097 – Terceira – Algar do Carvão & Furnas do Enxofre

O António, dono do meu alojamento, sugeriu-me o restaurante do Raúl, que é no final dos Biscoitos. Desci a toda a velocidade, com receio que fechasse às 14h, como é hábito. Cheguei às 13h50, porém estava fechado. Fecha às segundas-feiras!! Eu recordo-me de ter almoçado aqui algures, nos Biscoitos, quando cá estive em dezembro. No entanto não me recordo que restaurante é esse, e muito menos onde fica. Será certamente lá para cima, e agora não vou subir isto tudo, a esta hora. Quero ir visitar a Gruta do Algar e não tenho tempo para isto. Para trás e para a frente, e mais o tempo do almoço. Telefonei ao António a perguntar-lhe se sabe de outro restaurante aqui perto, porque eu não quero subir tudo. O António sugeriu-me que eu continuasse a descer em direção às piscinas naturais, pois existe aí outro restaurante.

Cheguei dois ou três minutos depois das 14h. Já não servem. Bye bye, almoço. Fiquei sem almoço. Os horários dos restaurantes nos Açores são uma tirania. Não poderia haver um prato do dia já feito, que fosse só aquecer no micro-ondas? Ou estar ainda quente, até. Em São Tomé e Príncipe, no ano passado, eu almoçava às 10 da manhã e às 5 da tarde. Serviam-me a qualquer hora, nos restaurantes. Era chegar e pedir.

Bom, recorro novamente às minhas barras de proteína. Cada barra pesa 60 gramas, e tem 22 gramas de proteína. É como comer um bife. Estas barras vendem-se nas lojas de desporto, não se vendem nos supermercados normais, e custam cerca de 2€ cada. Comprando em packs ficam mais baratas.
E telefonei ao taxista João Ventura – um contacto dado pelo António, para levar-me à Gruta do Algar.

Ao lado das piscinas naturais existem estas barraquinhas com comida à venda. Há outra com kebabs. Mas eu não quero esse tipo de comida. É boa, sabe bem, mas não é propriamente saudável, sobretudo para praticar desporto.

Milho cozido, quente. Veio mesmo a calhar. Comi tudo até ao último baguinho. E o taxista João nunca mais chega. Liguei-lhe. Será que não me encontra? Sou a única pessoa de bicicleta por aqui, há de ver-me. Pelo sim pelo não liguei-lhe novamente para dar a minha localização. Então o João explicou-me que vem de Angra do Heroísmo. Leva 25 ou 30 minutos. Não existem táxis nos Biscoitos!
Pronto, esperei.

Cá está o João. Já vamos a caminho da Gruta do Algar. São 14h48.

Foram 14 km sempre a subir, e esqueci-me de anotar quanto paguei. Estou com o sentido na gruta, e com pressa, pois já abriu às 14h.

Um “algar” é uma cavidade subterrânea, ou seja, uma gruta, ou uma caverna. De acordo com o prospeto desdobrável que me deram à entrada:
O Algar do Carvão é uma notável chaminé vulcânica, classificada como Monumento Natural devido à sua riqueza patrimonial e raridade.¹

No início, o magma tentou romper o duro manto de rocha traquítica existente sem o conseguir. Nessas tentativas, a pressão e o calor moldavam as abóbadas e paredes interiores. Logo depois, as lavas basálticas encontraram na rocha ao lado fragilidades, o que permitiu romperem para o exterior e formar este aparelho vulcânico. Na fase final, o magma recuou para o interior das condutas e da câmara magmática, deixando um vazio – o Algar do Carvão.¹

No final da rampa, a cerca de 90 metros de profundidade, existe esta lagoa de águas cristalinas. A lagoa é alimentada pela chuva que entra pela cratera, pelas gotas que pingam do teto e por pequenas nascentes imersas na lagoa. O fundo é muito irregular devido às derrocadas do passado. A profundidade varia muito ao longo do ano, podendo atingir no final do inverno mais de uma dezena de metros e praticamente secar nos verões em que não chove.¹

O rapaz funcionário que estava dentro do algar disse-me que agora a água está com 5,5 metros de profundidade. E que no inverno chega aos 15 e uma vez chegou aos 25 metros quando houve cheias e choveu muito.

