008 – Visita à Cidade Antiga de Dayan

Conforme referi antes, Lijiang foi considerada pela Unesco em 1997 como Património da Humanidade, e divide-se em três povoações antigas: Shuhe, Dayan e Baisha. Conforme descrito no site da Unesco, “as três mantêm a sua paisagem urbana histórica com grande qualidade e autenticidade. A sua arquitetura mistura elementos de várias culturas que se juntaram aqui ao longo dos séculos. Lijiang também possui um antigo sistema de abastecimento de água que é de grande complexidade e ingenuidade e que efetivamente ainda funciona hoje. A antiga cidade de Lijiang tornou-se num importante centro para a comunicação económica e cultural entre vários grupos étnicos, como os Naxi, Han, Tibetanos e Bai.” (http://whc.unesco.org/en/list/811)

Dayan é a maior povoação, está cheia de turistas orientais e é encantadoramente exótica para gente como eu. Levo três anos a percorrer cada rua, a observar tudo, a tirar fotografias, a deixar-me absorver por aquele ambiente tão antigo, tão cheio de história e há tão pouco tempo aberto aos turistas estrangeiros. A agitação não é totalmente nova para mim já que estive no vizinho Vietname, não muito longe desta zona, mas o encanto e o espanto são permanentes. E quem provoca espanto também, nos orientais, sou eu própria, a única ocidental a passear por ali. O meu cabelo encaracolado trai-me fortemente. Os chineses têm todos cabelos escuros e lisos. Verem uma ovelha ambulante, encaracolada, de cabelos relativamente claros, desperta nítido interesse e às vezes riem-se. No meio daquela multidão, durante um dia inteiro, não vi um único ocidental. Com o tempo vou habituar-me a ser fixada, chegará a um ponto em que já nem dou conta.

O povo Naxi tem 3 religiões principais: Dongba, Budismo Tibetano e Taoísmo. Nesta foto vê-se uma manifestação da religião Dongba: pequenas placas de madeira penduradas, com desejos escritos, que formam sinos de vento. A Dongba tem origem na religião Bon, uma antiga tradição tibetana anterior à chegada do Budismo. A mitologia Dongba baseia-se na relação entre o Homem e a Natureza: ambos são meio-irmãos, do mesmo pai e de duas mães diferentes.

Eis a famosa fruta chamada Durião, já minha conhecida do Vietname. Esta fruta só existe aqui, no sudeste asiático. E cheira tão mal. O cheiro é tão pestilento. Estão a ver aqueles queijos malcheirosos, que empestam tudo à volta? Pois o durião é igual. Mas sabe tão bem. É tão bom. Tão doce, tão saboroso.

Espetáculo de música e dança com os trajes tradicionais Naxi.

E aqui estão as Pitaias – ou Fruta do Dragão – o fruto de casca vermelha com picos, também já meu conhecido do Vietname. Não é tão doce como o durião, mas tem um grande aspeto, tão exótico. Parece um kiwi branco por dentro.

Belos petiscos, heim? Uns escorpiõezinhos estaladiços, que tal? Eu até gostava de experimentar – aliás, na Amazónia experimentei uma daquelas minhocas brancas, a saber a coco, acabada de sair do fruto. Mas estes petiscos aqui já foram manuseados e cozinhados e eu tive receio pelo meu estômago. Estou no princípio da viagem, não convém arranjar problemas digestivos. Mas faz um pouco de impressão, faz. Se calhar não poderia olhar muito tempo antes de dar uma dentadinha, senão mudaria de ideias.

Agora é o Mangostão, o fruto escuro a meio da foto, redondo, com folhas verdes. Nem queria acreditar quando o provei. Hoje vejo na Wikipédia que o mangostão é considerado pelos habitantes desta zona como a fruta mais saborosa do mundo: “a rainha das frutas tropicais”, verdadeiro “manjar dos deuses”. Pois concordo plenamente. Depois de se provar um, tem de se comer mais uma dúzia deles e nunca mais se esquecerá.
O que está à frente (bolas verdes) não sei qual é, talvez seja a Guava, mas não tenho a certeza.
E atrás das uvas está o Rambustão, outra delícia – as pequenas bolas vermelhas com picos. A fruta no sudeste asiático é uma coisa espantosa. Tendo eu percorrido os cinco continentes, atrevo-me a dizer que é aqui que se encontra a melhor fruta do mundo. Infelizmente eu estou condicionada, não posso comer fruta descascada, por exemplo. Conforme referi na crónica 6, basta a faca estar molhada com água da torneira e pronto, é gastroenterite ou diarreia certas. No Vietname fiz o disparate de comprar fruta descascada na praça, precisamente no último dia da viagem. Nesse mesmo dia eu ia apanhar o avião de regresso a Lisboa. O médico tinha deixado claro, na consulta do viajante (e voltou a deixar claro agora, na viagem à China) que eu não podia comer fruta descascada, nem legumes crus. Mas a Rute, no último dia da viagem, já estava excessivamente confiante. E deliciou-se com a fruta. Era a despedida: antes de ir-me embora quero comer pela última vez estes manjares dos deuses.
Pois a Rute, nessa viagem do Vietname, fez uma viagem de avião para esquecer. E à chegada à Portugal foi direta para o hospital, onde lhe quiseram dar soro.
Portanto, nesta viagem à China, a Rute aprendeu a lição e teve muito cuidado. Nada de comer fruta descascada. Não devemos tocar na fruta. Tem de ir direta da casca – o fruto no interior – para a boca. Hoje, a passear por Dayan, ainda não vou comê-la. Tenho receio, tenho recordações más do passado. Todavia mais à frente vou ter ajuda de umas raparigas chinesas que vou conhecer. São elas que vão comprar a fruta e dar-ma a comer. Lá chegaremos, vamos andando com calma.

Dentro daqueles recipientes de madeira, encavalitados uns em cima dos outros, estão guiozas a cozer a vapor. Vê-se a fumegar. Esta foto foi tirada à porta do restaurante. Um desses recipientes vai ser meu – ou melhor, as guiozas cozidas a vapor que estão no seu interior. A forma de as cozerem a vapor tem um certo mau aspeto, de facto, mas as guiozas eram deliciosas, misturadas com um caldo. Comi-as no quarto do hotel e foi o meu jantar. As guiozas são massa com um recheio – neste caso era de carne de porco picada. Provavelmente já toda a gente experimentou guiozas nos restaurantes chineses em Portugal. Sou fã e aqui na China vou tirar a barriga de misérias. Vou comer guiozas até não poder mais – literalmente.

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