115 – A Cidade Proibida

Acho que jamais esquecerei este dia. Primeiro fui alvo de uma burla, ao comprar o bilhete na internet, dez dias antes. Só descobri hoje quando quis entrar e não consegui. Ao fim de duas horas, e algumas tentativas de ajuda por parte do posto de informações, até constatarmos todos que só podia ser uma burla (o bilhete custa 9 euros, a burla não foi muito grande, felizmente, o grande transtorno são os bilhetes estarem esgotados nos próximos dias) – duas horas depois, a chover torrencialmente, consegui comprar um bilhete na bilheteira oficial, no local. Esperei numa longa fila, debaixo de chuva, vestida com uma capa de plástico verde e sandálias. Eu mais umas centenas de pessoas, distribuídas pelos vários guichets. Supostamente está tudo esgotado há muito tempo. De qualquer forma não desisto. Vou estar três dias completos em Pequim, talvez consiga em qualquer um dos dias, manhã ou tarde.
Mas não, deram-me um bilhete para já – imediatamente – nesta manhã. É só entrar. Eu nem queria acreditar, agarrada ao pequeno papel. A chover torrencialmente. Mal consigo tirar a máquina fotográfica da mala, debaixo de tanta chuva, para captar este momento histórico: a visita à Cidade Proibida, que tantas vezes vi no cinema. E agora aqui estou eu, a lutar contra burlas, disponibilidade de bilhetes, multidões e chuvadas torrenciais. Mas estou. Caramba que vou visitar a Cidade Proibida, quer queiram, quer não! “No sweet without sweat”, já sei!!

Portanto: acordei às sete da manhã, comi no quarto do hotel cereais e leite, que trouxe de Portugal (é verdade, trouxe cereais de chocolate e pacotes pequenos de leite com chocolate, já propositadamente para me safar ao pequeno almoço em Pequim, e não perder tempo) e eram quase onze horas quando finalmente passei os portões da Cidade Proibida. Sempre a chover torrencialmente. Viajar não é para qualquer um, de facto. Nem tudo são rosas e há momentos difíceis a ultrapassar. Creio que o “No sweet without sweat”, conforme contado na crónica 112 a propósito da Cerimónia do Chá, é uma grande verdade nas nossas vidas. Não há doce sem suor. E esta manhã tive de transpirar muito para conseguir o que queria. Só eu sei o que passei. Mas consegui.

A “Rua Augusta” pequinense, conforme relatado na crónica anterior. Aqui tinha acabado de sair do hotel.

Chegada à Cidade Proibida.

Ei-la: Rute Capuchinho Verde. Apanhámos tanta chuva – eu e todos os teimosos que ali andavam – tanta chuva, tanta chuva, que os pés andavam dentro de água, afundados, e fiquei com a pele engelhada, e naturalmente que as horas de caminhada, com os pés molhados e a pele engelhada, acabaram por fazer ferida. As tiras em pele das sandálias feriram-me os tornozelos. Sinceramente nem me lembro de alguma vez caminhar horas seguidas debaixo de tal dilúvio. Ainda por cima de sandálias e com os pés permanentemente dentro de água.

Sobre a Cidade Proibida, deixo a descrição da Wikipédia (não há que inventar):
Durante quase cinco séculos serviu como residência do Imperador e do seu pessoal doméstico, sendo o centro cerimonial e político do governo chinês. O título de Cidade Proibida surgiu pelo facto de somente o imperador, a sua família e empregados especiais terem permissão para entrar no conjunto de prédios do palácio. Trata-se de uma cidade dentro de outra cidade. Sede de um governo burocrático que comandou o império mais populoso da Terra, é o maior palácio do planeta, cujos rumores sempre apontavam a existência de 9.999 divisões. Durante séculos, apenas a família do imperador, além dos oficiais e empregados mais graduados tinham permissão para entrar no local. Qualquer outra pessoa que ousasse atravessar os seus portões sem a devida autorização, era sujeita a uma execução sumária e dolorosa.
Construído entre 1406 e 1420, o complexo consiste em 980 edifícios sobreviventes, com 8.707 secções de salas, e cobre 720.000 metros quadrados. A Cidade Proibida foi declarada Património Mundial da Humanidade em 1987, estando listada pela UNESCO como a maior coleção de antigas estruturas de madeira preservadas no mundo¹.


¹ “Cidade Proibida” (s.d.). Wikipedia. Página consultada a 20 Março 2018,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade_Proibida>

Deixo a nota, ao terminar esta crónica, de que reclamei junto da Paypall – já em Lisboa. Quando regressei a Portugal apresentei queixa. Seja lá quem for, em Hong Kong, que me vendeu o bilhete para a Cidade Proibida, respondeu dizendo que tinha enviado um sms em chinês (eu não recebi nada, nem em chinês, nem em inglês) e devolveram-me os 9 euros.

<< >>