde: “O dinheiro não faz a felicidade mas a maior parte das coisas que fazem a felicidade custam dinheiro”.
Fonte:
“Expresso” (2009), ”Consumo é sinónimo de felicidade?”, 8 de Agosto, pp. 22 do “Primeiro Caderno”.
Ora vamos então conhecer essa famosa World Database of Happiness.
Em primeiro lugar vem a Islândia, com 8,5 pontos. No Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas de 2008 (disponível na crónica 38) também é a primeira. Temos de emigrar para esse país de 316 mil habitantes, mas é melhor esperar que a sua atual crise passe… Hoje não devem andar tão felizes.
Depois vem a Dinamarca com 8,4. Depois a Colômbia com 8,1 (a Colômbia, heim?… São uns felizardos…) A Suíça com 8,1. E o México com 8 (será o efeito das tequilas e das margaritas…)
Nuestros hermanos los españoles vêm em 23º lugar com uma felicidade de 7,2.
A Índia vem em 68º lugar, com 5,9.
E nós, infelizes portugueses, estamos em 78º, com 5,7 pontos, ao lado de países com o Gana, o Mali ou o Laos.
Fonte:
Veenhoven, R., Average happiness in 144 nations 2000-2008 , World Database of Happiness,
RankReport 2009-1c, < http://worlddatabaseofhappiness.eur.nl>
Ora isto pode ter muitas explicações, quer do lado português, quer do lado indiano. Quanto a nós, podemos dizer simplesmente que somos um dos países mais pobres da Europa; ou então que somos um povo triste e saudosista por natureza. Venha daí mais um fadinho lamentoso, ai meu amor que partiste para o mar, tanto que eu chorei. Talvez devêssemos fazer como os mexicanos, beber umas tequilas e cantar uns cucurrucucus. Não deixaríamos porém de ser um dos mais pobres da Europa. Choremos, sim.
Mas estas são as crónicas da Índia, não as crónicas de Portugal, portanto fiquemo-nos pela Índia. E aqui temos então pano para mangas, com a sua religião hindu e o seu conhecido sistema de resignadas castas. Não percam as cenas dos próximos capítulos, pois em breve voltaremos a este ponto para desenvolvê-lo com detalhe.
A casa grande pertence a pessoas que trabalham em Bombaim, e que nas férias regressam à aldeia, explicou-me o guia. Irei visitar o interior de uma.
Andei atrás dos javalis quase cinco minutos a tirar-lhes fotos, até que finalmente eles desistiram de fugir e ficaram assim, coitados, com medo.
A minha mãe perguntou-me se eles estavam mortos, quando viu esta foto, pelo que presumo que vocês talvez perguntem o mesmo. Não, estão mesmo a dormir no meio da lixeira!
Os trajes tradicionais.
Terminado o passeio a pé com o guia, peguei na bicicleta e fui dar um passeio por minha conta. Já conhecia a aldeia, já conhecia os caminhos, e as pessoas já me conheciam a mim. Ainda me afastei um pouco pela estrada principal (a que se vê nesta foto), mas depressa regressei à aldeia. É mais engraçado, há mais casas e gente para ver.
Foi um rapaz dos seus 14 ou 15 anos que nos tirou esta foto. Bastante boa e elogiei-o por isso. Ele manteve-se sério, como se fosse um entendido nas artes das fotos e eu para ali a elogiar algo evidente…