096 – Descendo de Bicicleta
Levei 1,30h a subir. E vou levar 2h a descer. Isto não está a acontecer-me. A bicicleta não trava. Tive de parar frequentemente com as dores nas mãos de apertar tanto os travões. A bicicleta simplesmente deixou de parar, nas descidas. Só pára a direito. (E reparei que estou com umas garras enormes, é altura de cortar as unhas!). Até que desisti – e devia ter desistido logo no início da descida – telefonei à guia para virem trazer-me a minha bicicleta normal.
Gente a apanhar cogumelos.
Finalmente na minha bicicleta. Que alívio, travar. O motorista Nong Bu e a guia partiram novamente, desta vez levando consigo a bicicleta elétrica na carrinha. Que pesadelo, uma bicicleta sem travões a descer uma montanha.
No entanto, quando terminou a descida, voltei a trocar de bicicleta. Os últimos 10 km dos 109 de hoje foram feitos a toda a velocidade, num autêntico sprint. A noite aproxima-se. Queremos todos chegar ao hotel, jantar e descansar. Se porventura surgirem vacas ou búfalos no caminho, pois caio-lhes em cima.
Mas não.
De facto apareceram búfalos, mas consegui abrandar o suficiente e passar em segurança. O motorista Nong Bu vem a conduzir atrás de mim. Ao chegar à vila de Eryuan, o Nong Bu passou para a minha frente e eu segui-o. (Quando chegamos às povoações fazemos assim, porque eu não sei em que ruas virar, pelo que o vou seguindo). E aqui se deu o episódio: seguíamos a uma velocidade considerável, até que o Nong Bu se cruzou com um jipe – numa rua estreita – e teve quase de parar. Ora eu vou atrás, à mesma velocidade. Qual abrandar. A bicicleta deixou de travar, com a tareia que lhe dei hoje.
Tive três segundos para decidir o que fazer.
Hipótese um: espeto-me contra a traseira da carrinha do Nong Bu.
Hipótese dois: tento passar no meio dos dois carros. Pelos lados já não consigo virar a tempo. Já não há tempo para virar.
Ora não vou desistir logo e espetar-me contra o Nong Bu. Arrisquei, portanto. Tentei passar entre os dois carros, quase parados. Se ambos os condutores pusessem a mão fora da janela, poderiam cumprimentar-se com um aperto de mão.
Eu a toda a velocidade. Com um guiador relativamente largo que não pode tocar em nenhum dos carros, porque isso far-me-á cair. (Além dos danos materiais nos veículos, claro).
E passei.
Devo ter passado a um ou dois centímetros de cada um dos espelhos dos carros. Notei perfeitamente o espanto do condutor do jipe, a ver-me a toda a velocidade direito e ele, e a passar-lhe à tangente. O Nong Bu sabe o que se passa, sabe que eu não tenho travões, mas o resto das pessoas não sabe. Esta miúda é uma kamikaze – pensaram certamente.
Foi o segundo dia que usei a bicicleta elétrica. Na manhã seguinte ainda vou fazer 5 km nela e vou desistir de vez. Passei para a minha e não voltei a tocar naquela.