086 – Explorando a Cidade de Jianchuan

Creio que não é vila. É cidade. Nem sei. Só sei que é enorme e quase que me perco nas ruas e ruelas.

Aproveito esta crónica para falar de outro tema ligado aos hotéis e hábitos chineses.
Os chineses – turistas domésticos – têm um hábito, nos hotéis. Se calhar têm mais hábitos, mas pelo menos este pude constatá-lo várias vezes, em vários hotéis: acordam bem cedo, ligam a televisão e abrem a porta do quarto. Ficam dentro do quarto, mas a porta está permanentemente aberta. Todos os restantes hóspedes – eu inclusive – temos de acordar com eles, temos de ouvir as suas conversas e mais a televisão, e temos de vê-los, pois claro. Não se confinam ao seu quarto, portanto. O corredor também é dos hóspedes (chineses) e pertence ao espaço contratado ao hotel. “Quero reservar um quarto e um corredor” – talvez digam, quando chegam à receção dos hotéis. Portanto eu habituei-me a pôr tampões de cera nos ouvidos, quando começa a amanhecer, para poder continuar a dormir até às 7.30h, hora a que habitualmente me levantei todos os dias. E quando saio do quarto, ali estão eles, sentados ou estendidos na cama, a ver televisão. Gente de todas as idades. Os velhotes sobretudo. Provavelmente será uma questão cultural. Os chineses não gostam de estar fechados num quarto, e tratam de abrir as portas todas – mesmo revelando a sua intimidade, os seus aposentos desarrumados, roupa e sapatos por todo o lado.
Eu ainda não tinha comentado isto, mas foi algo que se repetiu várias vezes, ao longo desta viagem, em várias povoações e vários hotéis. Numa das vezes, ao final da tarde, antes de jantar, fui mesmo espreitar que barulheira era aquela. Abri a porta do quarto, saí para o corredor e lá estavam dois garotos sentados no chão a ver desenhos animados na televisão, em altos berros, dentro do seu quarto. Encostei-lhes a porta. Não fechei, apenas encostei. Nem sequer deram conta, tão vidrados estavam na televisão. Mas eram daqueles desenhos animados asiáticos extremamente barulhentos, com muita gritaria. Tão pequeninos e vão já ficar surdos. Escusado será dizer que não surtiu grande efeito – alguém voltou a abrir a porta – pelo que todos os quartos do hotel tiveram de ficar ouvir os desenhos animados chineses, cheios de gritos e karaté.

Outra questão que ainda não comentei, também a propósito dos hotéis, é que todos – todos, sem exceção – têm edredons brancos, daqueles farfalhudos e quentes, como lençóis. Nos primeiros dias em Yunnan souberam-me bem, pois fez frio. Mas no resto da viagem, já com calor, ficar tapada com um édredon farfalhudo e quente não calha bem. Mas dormir destapada também não. Pelo que durante estes 25 dias de viagem, quase todos os dias a mudar de hotel, vi-me grega com este pormenor. Ou vi-me chinesa. E acabou por perturbar-me o sono, aqui e além. Ora tenho calor, ora tenho frio – conforme me tapo e destapo durante a noite. De qualquer forma esta é uma moda internacional, quase que me arrisco a dizê-lo. Está na moda os hotéis não porem lençóis e porem apenas edredons-lençóis, chamemos-lhe assim. Não são todos, claro, mas há uma grande percentagem a fazê-lo, inclusivamente no ano passado, na viagem dos 838 km de bicicleta na Europa Central. O que não é positivo nem traz bem estar aos hóspedes. Terão as suas razões, não sei quais são, pois lavar lençóis é muito mais prático do que lavar edredons. A China soube copiar este hábito mau dos ocidentais. Ou se calhar fomos nós que os copiámos a eles, já não sei.

Terceira curiosidade sobre os hotéis, que ainda não comentei até agora: as tomadas elétricas são iguais às portuguesas. Levei três adaptadores comigo para poder carregar vários dispositivos ao mesmo tempo, todavia nunca os tirei da mala. Ademais, grande parte dos quartos tem mesmo tomadas USB. Nem sequer a ficha elétrica foi necessária, era só ligar os cabos às várias tomadas USB. Tendo em conta que muitas vezes estive no meio do nada, no campo, este pormenor revelou a evolução tecnológica em Yunnan, neste aspeto. Pelo menos para receberem os turistas de outras partes da China sobretudo, dado que os ocidentais são muito raros.

Finalmente, para terminar este tema dos hotéis, pelo que percebi é permitido fumar nos quartos. Por duas ou três vezes fiquei em quartos a cheirar a tabaco.

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