105 – Terceira – Gruta do Natal

Chamei um táxi através dos números de telefone que encontrei na internet, e veio a Eduarda buscar-me, para levar-me a casa. Baixou os bancos de trás e a bicicleta cabe por inteiro, ótimo.

A Eduarda foge das fotos.

A freguesia de Posto Santo, com a Igreja de Nossa Senhora da Penha de França ao fundo. É uma igreja do século XVIII. O dono do meu alojamento, que apareceu na crónica 96, António Alves, é o presidente desta Junta de Freguesia.

Estas vaquinhas andam tresmalhadas. Não era suposto estarem aqui, coitadinhas. Ainda bem que não vou de bicicleta. A Eduarda diz que a preta é brava. E está aqui a prova provada de que elas saltam as vedações ou fogem.
Ambas têm coleiras. De onde virão? Espero que venham buscá-las depressa, para não lhes acontecer nada. Um carro pode bater-lhes.

Vi uma placa na estrada a anunciar a aproximação da Gruta do Natal. Eram 14h20. Pois claro! Vou visitar a Gruta do Natal! Que bela oportunidade, nem me lembrava. A Eduarda deixa-me aqui, e eu irei depois para casa na bicicleta, sempre a descer.

A Gruta do Natal é um tubo lávico. Recordo que visitei outro tubo lávico na ilha do Pico, na crónica 83.
Conforme indicado no desdobrável que me entregaram à entrada:
No interior da Gruta do Natal podem ser observadas estruturas geológicas diversas: escorrências de diferentes tipos de lava, estafilites e pequenos balcões laterais.¹

Fui em busca do significado de “estafilites”, na internet, e só me saem inflamações na garganta.

Os Montanheiros organizaram a 25 de Dezembro de 1969 a primeira Missa de Natal no interior desta gruta, que assumiu assim a atual designação de Gruta do Natal. Esta data marca ainda a abertura da gruta pela primeira vez à população em geral, para tal tendo sido construído um acesso simples e instalada uma iluminação rudimentar.¹

Os Montanheiros inauguraram a 1 de Dezembro de 1998 a primeira Casa-apoio para exploração turística desta gruta, com ampliação em 2006, num projeto que colocava como prioridade a integração do edifício na paisagem envolvente. No interior do edifício é possível apreciar uma exposição fotográfica, da atividade histórico-social ocorrida nesta gruta, nomeadamente dos batizados, missas e casamentos realizados no seu interior.¹

Pensa-se que a gruta terá a sua origem nas lavas de erupções fissurícolas ocorridas nas suas imediações, em data incerta. Este tubo de lava, com 697 metros de comprimento total, apresenta um trânsito fácil no seu interior, um chão com poucos desníveis e tetos altos. O circuito interno é feito de forma a que o visitante percorra no regresso um trajeto diferente.¹

Conforme me explicaram à entrada: existem 16 túneis de lava na ilha Terceira, e 250 ao todo no arquipélago dos Açores. A Gruta do Natal anda pelos 12 mil anos e visita-se metade.

A pedra do altar onde se celebrava a missa de Natal.

Terminada mais esta emocionante visita a um tubo lávico, tenho agora a minha bicicleta à espera. Ficou aqui presa com o cadeado. Presa a nada. Só está presa de forma a que não se consiga andar nela – o pneu de trás está preso, se repararem. Está em frente à Casa-apoio, onde se cobram os bilhetes.

E ali atrás está a Lagoa do Negro. A placa aqui exposta (foto abaixo) explica que “esta zona apresenta quatro domos traquíticos da erupção histórica de 1761”.
Esta linguagem vulcânica não é fácil. Uma pessoa lê as placas e tem de ir à internet tentar percebê-las. Um domo traquítico não me parece ser uma coisa boa. Eu não queria ter um domo traquítico.
Então um “domo” é um montículo, frequentemente de configuração aproximadamente circular, originado pela erupção lenta de lava². E “traquítico” vem do tipo de rocha: traquito. Portanto um domo traquítico é um monte – provavelmente areedondado – de rocha.

A placa explica ainda:
“Estes domos em forma de cúpula, denominados Mistérios Negros, formaram-se pela acumulação de lavas com elevada viscosidade”.
Depois fala na vegetação aqui existente, e das zonas húmidas de que são exemplo os pequenos charcos conhecidos por “Lagoinhas do Vale Fundo”. Finalmente refere as aves aqui existentes:
Para esta pequena lagoa estão referenciadas 150 espécies de aves, dentre as quais são vulgares a Garça-real, o Pato-real, as residentes Galinholas, e Narcejas.

Garça-real (Ardea cinerea)
Foto retirada de “Aves de Portugal”.

Pato-real (Anas platyhynchos)
Foto retirada de “Aves de Portugal”.

Galinholas (Scolopax rusticola)
Foto retirada de “Aves de Portugal”.

Narcejas (Gallinago gallinago)
Foto retirada de “Aves de Portugal”.

A chegar à minha ensolarada casa de férias.

A estes 53,7 km é preciso descontar 12,1 km do táxi da Eduarda. Eu fui a contá-los no GPS. Aquela velocidade máxima foi feita pela Eduarda, portanto. Daqui vê-se então: que fiz 41,6 km na bicicleta, são 16h08, o passeio durou 9h32, dos quais estive 4h19 parada.

Esta é a vista do meu quarto.
Continua a fazer grande ventania aqui nos Biscoitos.

Às 17 horas já tomei banho e estou estendida na cama a tratar dos apontamentos e das fotos. Tenho mais de 12 horas de descanso pela frente, agora, em casa. Amanhã parto para última ilha desta viagem: a Graciosa. Tenho um voo às 10h40.
Bebi um copo de leite frio logo ao chegar a casa. Há uma pastelaria famosa aqui nos Biscoitos, da Adélia, mas fica muito lá em baixo, não me apetece depois subir tudo.

Deste lanche, às 19h30, comi tudo menos um biscoito. Fica para amanhã no aeroporto. Acabei com o queijo picaroto, ou seja, da ilha do Pico. Ainda há um cacho de bananas no frigorífico, bem como o queijo do Corvo e manteiga também. Neste alojamento tenho uma torradeira para torradas gigantes. Mas não me tem apetecido.
Não tem secador para o cabelo. Tem tudo e mais alguma coisa, é curioso, até protetores solares, menos um secador para o cabelo. Aqui e na ilha do Pico foram os únicos que não tinham secador.

Deitei-me às 21. Às 20h30 já estava quase a dormir.


¹ “Gruta do Natal” Folheto desdobrável. Os Montanheiros, Organização Não Governamental de Ambiente. Julho 2020.

² “Domo de Lava” (s.d.) Wikipédia. Página consultada a 14 fevereiro 2021,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Domo_de_lava>

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