095 – São Jorge – Almoço & Regresso
O meu caminho prossegue por este trilho. Pelos vistos começa a aqui. O taxista Manuel disse-me que as bicicletas não passam aqui. E o João e o Hélder não tinham a certeza. O Hélder disse que passam moto 4’s, portanto uma bicicleta deve passar também. A bicicleta já está presa com o cadeado ali ao poste e eu vou ver como é o caminho, a pé.
4,3 km para o meu destino. São 13h13. Depois tenho que fazer os mesmos 4,3 km de volta, até aqui. 8,6 km no total, a pé. É muito. Eu não estava à espera disto. Pensava que podia seguir de bicicleta. É hora de almoço e eu já não tenho comida nenhuma comigo. A água está a acabar-se. Como é que vou fazer 8,6 km a pé, a esta hora, quase sem água, sem comida, nem perspetivas de restaurantes quando chegar à Caldeira de Santo Cristo? Se não existem restaurantes aqui na Fajã dos Cubres, é pouco provável que existam na Caldeira. Há aqui um chafariz com água, mas eu já tive más experiências com a água da torneira, e não vou arriscar. Depois não consigo caminhar com as dores de estômago.
O Maps.me insiste que eu posso ir de bicicleta. Mas ali na linha azul, em baixo, eu vejo os altos e baixos. No início, e depois a meio, é autêntica escalada. Só se amarrar a bicicleta às costas. Eu não vou arriscar a meter-me com uma bicicleta de 14 kg neste caminho. Será que o taxista Manuel pode levar-me a bicicleta no táxi e apanhar-me na Caldeira? Vou telefonar-lhe.
Mas não há rede aqui, tenho que voltar para trás, até encontrar rede.
Não, o acesso à Fajã da Caldeira de Santo Cristo é feito exclusivamente a pé – ou de moto 4, virei a saber. Não há estrada para carros. Decidi anular o passeio até lá. Com todas estas demoras são 13h30. Não quero iniciar um caminho a pé de 8,6 km a esta hora. Ele teria que ser feito logo de manhã. Foi falta de informação minha, pois bastaria ter ido à internet investigar. Mas enfim, estou na sétima ilha, e simplesmente tenho seguido o GPS, todos os percursos que fiz até agora não fui investigá-los previamente na internet, e assim também não investiguei este. O que me induziu em erro foi o facto do GPS mostrar caminho de bicicleta até lá. Se tivesse indicado que era feito exclusivamente a pé, eu teria programado o dia de forma diferente. O passeio teria de ter começado às sete ou oito da manhã na Fajã dos Cubres, ou então no Topo e fazer aqueles 9,5 km a pé até aqui. Mas por outro lado não teria falado com todas estas pessoas pelo caminho até chegar aqui. Teria que optar entre um turismo de paisagem, ou um turismo mais social e humano?
Bom, ficou a faltar-me o Barreiro da Faneca, na ilha de Santa Maria, e agora a Fajã da Caldeira de Santo Cristo, na ilha de São Jorge. Tenho que regressar aos Açores um dia, para completar as tarefas!
O taxista Manuel entretanto já me apanhou. Depois explicou-me que comeu uma lata de conserva, pão, e tomate com sal e ia dormir um pouco. Sabe onde há um restaurante bom e barato para eu almoçar e vai levar-me lá.
E eu confesso que estou de muito mau humor por não ter cumprido o objetivo de hoje.
Restaurante self-service, nove euros, sem bebida ou sobremesa. Comi bacalhau com natas, muito bom, repeti-o, bem como o tomate, delicioso. O Manuel ficou sentado na esplanada a beber um café, fui perguntar-lhe se queria sentar-se comigo à mesa, ele ficou lá fora e disse que estava bem ali.
O Manuel recebe €250 porque feriu o joelho na guerra da Guiné. Tem também uma pequenina reforma da América, e outra pequenina reforma aqui em Portugal (que o Manuel me disse os valores, mas eu não vou divulgá-los senão toda a gente fica a saber quanto é que o Manuel ganha), e tudo junto dá-lhe um pequeno rendimento estável. A casa é sua, o carro é seu, para receber algo mais não poderia ter o táxi e exercer profissão. Prefere assim, para viver bem não é preciso ter o mundo todo, disse-me. Eu concordei sem dúvida nenhuma.
Amanhã, segunda-feira, vai fazer exames no hospital da Calheta. Uma ecografia à barriga, tem de beber litro e meio de água. Enquanto conduzia ligaram-lhe do hospital a informar que tem de comprar um medicamento na farmácia antes de ir fazer os exames. O Manuel disse que vai pôr-me no aeroporto amanhã de manhã e que depois em caminho do hospital passa pela farmácia para comprá-lo.
Disse-me ainda que a ilha de São Jorge é a ilha com mais flores, do todas as do arquipélago dos Açores. Curiosamente em todas as ilhas disseram-me isso. Não houve ilha por onde eu passasse que não me dissessem isso. Parece uma competição floral. Mas aqui na ilha de São Jorge não vi tantas flores como vi nas ilhas das Flores ou do Corvo.
O Manuel foi por dentro das terras, insistiu em parar nos miradouros todos e fazer desvios inclusivamente para lá ir. Aqui é a Calheta, ensina-me.
Queria que eu levasse uma pedra de lava de São Jorge comigo, de recordação. Mas eu disse que não tenho estado a recolher pedras em nenhuma ilha, que fico com a bagagem muito pesada.
Aqui vêem-se três povoações, explica-me o Manuel: Manadas, Terreiro e Urzelina.
Às 15h20 o Manuel deixou-me na Urzelina. Foram 30,2 km, e 55€ as duas viagens, desta manhã e de agora.
Deitei-me na cama e não me mexi mais até às 18h15. Estou aborrecida por não ter atingido o meu objetivo de hoje. Dormi. Amanhã tenho o voo às 11h15 para a ilha Terceira, farei as bagagens e desmontarei a bicicleta de manhã.
Quando acordei fui verificar na internet como se faz o acesso à Fajã da Caldeira de Santo Cristo e constatei que se alugam moto 4’s. Teria sido engraçado alugar uma moto 4 para levar-me e trazer-me, depois de almoço. Isto decididamente hoje não correu bem.
Ao lanche comi estes três iogurtes, duas bananas e dois bolos. Sem fome. Os iogurtes já vieram da ilha do Pico, não podem ir comigo para a Terceira. O estômago está vazio e meto o que eu quiser lá para dentro. Forcei-me a comer, porque preciso para fazer exercício. Continuo sem vontade nenhuma de comer carne, as barras de proteína cobrem as necessidades de proteína. Só me apetece este tipo de coisas.
Só agora é que me lembrei de fotografar o GPS. Estava desligado, liguei-o. É necessário retirar ali 500 metros porque desliguei-o já tinha arrancado no táxi. Fiz portanto 15,9 km de bicicleta, hoje.
Deitei-me às 23 horas. Estive a planear os percursos possíveis na ilha Terceira. Exige tempo, esta tarefa. Eu não venho com nada programado de Lisboa. Só programo na véspera. É tudo demasiado incerto, com muitos imprevistos, para conseguir planear tudo em Lisboa.