077 – 16º Dia, Oecussi-Ambeno, Enclave Timorense no Território Indonésio
Partimos às 7.45h. Hoje levamos um guia local connosco, chamado Ego, o qual irá aparecer nas fotos mais à frente. Vou dar um passeio de bicicleta pelo Oecusse, irei visitar uma aldeia remota e ver e ouvir a sua música tradicional, e regressaremos à noite a esta mesma pousada. Ao final da tarde poderei fazer um pouco de praia, se houver tempo e se me apetecer.
Hoje é domingo, dia de missa. Há uma multidão a caminhar pelas ruas em direção à igreja. Todos bonitos e perfumados.
Que linhas faciais belíssimas tem este garoto ao centro. Quando crescer, se mantiver os traços, bem que poderá ser o próximo top-model timorense.
Os também bonitos rapazes do Oecusse. Adolescentes. São iguais em qualquer parte do mundo, os rapazes adolescentes. Sejam timorenses, portugueses ou australianos, estão na idade parva, mas pronto. É próprio e a gente acha graça. Tirar-lhes esta foto foi um sarilho, exigiu algumas tentativas e anulações.
Isto parece um desfile de moda, não me canso de fotografar as pessoas.
Saio do centro da cidade, Pante Macassar, e prossigo viagem. O Valério, o Sanches e o Ego vão mais à frente, como é hábito. As estradas por enquanto são boas.
De acordo com o site do Governo de Timor-Leste:
Oecussi-Ambeno foi o primeiro ponto da ilha de Timor em que os portugueses se estabeleceram, pelo que é usualmente considerado o berço de Timor-Leste. Em 1556, um grupo de frades dominicanos estabeleceu o primeiro povoado em Lifau, a meia dúzia de quilómetros a oeste de Pante Macassar. Em 1702, Lifau tornou-se capital da colónia ao receber o primeiro governador enviado por Lisboa, estatuto que manteve até 1767, quando os portugueses decidiram transferir a capital para Díli, como resultado das frequentes incursões das forças holandesas. Será só em 1859, com o Tratado de Lisboa, que Portugal e Países Baixos dividiram a ilha entre si: Timor Ocidental para os holandeses, com sede em Kupang, e Timor-Leste para os portugueses, com sede em Díli, reconhecendo Oecussi-Ambeno como um enclave português no espaço holandês.
A invasão indonésia do até então Timor Português ocorreu em Oecussi uma semana antes de no resto do território – foi em 29 de Novembro de 1975 que Pante Macassar foi ocupada pela quinta coluna do exército indonésio. Contudo, mesmo sob ocupação indonésia, Oecussi-Ambeno continuou a ser administrado como parte da província de Timor Timur (a designação de Timor-Leste na língua indonésia), tal como sucedia no tempo dos portugueses. Por conseguinte, aquando do reconhecimento da independência de Timor-Leste, em 2002, Oecussi-Ambeno permaneceu naturalmente parte integrante da nação Timorense. Para além das línguas oficiais do país, o tétum e o português, no distrito de Oecussi-Ambeno grande parte da população expressa-se em baiqueno.¹
E veja-se esta notícia de 2015:
Isolado durante os últimos cinco séculos e praticamente esquecido, quer durante a ocupação indonésia, quer durante o período da independência, Oecusse está hoje a viver um movimento sem precedentes. Dezenas de empresas trabalham no terreno, inúmeros projetos estão a ser feitos ao mesmo tempo, o número de estrangeiros é o mais elevado em muitos anos – só portugueses são cerca de 50 – e uma fatia significativa do Orçamento do Estado está canalizado para a região.
Lojas, casas, pequenos negócios que mostram uma comunidade de 70 mil habitantes (na capital são cerca de 10 mil) [atualmente, em 2018, andam pelas 12 mil] a despertar depois de uma letargia provocada pelo abandono e esquecimento.
As ligações regulares por mar (e desde 2015 por ar) evidenciam o crescente interesse do enclave, com cada vez mais passageiros e cada vez mais negócios, procurando responder a uma procura também sem precedentes. A procura é tanta que o pequeno mercado, que não estava minimamente preparado para este furacão de obras, muitas vezes sente carências, inclusive de produtos essenciais como cimento ou outro material de construção.
Transportar coisas de Díli é caríssimo – um contentor que custe 5.000 dólares para viajar da Europa até Díli pode custar 20 mil só para ir de Díli até Oecusse – pelo que o lado indonésio da ilha de Timor é o recurso mais usado. Apesar disso, Díli é o recurso para alimentar novos negócios – já abriram vários restaurantes, estão pensados outros serviços e até vai abrir uma ‘filial’ da única discoteca de Timor-Leste.²
(Deixo a nota de que esta discoteca efetivamente abriu, à beira mar. No entanto fechou há 2 ou 3 anos porque o dono quer fazer daquele espaço um lugar para convenções, reuniões ou mesmo festas).
¹ “Divisões Administrativas – Distrito de Oecussi-Ambeno”. Governo de Timor-Leste. Página consultada a 23 Dezembro 2018,
<http://timor-leste.gov.tl/?p=91>
² Sampaio, António (2015, 6 Novembro) “Oecusse, enclave timorense que é hoje terra do pó, onde os miúdos ainda dizem boa tarde”. Agência Lusa, Sapo Notícias. Página consultada a 23 Dezembro 2018,
<https://www.sapo.pt/noticias/oecusse-enclave-timorense-que-e-hoje-terra-do_563c59b68f3b01ed6ca70db6>