100 – Pedalando Estrada Fora
Os dois militares são timorenses de leste.
Mais outro “bem vindo” (Selamat Datang), desta vez a “Desa Naitae”, ou seja, à vila de Naitae. Esta vila tem uma especificidade, todavia. É uma “Kampung KB”, ou em português, “Aldeia PF” – de Planeamento Familiar.
Encontro esta notícia de 2017 na BBC News:
“Nós vamos para o campo para motivar as pessoas. Às vezes querem ter três filhos. Nós dizemos que dois é suficiente. Às vezes as pessoas não concordam, dois não são suficientes, ainda querem três. Fazemos um serviço de planeamento familiar uma vez por mês, especialmente para controle de natalidade, com pílulas, preservativos, implantes de DIU de longo prazo (dispositivos intra-uterinos).”
O governo indonésio lançou um programa de planeamento familiar no final dos anos 1970, com o objetivo de incentivar a população a usar contracetivos e reduzir o número de nascimentos. O número de filhos ideal numa família é considerado de dois. Quarenta anos depois o programa revelou-se fracassado: os valores duma pequena família próspera ainda não estavam vivos, como evidenciado pela fertilidade da população da Indonésia em 2012, com uma taxa de 2,6 por mãe, relativamente alta. Esta província no leste da Indonésia, onde me encontro agora – East Nusa Tenggara – registou um número elevado: 2,5. Atualmente, a taxa média de natalidade na Indonésia está no nível 2.3, ainda alto.¹
Veja-se o report do “FP2020” (o “Family Planning 2020” é o resultado do “London Summit on Family Planning”, realizado em 2012, no qual mais de vinte governos se comprometeram a abordar a política, o financiamento e a distribuição, bem como a resolver as barreiras socioculturais no acesso às informações, serviços e fornecimento de métodos anticoncepcionais às mulheres. O FP2020 trabalha com governos, sociedade civil, organizações multilaterais, doadores, setor privado e a comunidade de pesquisa e desenvolvimento para permitir que mais 120 milhões de mulheres e jovens raparigas usem contraceptivos até 2020).²
Segue o report do “FP2020”:
“O Governo da Indonésia prioritizou o uso de contracetivos modernos entre diversos grupos de mulheres e continua a melhorar a qualidade dos serviços. Desde o compromisso original do FP2020 em 2012, a Indonésia aumentou o investimento nacional no planeamento familiar e, em 2017, comprometeu-se a alocar 1,6 biliões de dólares nesta área entre 2015 e 2019. A Indonésia integrou inclusivamente o planeamento familiar no seu programa nacional de seguro de saúde, e visa expandir o seu alcance através do envolvimento do setor privado, incluindo serviços pós-parto e pós-aborto.³
Continuando com a notícia da BBC:
A partir de 2016, a Agência Nacional de Planeamento Familiar iniciou um novo projeto chamado “Kampung KB”, focado em alvos pobres, áreas urbanas densamente povoadas, vilas de pescadores, bairros de lata e outras áreas desfavorecidas. Espera-se que este novo projeto – “Kampung KB” – seja capaz de alcançar a comunidade, especialmente em aldeias, vilas e vilarejos em toda a Indonésia. Até setembro de 2017, foram desenvolvidas 1.200 “Kampung KB” em todas as províncias da Indonésia. Nova esperança deu-se também com a entrada do planeamento familiar no seguro nacional de saúde, onde tudo é suportado pelo Estado.
A maioria ou 45% das mulheres indonésias realiza contracepção por injeção, enquanto o resto consome pílulas (22,6%), usa implantes (7,5%), dispositivos intra-uterinos (DIUs) ou espirais (8,1%), faz laqueação de trompas (6,4%), e uma minoria usa preservativo (2,6%).
Em 2019, a Indonésia visa atingir pelo menos 2,8 milhões de novos utilizadores, com uma proporção de uso de anticoncecionais modernos de 65%.¹
Esta foi tirada pelo Valério. Estava aqui parado à minha espera e disse-me que as senhoras queriam tirar uma foto comigo. Chamou-me ao longe, andava eu a fotografar as alfaces: “NORTE!”. Chamarem-me assim, desta maneira, até obedeço logo. Dei meia volta na bicicleta e fui ter com eles para saber o que me querem. O Valério, bem como outros timorenses, também me chamam frequentemente de “mana”. Passei a ter muitos irmãos e irmãs em Timor. Mas desta vez fui chamada pelo meu nome. Uma das raras vezes em que me chamou pelo último nome, o Valério. Houve um dia em que ele estava distraído com qualquer coisa, ao pequeno-almoço, e eu chamei-o com a mesma autoridade: “XIMENES!” O Valério endireitou-se imediatamente e quase fez a continência. Rimo-nos. Toma lá para aprenderes, caro companheiro da pickup.
Agora é o Rui que faz esta subida por mim. Portanto em vez de 831 km (menos os cem metros do Valério, na crónica anterior – 830,9 km) afinal só fiz 830,8 km nesta viagem! Temos de ser rigorosos. Há aqui um trabalho de equipa de ciclistas.
Tenho agora 51 km de bicicleta e são 13.20h. Há uma subida de 600 metros, dizem-me. Ninguém quer fazê-la. Vou então no tabuleiro da pickup, pronto.
¹ Amindoni, Ayomi (2017, 12 Dezembro) “Kampung KB, upaya ‘mendengungkan’ kembali keluarga berencana”. BBC Indonésia. Página consultada a 27 Janeiro 2019,
<https://www.bbc.com/indonesia/majalah-42225648>
² “FP2020 – About Us”. Family Planning 2020. Página consultada a 27 Janeiro 2019,
<https://www.familyplanning2020.org/about-us>
³ “Indonesia – Commitment Maker Since 2012”. Family Planning 2020. Página consultada a 27 Janeiro 2019,
<https://www.familyplanning2020.org/indonesia>