124 – Jardim Zoológico de Pequim
Hoje é segunda-feira, e antes de meter-me a caminho do Zoo, decidi passar primeiro pelo Mausoléu do Mao Tse Tung – onde se encontra o seu corpo embalsamado. Aparentemente ele quis ser cremado, mas não lhe fizeram a vontade. Está ali exposto para toda a gente o ver (não lhe invejo a sorte, deve ser castigo por tudo o que fez). Mas a desinformação que existe na internet, na China, é de tal ordem, que eu não consegui descobrir qual o horário de funcionamento do Mausoléu. Mas não é na Wikipédia, ou no Lonely Planet, nem sites desses. Esses nem se encontram. São os sites oficiais do governo chinês. Ou semi-oficiais, sei lá o que é aquilo. É o que aparece quando se faz busca. Uns dizem que só abre da parte da manhã. Outros dizem que está aberto todo o dia. Outros dizem que fecha à segunda-feira. Outros dizem que está aberto todos os dias da semana. Em Portugal eu tinha indicações que só abre das das 7 às 11h manhã, mas não tinha indicação dos dias.
Bom. Desenrasquei o pequeno-almoço no quarto do hotel – comi umas bolachas com chocolate, que trouxe de Portugal, e um pacote de leite com pedaços de morango, que comprei na véspera, e às 8.15h arranquei para o Mausoléu. Vamos lá ver o homem embalsamado. Nunca vi uma pessoa embalsamada, deve ser impressionante. Se bem que haja rumores de que não é o corpo verdadeiro, é uma imitação, mas a gente não sabe. Tratam de fazer com que a gente não saiba nada mesmo.
A questão é que chegar ao Mausoléu, na Praça Tiananmen, exige quase uma hora de caminhada e passagem nos controlos de raios-x. Mas eu fui. Às 8 e um quarto da manhã pus-me a caminhar, em passo bastante rápido, e resignei-me perante todas as filas, revistas e controlos de raios-x que tive de passar, até finalmente entrar na Praça Tiananmen. E eis que chego lá 45 minutos depois, e está fechado. O Mausoléu fecha durante todo o mês de Agosto. Pronto. Quem ler estas crónicas fica com a informação. O Mausoléu só abre de manhã (acho eu) mas fecha durante todo o mês de Agosto. Teve de ser um polícia a informar-me. E tiveram de ir chamar um que arranhava o inglês. Um homem jeitoso, alto, fardado. “Closed” – disse-me ele – “Closed in August”. Eu com os meus calções e as minhas sandalitas a olhar para aquela farda imponente.
Anda então para o Jardim Zoológico, Rute. Volta para trás. Não desesperes, tem calma, estás de férias.
Ao regressar apressadamente, ouvi falar português. Alguém falou em português, na Praça Tiananmen. Olhei para o lado, no meio da multidão: era um grupo de turistas portugueses. Talvez umas 10 ou 15 pessoas, com idades maioritariamente entre os 50 e os 60 anos. Um grupo de portugueses, que giro. Se eu estivesse com tempo ter-me-ia metido com eles, trocado algumas impressões. Mas aborrecem-me os grupos, com o guia à frente, com a bandeirinha no ar para não o perderem de vista. Estou noutra. E estou muito à pressa, tenho de despachar-me para fazer tudo o que quero, hoje. Pelo que continuei a andar, apressadamente, e não cumprimentei os meus compatriotas.
No metro.
Eram 9.40h quando finalmente cheguei ao Jardim Zoológico, de metro. À entrada cruzei-me com quatro chilenos, dois casais dos seus 60 anos, e ainda falámos um pouco. Estávamos a tentar perceber o mapa do Jardim Zoológico, na entrada, e isso propiciou à conversa. Já tinham estado no Porto, em Lisboa e em Cascais, de férias, contaram-me. Andavam a viajar sozinhos, os quatro.
Entretanto passei duas horas lá dentro – o Zoo de Pequim é gigante. Um dos melhores que já vi, a par do nosso em Lisboa. Naquelas bandas já tinha visitado o Jardim Zoológico de Ho Chi Minh (antiga Saigão), no Vietname, em 2005. Não sei como está hoje, mas nessa altura era pequenito, quase insignificante. Felizmente. Quanto menos animais presos tiverem, melhor. É certo que alguns Zoos desempenham um papel importante na preservação de espécies, e algumas destas já só existem mesmo em cativeiro, mas eu fico sempre de pé atrás ao ver os animais presos, expostos, para gáudio dos humanos. Tenho visitado Jardins Zoológicos pelo mundo fora para ver em que condições são mantidos os animais. Fico sempre numa indecisão. Será que são felizes? De certeza que estariam melhor na selva, à solta.
Aqui em Pequim deparei com um Jardim Zoológico gigante. É preciso fazer quilómetros a pé lá dentro, durante um dia inteiro, para ver tudo.
(Continua na próxima crónica)