054 – Ramelau, 2986 Metros de Altitude
Eis o pico Tatamailau, o pico mais alto do Ramelau. Há vários picos, este é o mais alto, e é o objetivo a atingir. Vejo na Wikipedia que “Tatá Mai” significa “avô” e “Lau”, “monte”; ou seja, Tatamailau é o “avô dos montes”, segundo dados retirados pela Wikipedia do livro “Andanças de um Timorense”, de 1998, do escritor timorense Ponte Pedrinha.¹
Na minha subida encontrei este rapaz chinês já a descer. Fala muito pouco inglês e vem acompanhado dum rapaz timorense – um guia local. Pelo que li é obrigatório subir o Ramelau com um guia local, mas não há controle nenhum e pode eventualmente ser engano na informação, ou alguém inventou como pretexto para ganhar algum dinheiro com os turistas. Não sei. O caminho é bem visível e faz-se bem sozinho. O Martinu ainda me levou por uns caminhos alternativos, escondidos no meio do mato, mas se não estivesse consigo eu teria feito sempre o caminho principal.
Este rapaz chinês explicou-me que começou a caminhada às seis da manhã, e mostrou-me algumas fotos tiradas com o telemóvel, do sol a nascer. Como podem calcular, num telemóvel só se vê negro e uma luz redonda. Ainda não foi desta que me convenceram. Eu contei-lhe que estive no ano passado na China, no sul, e também em Pequim. Ele indicou-me a terra de onde vem, mas eu não consegui perceber. Mas não é Pequim.
Por esta é que eu não estava à espera. No topo está a figura de Nossa Senhora de Fátima e uma placa a dizer “Portugal – Alto império que o sol logo em nascendo vê primeiro”.
A placa diz:
Sr. Laura de Fátima Sarmento, Op.
Mate iha Maubisse bainhira fila hosi peregrinasaun
Tinan 10 nian iha loron 7 Outubro 2007
R.I.P.
Significa:
Sister (“Sr.” quer dizer “Sister” em indonésio).
“Op” quer dizer Odem dos Pregadores (do latim Ordo Praedicatorum) que é o mesmo que Ordem Dominicana, do fundador São Domingos de Gusmão.
Faleceu em Maubisse após o regresso da 10ª peregrinação no dia 7 de Outubro de 2007.
R.I.P. – é a sigla para “Requiescat in pace”, expressão em latim que significa “descansa em paz”.
Pelo que me contaram, esta Irmã estudou Português na UNTL (Universidade Nacional de Timor Lorosa’e) e era aí conhecida. Sofria de asma e participou na 10ª peregrinação ao Monte Ramelau a 7 de outubro de 2007. No regresso sentiu-se mal, caiu, foi evacuada e faleceu já em Maubisse. Todos confirmam a sua morte devido à asma, apesar de algumas pessoas falarem duma doença diferente. Pelo que me contaram, a bomba que a Irmã levava para aspirar não funcionou, quiçá por causa do frio.
O tímido e silencioso Martinu aparentemente tem uma calma e auto-controle fora de série. Aqui pedi-lhe para me tirar uma foto, e planeámos a foto antes. Pacientemente fez de modelo para eu ver os melhores ângulos em que poderíamos tirar.
Levámos 1,45h a chegar cá acima. Estivemos aqui vinte minutos, o Martinu entretanto sentado enquanto eu espiolhava e fotograva tudo; sentei-me eu depois um pouco a respirar o ar das montanhas, e iniciámos a descida às 9.35h. Numa hora e dez minutos pusemo-nos lá em baixo. Ainda escorreguei algumas vezes e fiquei inclusivamente sentada no chão, com as quedas, a resvalar. O Martinu, coitadinho, com 18 aninhos (ninguém tem 18 anos, insisto) ainda me deu a mão, para ajudar-me. Ouvem-se cavalos a relinchar. Eu comi umas bolachas e dei uma barra de cereais ao Martinu. E bebi o mais que pude só para ele não carregar com as águas. E depois tive de ir fazer xixi e ele teve de afastar-se, para eu ir à casa de banho. (Claro que não há casa de banho nenhuma, é mesmo no mato). Ele nem bebe nem vai à casa de banho, a coisa é mais simples. Dei-lhe 20 dólares, e disse-lhe para não dizer nada ao Valério, o qual lhe irá dar outros 20, se bem percebi. Ficou contente, nos seus 18 aninhos, com duas notas no bolso para gastar com os amigos. Ou se calhar com a família.
¹ “Monte Ramelau” (s.d.). Wikipedia. Página consultada a 20 Novembro 2018,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Monte_Ramelau>