110 – O Simpático Grupo de Raparigas na Excursão de Autocarro

A excursão de hoje começa às 9 da manhã e acaba entre as 17 e as 18h.

Antes das 8.30h o dono do hotel deixou-me na paragem. Fui das primeiras a chegar, tive de mostrar o passaporte, preencheram uns papéis, e entrei para o autocarro. Os primeiros lugares já estão ocupados. Fui para a última fila, junto à janela, e fui vendo os restantes passageiros a chegarem e a registarem-se.

O papel foi passando entre todos, até chegar à última fila, onde eu me encontro. Está totalmente em chinês e eu tentei adivinhar o que cada campo pede. E preenchi conforme imagino que seja. O número começado por 184 é o meu número de telemóvel chinês. Ainda por cima enganei-me e preenchi na linha de cima. Na segunda coluna já vinha com aquelas letras chinesas preenchidas. Não sei quem preencheu, já me chegou às mãos assim. Na última coluna todos escreveram os mesmos caracteres. Se calhar é o nome da excursão, ou a nacionalidade. Deixei em branco.

Para agravar – no meio desta diferença toda, em que todos me olham, curiosos – eu estou azul. Eu tenho as pernas e as mãos azuis. “É uma extraterrestre azul” – aposto que pelo menos os miúdos pensaram isto. Ou tem uma doença qualquer estranha. É que levei um saco azul turquesa comigo que perde a tinta – é ridículo, um saco perder a tinta (e trouxe-o de Portugal), mas com o protetor solar e o anti-mosquitos que eu tenho posto, faz ali uma reação qualquer, retirou a tinta e  besuntou-me toda. Como encostei o saco às pernas, fiquei com as pernas azuis. E as mãos também.
Estou tramada.
Felizmente as quatro raparigas aceitaram-me, na minha bizarra diferença – encaracolada e azul – e ainda tentaram ajudar-me a limpar-me. Foi a Tang Meijuan (cujo nickname em inglês é “Toffee”) quem se sentou ao meu lado, no banco de trás, e meteu conversa comigo. As outras três raparigas vão dispersas pelos restantes lugares livres do autocarro, dado que elas entraram já no final. Quem está um pouco acanhada sou eu, desta vez. Ninguém fala inglês, dão-me um papel chinês para preencher, e ainda por cima estou azul. Ouvir o inglês da Tang Meijuan, a dirigir-se-me, foi um alívio.

Partimos às 9.25h. À frente, em pé, vai a guia local. Muito simpática, sempre sorridente e bem disposta, nasceu para isto. Fala muito pouco inglês, mas o suficiente para orientar-me. Registou o meu telemóvel e eu gravei o seu também. Vai haver muita gente, uma autêntica multidão, e eu não posso de maneira perder-me deles. Ninguém me percebe. Fizeram-me fotografar a matrícula do autocarro, inclusivamente, para o caso de perder-me.

Uma hora na fila para fazer cinco minutos de teleférico. Se calhar era mais prático subirmos a pé. Mas eu já estou na companhia das quatro raparigas, pelo que a hora foi passada a conversar animadamente. Há muitas perguntas de ambas as partes. Mostrei-lhes onde fica Portugal no mapa, na internet (do telemóvel) e convidei-as a visitar-me.

Uma visão clara do lago Erhai. Vê-se a estrada principal com oito faixas (quatro em cada sentido). Mais perto do lago está a estrada secundária, com uma faixa em cada sentido e com bermas largas para motas e bicicletas. E rente ao lago existem os caminhos locais, os quais andei a fazer ontem de bicicleta. A cidade de Dali está a uns quilómetros para a direita.

Visita a uma gruta. Hoje estou no vigésimo dia da viagem, e nunca andei no meio de tamanha multidão, desde que cheguei à China. Minha querida bicicleta e minha querida liberdade.

Além da Tang Meijuan, à minha direita, a He Xiao Hua, a Luo Wejun e a Zhu Bige. Todas da província de Guangdong. As quatro terminaram a universidade no ano passado e estão agora a dar aulas. Duas são professoras de chinês, as outras duas são professoras de inglês – todas no ensino primário, explicaram-me. Foram elas que salvaram este dia de ser um desastre total. São quatro raparigas a passarem sete dias de férias juntas. Eu contei-lhes que hoje é o meu último dia em Yunnan, e que amanhã parto para Pequim. Sugeriram-me visitar a “Grande Guerra”, em Pequim. Fiquei intrigada. A Grande Guerra? É um monumento? – perguntei. Fiz pesquisa sobre o que visitar em Pequim, ainda em Lisboa, antes de partir para a China, e não me surgiu nada sobre a Grande Guerra. Qual será a Grande Guerra? O que há para ver nesse monumento? – perguntei. Então elas descreveram-me que tem muitas pedras e é muito comprida. Já percebi. A eterna troca dos “L” pelos “R”. Elas referiam-se à “Great Wall”, não à “Great War”. Rimo-nos todas. Foi uma bela descrição da Grande Muralha – entendi imediatamente. Tem muitas pedras e é muito comprida. Sim, vou ver a Grande Muralha!, respondi-lhes.

A Tang Meijuan (ou Toffee, o nickname em inglês).

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