027 – Trekking Improvisado
Foram ao todo 21 km de bicicleta, manifestamente pouco, mas foi um passeio magnífico. Após almoço vamos descansar um pouco na Casa de Hóspedes (eu nitidamente contrariada dado que não sou amiga de descansos à tarde, mas faz um calor insuportável e eu não me apetece fazer kayaking naquele pequeno lago; não me apetece andar de cavalo no meio daquela multidão com aquele calor todo; e tenciono subir uma das montanhas, a pé, ali ao nosso lado, mas lá me convenceram pelo menos a deixar passar a hora do calor). Ao fundo estão duas t-shirts minhas, bem como a sweatshirt, a secar ao sol. De manhã a guia deixou a máquina a lavar. Hoje é o sexto dia de viagem (dois dias para os voos, dois dias a pé, dois dias de bicicleta) e aquela sweatshirt já teve um uso massivo, dado o frio que apanhei nos primeiros dias. Felizmente consegui lavá-la hoje.
Pouco depois das 16h aí vamos – eu, o Jai Song e a guia, os três sem saber ao certo o que vamos fazer. Vamos a pé. E eis que eles começam a seguir o caminho dos cavalos. Sempre com uma quantidade de cavalos e turistas neles montados a passarem por nós, tudo enlameado e cheio de bosta. Mas eu não quero fazer este caminho, disse-lhes. Procuro caminhos alternativos, mais tranquilos. Aqui tem um movimento desgraçado, temos de estar sempre a desviar-nos dos cavalos…
E no meio desta indecisão, eis que vislumbro uma pequena vereda que sai do caminho principal e começa a subir a montanha. Vamos por ali, disse-lhes. Eles mostraram-se indecisos. É um caminho minúsculo e vamos desaparecer no meio do mato, sabe-se lá até onde. Bom, mas o caminho há de levar-nos a algum lado, disse-lhes eu. Pois não quiseram ir – disseram que iam ficar com as pernas arranhadas. Sim, é verdade, provavelmente vamos ficar com uns arranhões. Resultado: fui-me embora sozinha pelo estreito caminho. Quero subir a montanha, isto há de levar-me a algum lado, depois descerei pelo mesmo caminho, espero não me perder. Para todos os efeitos tenho o telemóvel comigo, com o cartão chinês, e tenho rede. Se me perder, telefono à guia.
E lá fui. Desapareci no meio do mato.
Afinal a caminhada não foi longa, nem durou meia hora. Fui parar aqui, um novo caminho em construção, com uma bela vista sobre a vila. Não se vê vivalma.
Algures nesta estrada, à esquerda, está a entrada para o meu pequeno caminho no mato que me trouxe cá acima. Passa tão despercebido, no meio da vegetação, que deixei um montículo de pedras a assinalá-lo.
Cá está o montículo de pedras em cima da pedra grande – ali é a entrada de regresso ao meu caminho no mato.
Quando cheguei lá abaixo, menos de uma hora depois, deparei com o Jai Song e a guia sentados no chão, já no meio do mato também. Tinham optado por sair do caminho principal, com constantes cavalos a passar, e fizeram uns metros pelo estreito caminho, até se sentarem numa pequena clareira, onde esperaram por mim. Soltei uma gargalhada ao vê-los. Rapidamente se puseram em pé e riram-se também. Afinal não venho com as pernas arranhadas, o caminho faz-se bem.
E tal como eles perceberam que não podem contar com muitos quilómetros de bicicleta e grandes velocidades comigo, também eu fiquei a perceber que não posso contar com grandes aventuras de trekking com eles. Estou por minha conta. E daqui a uns dias vou mesmo fazer uso do telemóvel para irem salvar-me no meio da vegetação, num episódio hilariante. Eu tenho de subir uma montanha. Tantas montanhas em Yunnan, e eu não subo uma montanha a pé?
Lá chegaremos.