012 – Vou Apanhar o Comboio

São catorze horas de viagem, sozinha, e eu não estava à espera. Ainda vinha com a Europa em mente, e com o conforto e o luxo do Imperial na pele. A agência de viagens repetiu-me várias vezes que eu iria em primeira classe. Não prestei atenção. Sim, está bem, vou visitar a Velha Delhi e logo à tarde irei apanhar o comboio, certo.

Quando finalmente cheguei à estação de comboios de Hazrat Nizamuddin é que acordei. Ou comecei a acordar aos poucos, porque foi gradual. Catorze horas? Sim. E tenho onde dormir? Sim. E vou dividir a cabine com alguém? Sim.

Bom, vou então esperar pelo comboio. Ainda por cima cheguei cedíssimo, faltam duas horas. O motorista ainda me perguntou se eu queria ir a algum lado antes, mas eu já estava cansada do barulho, das buzinas constantes dos carros e das motas, do pó, da multidão de domingo nas ruas. Quero ir-me embora.

E assim me deixou na estação de comboios.

Sozinha.

Com as bagagens.

As bilheteiras. A foto ficou tremida, é pena, mas mesmo assim mantive-a. Era já o nervoso miúdo a manifestar-se, se calhar. Eu tinha o bilhete comigo, um bilhete eletrónico. Não deixei de espantar-me como é que já funcionam com eTickets. Perguntei no guichet qual era a linha para o meu comboio. Não sabiam, disseram-me para ir ao guichet das “enquiries”.

Paguei algumas rupias a este homem para levar-me a mala. De facto ele é que estava ali a oferecer os seus serviços, e nesta altura eu ainda estava com o motorista, pelo que foi ele mesmo que o contratou (e eu paguei). Este homem pelos vistos faz serviço aqui, conhecia as linhas do comboio e deixou-me na correta, depois de termos andado muito, quase o comprimento de toda a estação. Eu atrás dele. Supostamente a primeira classe seria ali, onde ele me deixou (nas fotos abaixo).

Toda a gente especada a olhar para mim. Nem um dedo no nariz eu podia meter. Fui observada com muita minúcia durante todo o tempo; para este pessoal eu era algo extraordinário, pois claro. A única pessoa branca em toda a estação de comboios de Delhi. Ainda por cima uma rapariga sozinha.

Sentei-me. Um banco inteiro vagou, à minha aproximação (fugiram todos de mim), e eu sentei-me, com as duas malas ao pé. As malas é o pior, isto foi mal planeado, devia tê-las deixado com o motorista, amanhã ele espera-me em Udaipur e podia tê-las levado consigo.

Muito gostava eu de saber se vou identificar o comboio, quando ele chegar, e se vai chegar a horas. Supostamente é às 19 horas. Pelo que às 19h, o comboio que chegar, é o que eu entro. Se se atrasar, se for outro comboio, pois não sei, vou parar a outra cidade qualquer. É preciso ter calma, a algum lado hei de ir parar, eu e as bagagens. Em último caso apanho outro comboio, depois de descoberto o meu paradeiro, depois de contactada a agência de viagens, e irei de vez para Udaipur.

É que esta malta não fala inglês. Ah pois é, ninguém sabe falar inglês. Será que o comboio vem identificado com “Udaipur” em hindu?…

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