073 – Almoço nos Barbecues da Praia
É meio dia e tenho 50 km feitos na bicicleta. Vejo a pickup do Valério lá ao fundo, à minha espera. Não gosto, neste caso é mau sinal. Eles – o Valério e o Sanches – querem que eu passe para a pickup, para irmos mais depressa, pois temos duas fronteiras para passar. Temos de sair de Timor-Leste e fazer uns quilómetros dentro da Indonésia, até entrar novamente em Timor-Leste, no enclave do Oecusse. São duas fronteiras, e a última fecha às 17h. Isto das fronteiras fecharem é um stress. Ainda vamos ter de acampar algures, se não conseguirmos chegar a horas. Fiz-lhes a vontade, reticente. Logo agora que tenho umas estradas tão boas, a direito. E houve uma subida em que o Valério me empurrou, para acelerarmos. Parecia uma criança a ser empurrada no triciclo! 🙂
Já dentro da pickup. Os restaurantes à frente, à beira mar, onde vamos almoçar.
Chama-se Lina e fala português, inglês, tétum e uma quarta língua que só percebi “kema”. Não encontro nada parecido, nas 15 ou 16 línguas faladas em Timor-Leste. Vejo que em Liquiçá se fala “tocodede”, mas isto não me parece nada semelhante a “kema”. Bom, fala quatro línguas, é o que interessa.
Arroz embrulhado em folha de coqueiro. Muito bom, é feito com leite de coco e açafrão, e é uma especialidade timorense chamada “Catupa” ou “Katupa”. Vejo que a Timor MEGAtours tem um percurso dedicado à gastronomia de Timor-Leste, neste link, onde refere também a catupa.
Por seu turno, o peixe chama-se em tétum “combom”; pelo menos assim percebi.
Tenho a confessar que ainda fiz uma birra, antes de almoçar, porque o novo guia que nos acompanha, o Sanches, disse que só iríamos almoçar cerca das duas da tarde. Era quando haveriam restaurantes. Então eu tratei de comer bananas e bolachas para aguentar mais duas horas. Afinal ao meio dia paramos aqui. Resultado, eu tenho a barriga cheia de bananas e bolachas. Como é que querem que eu almoce agora?, perguntei. E ainda estivemos todos indecisos sobre o que fazer. O Valério foi buscar uma caixinha de plástico para guardar o peixe e levarmos connosco. Enfim. Entretanto o peixe ainda levou algum tempo a assar, eu fui passear pela praia, tirei algumas fotografias, fiquei um pouco mais calma e decidi sentar-me e comer o que conseguisse. O Valério foi-me passando pedaços de peixe, que rapidamente iam desaparecendo do prato. Cada um que desaparece, aparece outro. Pareço um gato, mas pronto. O Sanches ainda não percebe nada destas lides ciclísticas e alimentares, coitado. É o seu primeiro dia connosco. Ainda fica muito espantado a ver a bicicleta a entrar e sair da pickup várias vezes, conforme é necessário, e eu a resistir a largá-la. “Há subidas” – diz o Valério. E eu largo logo a bicicleta.
Experimentei hoje a cerveja indonésia que se bebe por aqui. Não sou boa avaliadora porque efetivamente não ligo a cerveja. Só misturada com um refrigerante gaseificado de lima-limão, ou então melhor ainda, com groselha. Portanto não gostei. O que é normal, deve ser boa, portanto. E não estava fria. Não há frigoríficos aqui.