014 – Final de Tarde Chuvoso em Shuhe
Parece contraditório passear com chuva, mas foi a melhor altura, porque a multidão desapareceu. A guia também se foi embora, ela e o motorista Jai Song estão noutro hotel, a meia hora do centro. Esta chuva não será conveniente para os lojistas, mas é delicioso para alguém como eu. Tenho agora um pouco de silêncio, e caminho no meio daquelas casas e ruas tão antigas, tão cheias de história. Durante séculos passou aqui tanta gente, na Rota do Chá e dos Cavalos. Tanto comércio, tanta atividade, pessoas e cavalos carregados de chá e mercadorias.
Várias vezes me perguntaram, no meu regresso, se sentia segurança. Sim, creio até que foi dos países do mundo – de todos os continentes por onde andei até agora – onde mais segura me senti. Não tinha qualquer receio em caminhar sozinha pelas ruas e ruelas em Yunnan, e mais tarde em Pequim. Em Pequim então senti-me plenamente à vontade, inclusive à noite. É um povo calmo e pacífico, e em Pequim existem guardas por todo o lado, 24h por dia, às vezes muito pachorrentos. Naturalmente que o perigo e a criminalidade existem em todo o lado. Não temos assistido às notícias escabrosas de delinquência nas nossas aldeias em Portugal? Existe por todo o lado e temos de estar preparados. Claro que não andei à uma da manhã sozinha em ruas escuras, e há determinados cuidados a ter, seja onde for, seja numa aldeia portuguesa ou numa aldeia chinesa.
Quando regressei ao hotel, à hora de jantar, encontrei este morador na cozinha. Ainda não o tinha visto. Já tinha visto o recipiente no chão onde ele come, mas o seu ilustre dono ainda não tinha visto. Não me ligou, estava ocupado com o jantar em família… Perguntaram-me se eu era servida, mas eu agradeci e recusei. Ainda estou a fazer a digestão do almoço tardio. (Tudo por gestos, claro, ninguém fala inglês).