069 – Chegada a Tiger Leaping Gorge
Ou em português: Garganta do Salto do Tigre, situada numa área protegida de Yunnan chamada “Os Três Rios Paralelos”. Esta região foi declarada em 2003 pela Unesco como Património Mundial, abrangendo parte das bacias do Rio Yangtzé (mais especificamente, o rio Jinsha, o trecho superior do rio Yangtzé), do Rio Mekong, do Rio Salween, e as Montanhas Yunling. De acordo com a Unesco, esta área contém o ecossistema com maior biodiversidade, na China, e pode ser a região temperada mais diversificada do ponto de vista biológico, na terra.¹
Este nome – Garganta do Salto do Tigre – tem origem numa lenda em que um tigre, ao fugir de um caçador, saltou a garganta na zona mais estreita, com cerca de 25 metros. A Garganta do Salto do Tigre é uma zona de imponentes desfiladeiros, conhecida pelo trekking de “risco”. Amanhã vou fazer 18 km de trekking – de risco – 18 km absolutamente vibrantes.
Ficámos alojados os três na “Sean’s Guest House”, o único hotel em toda a viagem com um nome em inglês. O dono é australiano (não estava presente), e entretanto separou-se da mulher australiana e casou-se com uma chinesa, a qual está presente, vai receber-nos, e a qual virá a ter um papel muito importante nesta minha estadia. Será ela quem vai ajudar-me em algumas coisas, nomeadamente no cuidado com a alimentação (o meu primeiro e único grelhado na China) e na minha primeira aventura de subir uma montanha a pé. Aqui já existem alguns ocidentais, um pouco mais radicais, com rastas, por exemplo. No pátio do hotel estava um grupo de uns 7 ou 8 estrangeiros louros, rapazes e raparigas dos seus 20 e tal anos, com piercings e tatuagens, de roupas coloridas.
Eu nem queria acreditar quando vi o menu do restaurante, no hotel. Hambúrgueres, pizzas, panquecas. Hoje estou no 12º dia de viagem. Estas coisas existem? Hambúrgueres, pizzas, panquecas? Decididamente este hotel pertence a um australiano. Hoje é o dia em que não me encontro muito bem de estômago, tenho de ter cuidado (isto é algo ligeiro, afinal de contas pedalei o dia todo sem problemas – mas tenho de ter cuidado com o que como), pelo que optei por algo que me apetece bastante: sopa de abóbora! E arroz cozido. A pequena tigela de esparguete é da guia, ela deu-me esta tigela, mas não pude comer porque estava muito picante. Portanto o meu jantar foi sopa de abóbora e arroz cozido. E o mal estar do estômago desapareceu por completo. Acabou-se. Aqui vou ficar duas noites, e aqui vou recuperar totalmente do estômago.
Aproveito para comentar também a presença do pequeno bloco em cima da mesa – é um dos blocos que comprei nos “Animais de Rua”, através da internet, em Portugal, para apoiá-los (comprei alguns e distribuí-os pelos amigos) e este ficou para mim. Usei-o durante a viagem para ir tirando apontamentos.
O motorista Nong Bu a tocar o seu Huqin. Acho que é um Huqin. Ninguém conseguiu dizer-me o nome do instrumento em inglês. Se eu estiver errada, por favor corrijam-me. Há muitos tipos de Huqin, este será um deles, creio.
¹ “Three Parallel Rivers of Yunnan Protected Areas” (s.d.). Criterion (x), UNESCO. Página consultada a 14 janeiro 2018, <http://whc.unesco.org/en/list/1083>