097 – 20º Dia, É desta que Finalmente Partimos
Esta foto foi tirada à noite, antes de ir para o hotel. Ao fundo à direita vêem-se jacas, que também já mostrei na crónica 49, em Manufahi (Timor-Leste). E ao centro em baixo está a pitaia, que eu conheço por “dragões vermelhos” por ter aprendido em inglês quando estive no Vietname. Estas pitaias vêem-se à venda em alguns supermercados em Portugal, para quem deseja experimentar sem ir à Ásia 🙂 Vejo a seguinte informação na Wikipedia:
Imagem retirada de https://pt.wikipedia.org/wiki/Pitaia
Existem três espécies de pitaias: a pitaia-branca (rosa por fora e branca por dentro), a pitaia-amarela (amarela por fora e branca por dentro) e a pitaia-vermelha (avermelhada por dentro e por fora). Como a planta da pitaia só floresce pela noite (com grandes flores brancas), as suas flores são algumas das várias plantas chamadas de “flor da noite”. As pitaias de casca vermelha, particularmente, são grande fonte de vitamina A, e são ricas em ferro.¹
Aqui o Valério voltou a comprar-me um cacho de bananas. Novamente muito frutadas, parece que estou a comer um batido com várias frutas misturadas. Juntamente com um pacote de leite com chocolate, uma ou duas bananas foram o meu jantar. Não me apeteceu jantar. Recordo que tenho pensão completa nesta viagem, ou seja todas as refeições estão incluídas. Pelo que se não me apeteceu jantar, é porque não me apeteceu mesmo. Eu estou desejando é de ver-me livre da barulheira e do trânsito caótico de Kupang. Este hotel sossegadinho veio mesmo a calhar – daqui de dentro já ninguém me tira.
Só me arrependo hoje de não ter comprado uma jaca. Gosto tanto. Ou até mesmo uma pitaia, só para matar saudades, pois este fruto não tem grande sabor. Mas as más experiências que tive no passado, de comer fruta crua com as mãos, e de diarreias e gastroenterites, fazem-me pôr um travão nestes meus apetites. Vou ter de resolver isto de alguma forma, nas minhas próximas viagens.
Chegada ao hotel onde vou pernoitar. Foi preciso andar à procura de hotéis com quartos disponíveis, e particularmente em ruas sem trânsito, o que em Kupang não é fácil. Mas este é bastante tranquilo e confortável.
Autocolante no teto com a indicação “Kiblat”. Mostra qual a direção de Meca, para os hóspedes do hotel poderem rezar na direção certa. Estamos na Indonésia, país de muçulmanos.
Amanhece novamente em Kupang. Estou no 20º dia da viagem. Eu já não devia estar aqui, mas pronto. Pelo menos tenho uma bonita paisagem neste hotel, e um bom pequeno-almoço. Como não jantei, agora vou comer bem. São 5.45h da manhã. O pontualíssimo Valério chegou às 6, e o Sanches às 6.20h. Ambos pernoitam no mesmo quarto, enquanto viajamos os três. Desta vez tomamos todos o pequeno-almoço aqui, e a partida está marcada para as 6.45h. O Valério falou-me que nestas terras fazem massagens baratas, e contou-me que esta noite fez uma. Aliás, perguntou-me se eu queria contratar uma, mas eu estava tão saturada das oficinas e com tanto sono, que não quis. Porém creio que me arrependi, devia ter feito! Em praticamente todas as viagens faço uma massagem de uma hora para relaxar, e nesta em Timor escapou-me. O Valério foi mais esperto. Custou 11 dólares, disse-me.
O cozinheiro a preparar-me ovos mexidos, a meu pedido. Sabe bem comer assim de vez em quando; em Timor-Leste fazem falta estes bons pequenos almoços às seis da manhã. O Hotel Timor em Díli deve ter (e a estas horas) mas as pousadas e guesthouses também deveriam ter. São países quentes, convém começar os dias cedo. (Bom, os nórdicos da Europa são dos países frios e devem responder-me que nos seus países também os dias começam bem cedo). Os latinos e os timorenses é que gostam de deixar o vale dos lençóis já a manhã vai a meio. Sendo eu latina, não me enquadro nesta filosofia. Mas também não me enquadro nos países frios. Frio é que não. Portanto, meus amigos: calor e matinar… é o que está a dar. Fiz um verso e tudo. O mundo chama-me, esperam-me tantas aventuras e descobertas. Consigo lá ficar na cama mais meia hora que seja.
As crianças estão a entrar na escola, a esta hora, e há polícias por todo o lado a orientar o trânsito, sobretudo junto às escolas.
Isto é um déjà vu… aqui estou eu novamente a buscar o Rui na sua casa. Ontem foi exatamente o mesmo. Ontem fiz 5 km na bicicleta e voltámos para trás, vamos ver se hoje a coisa corre melhor.
E aqui estamos nós novamente no restaurante, para levarmos o nosso almoço embalado. O Rui aproveitou também para tomar o pequeno-almoço.
Enquanto isso eu estou na rua a tirar fotos a quem passa. E chegou este casal, que veio cumprimentar-me. São os pais adotivos do Rui, descobri pouco depois. O Rui é de Baucau, em Timor-Leste, mas veio morar para Kupang quando era criança, em fuga da guerra. Os pais mantiveram-se em Timor-Leste. Este casal também é timorense e ele é tio do Rui. Como tomaram conta dele quando fugiram para a Indonésia, o Rui trata-o por pai. Segundo a tradição timorense, nestes casos o tio é considerado “aman kiik” (ou pai mais novo) em vez de tio. Hoje o Rui trabalha na prisão de Kupang. É muito “cool” (é uma boa descrição que encontro) e vai ajudar-me em tudo o que consegue, nas minhas lides ciclísticas. Vai pedalar um bocadinho e tudo, numa subida, quem diria, com aquela bela barriga proeminente.
¹ “Pitaia”, Wikipedia. Página consultada a 22 Janeiro 2019,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Pitaia>