Revestido internamente por depósitos de sílica amorfa, são as estalactites que mais chamam a atenção ao visitante.
A água, que atravessa as rochas e escórias, dissolve minerais férricos e de sílica. Ao libertar-se, precipitando-se sobre o vazio, deixa nas abóbadas e nas paredes interiores depósitos desses minerais sob forma de estalactites de sílica de cor branca ou veios avermelhados de óxido de ferro. Entre outras formações, podemos ver também lavas negras esmaltadas a revestir paredes ou formando lâminas pendentes, escorrências de quando a lava pastosa ou refundida solidificou.¹

O funcionário do Algar disse-me que as estalactites crescem 1 cm a cada cem anos, em média. Explicou-me que esta rocha tem três mil anos. Não colapsou e ficou aberta, não formou uma caldeira.
Não há morcegos.
E aqui ainda é uma zona sísmica.

Vestígios de uma bolha gasosa, no teto.

Sobre a flora e fauna aqui existente:
A luminosidade limita a distribuição das espécies vegetais. As paredes do algar estão parcialmente revestidas por diferentes espécies de hepáticas, musgos, fetos e arbustos. Várias destas espécies são endémicas dos Açores, como o louro, a urze e o azevinho. Nas zonas mais profundas, quase sem luz, surgem algas verdes, bolores e diatomáceas.
Na faina cavernícola, adaptada à vida subterrânea, destaca-se um escaravelho endémico desta ilha, uma centopeia e duas espécies de aranhas também endémicas. Em termos de vertebrados, é possível observar algumas aves que se refugiam na vegetação da parte mais alta da chaminé.¹

Uma página do prospeto desdobrável¹ que me deram à entrada.

São 18h08, já não tenho tempo de ir à Gruta do Natal. Vou sim às Furnas do Enxofre.

O GPS manda-me por aqui, em caminho pedestre, mas está fechado. Tenho que ir pela estrada.

Esta placa indica que as Furnas do Enxofre são um campo de fumarolas. Estão localizadas entre os 583 e os 620 metros de altitude, o que lhe confere um clima húmido, com valores anuais de precipitação superiores a 2000 mm.

Esta placa indica:
As Furnas do Enxofre constituem um campo fumarólico, ou seja, englobam diversas saídas de gases vulcânicos agressivos, a diversas temperaturas, algumas bastante elevadas (cerca de 95⁰C à superfície e cerca de 130⁰C a meio metro de profundidade).
As Furnas do Enxofre são uma manifestação que se denomina vulcanismo secundário e encontram-se instaladas no cruzamento de diversas falhas geológicas, algumas muito profundas (vários km) e de notável extensão, relacionadas com a génese e evolução da ilha Terceira.

Segundo li no Centro de Interpretação dos Vulcões, na ilha do Faial (chama-se “Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos”, certo, mas também fala dos restantes vulcões dos Açores e do mundo, e por isso rebatizei-o novamente):

O vulcanismo histórico da ilha Terceira remonta ao século XVIII, tendo ocorrido erupções em 1761, nos Mistérios Negros e na Zona Basáltica Fissural, e erupções submarinas nos anos de 1867 e em 1998-2001, estas últimas na cordilheira submarina da Serreta, a noroeste da ilha. É de salientar que o Vulcão Oceânico da Serreta, com atividade de 1998 a 2001, constituiu o último episódio vulcânico do arquipélago dos Açores.


¹ “Algar do Carvão” (s.d.) Prospeto. Associação Os Montanheiros. Julho 2020.

² “Ilha Terceira” (s.d.) Placa exposta no Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, Faial, 2020.

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