107 – Entro em Batugade, Timor-Leste Novamente & os Cinco de Balibó

Despedi-me do Sanches em Batugade, dado que vai regressar a Díli numa microlet. Fez-nos companhia durante a parte indonésia de Timor, agora é altura de deixar-nos.

O bantengue (Bos javanicus), também conhecido como vaca Balinesa. Os bovinos balineses são animais extremamente rústicos, de pequena estatura, resistentes às doenças e às agruras das prolongadas estações secas que se registam em Timor. Nesta estação do ano, estes bovinos conseguem alimentar-se do capim seco e das folhas das árvores. Também são suplementados com palha de milho e restos das hortas. A sua principal produção é a carne e não são ordenhados.¹
Ao fundo à esquerda vêem-se os Bufálos dos Pântanos (Bubalus bubalis carabanensis), ou em tétum, “karau”. (Ver a crónica 15 para mais detalhes sobre este búfalo).

O Valério aguardava aqui por mim. Ali à frente começa a subida da montanha, pelo que passo este bocado para a pickup.

Transcrevendo o que está escrito no placard:

Na terça-feira 14 de Outubro já todos os cinco jornalistas estavam em Balibó, juntamente com José Ramos-Horta, que era na altura um dos dirigentes da Fretilin. Todos juntos acompanharam uma patrulha das tropas da Fretilin e tiveram a oportunidade de filmar uma grande concentração de barcos de guerra indonésios ao largo de Timor. Nesse mesmo dia José Ramos-Horta regressou a Díli, levando consigo filmes de ambas as equipas para enviar para a Austrália. Estes filmes constituíram uma das últimas reportagens que os cinco jornalistas conseguiram mandar para fora.

À casa onde dormiam os jornalistas chamaram “a embaixada australiana” e depois, por brincadeira, “secretariado da Commonwealth”, visto que Cunningham era neo-zelandês e Peters e Rennie eram britânicos. Pintaram uma bandeira australiana na casa esperando que ela lhes servisse de proteção em caso de ataque. Como jornalistas profissionais no exercício das suas funções não contavam virem a ser eles próprios alvo de ataque. Estavam tragicamente enganados. Os cinco foram assassinados pelas forças indonésias a 16 de Outubro de 1975.

O governo australiano levou quase um mês a confirmar a morte dos jornalistas, perante a indignação geral do povo australiano que se manifestou contra as mortes e contra a reação do governo australiano à invasão de Timor-Leste. No dia 5 de Dezembro, num cemitério de Jacarta e durante uma cerimónia em que participaram vários membros do pessoal da embaixada australiana e seus cônjuges, jornalistas australianos residentes em Timor-Leste e o secretário da Associação de Jornalistas Indonésios, foram enterrados, num só caixão, o que se dizia serem os restos mortais dos jornalistas. Nenhuma das famílias foi convidada. Em vez disso, as famílias ficaram abandonadas ao seu desgosto, com o qual tiveram que lidar nos dias, meses e anos que se seguiram. As circunstâncias destas mortes têm sido fonte de controvérsia desde então. Ninguém foi acusado do crime. Dois inquéritos levados a cabo pelo governo australiano deixaram muitas questões em aberto e nunca se realizou um inquérito judicial exaustivo.

Greg Shackleton, Gary Cunningham, Tony Stewart, Malcom Rennie e Brian Peters morreram porque estavam a relatar acontecimentos que as forças militares indonésias não queriam ver relatados. Roger East, outro jornalista australiano que foi a Timor-Leste para fazer uma reportagem sobre o destino sofrido pelos Cinco de Balibó foi morto a tiro no porto de Díli no dia 8 de Dezembro de 1975, vítima da execução em massa de civis timorenses.

Não foram os únicos a morrer. No subsequente conflito e durante os 24 anos de ocupação indonésia, calcula-se que tenham morrido mais de 200.000 pessoas em Timor-Leste. Este número inclui soldados das Falintil e civis da aldeia de Balibó bem como do circundante distrito de Maliana.

Esta Casa é-lhes dedicada.

Foi feito um filme sobre os Cinco de Balibó, em 2009, um filme australiano. “Balibo” foi a primeira longa-metragem a ser realizada em Timor-Leste. As filmagens em Díli começaram em Julho de 2008, com a polícia das Nações Unidas a fechar as estradas para permitir que as cenas fossem filmadas.² Participaram entre 60 e 70 habitantes locais, e 30 soldados timorenses vestiram-se como tropas indonésias segurando espingardas falsas nas filmagens do filme australiano “Balibo”, disse a polícia das Nações Unidas.³


¹ Lança, Augusto Joaquim de Carvalho (2009, 2 Dezembro), “Os bovinos de Timor-Leste”. Timor Agrícola. Página consultada a 5 Fevereiro 2019,
<https://timor-agricola.blogspot.com/2009_12_02_archive.html>

² “Balibo (film)” (s.d.). Wikipedia. Página consultada a 5 Fevereiro 2019,
<https://en.wikipedia.org/wiki/Balibo_(film)>

³ “ETimor capital shuts down for movie invasion remake” (2008, 31 Julho). Agence France Presse. Página arquivada consultada a 5 Fevereiro 2019,
<https://web.archive.org/web/20090726105258/http://afp.google.com/article/ALeqM5iTL-50sFQUd1pCCR572_dGGQOwAA>

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