057 – De Volta a Díli

Este cacho de bananas que o Valério comprou custou 50 centavos, disse-me. Se fosse em Díli custaria 3 ou 4 dólares, disse-me também. Para ficarem com uma ideia dos preços, a manteiga de amendoim e o spray anti-mosquitos para a casa, custaram ambos 8 dólares em Lospalos. Os preços da cidade são idênticos aos de Portugal. Mas também não há manteiga de amendoim nem spray anti-mosquitos à venda no meio das palhotas, no campo.
Fica a nota de que despachei o cacho vermelho em 24h. As restantes estragaram-se.

São 48 km de Aileu até Díli. Após almoço fiz 4 km sempre a subir. De barriga cheia. Lentamente e muito contrariada. Mas não quis estar a telefonar ao Valério para voltar para trás, a buscar-me. Também tenho o meu orgulho. Além de que estou sempre à espera que a subida finalmente acabe. Cada curva que faço, espero ansiosamente que seja então. Neste ponto (desta foto) desisti e passei para a pickup. O Valério estava aqui parado. Não quero saber quanto tempo falta, não ando nem mais um metro, cheia de bife com cogumelos.
E descobri que só faltava mais um quilómetro a subir. Fiz apenas 1 km na pickup e voltei à bicicleta. A partir de então foi sempre a descer. Em estrada de alcatrão, com uns buraquitos aqui e ali, a toda a velocidade. Velocidade máxima atingida: uns magníficos 50,4 km/h.

Esta terra parece a Twilight Zone.

Aproxima-se a capital de Timor-Leste – Díli – e começam os sinais da civilização. Além de mais tráfico automóvel, flores. Flores para enfeitar as casas. No campo não há flores à venda. As pessoas apanham-nas em frente à sua porta, onde elas nascem naturalmente, e pronto.

Seis da tarde, chegada aos encantadores apartamentos do condomínio fechado da Vila Cardim, em Díli, onde já pernoitei na primeira noite, e vou pernoitar agora novamente. Veio o segurança abrir o portão ao Valério, na pickup, e a mim, que vinha atrás na bicicleta. Se me vejo a tomar um duche como deve ser, até digo que é mentira. Recordo que na noite anterior, além de ter passado um frio de rachar (crónica 52), quase não tive água – nem quente nem fria. Pelo que eu estou a necessitar seriamente de um banho. O meu cabelo está mais pesado só com a quantidade de terra que tem em cima. Hoje subi uma montanha a pé e depois fiz 58 km na bicicleta. Se calhar por isso é que o Valério me deixou fazer aquela subida toda, depois de almoço – não quis doninhas fedorentas na sua pickup. Aqui tenho água em abundância, e bem quente. Vou transformar a casa de banho numa Twilight Zone também. E há grandes toalhas para me embrulhar e secar. São pequenos confortos que atenuam a dureza da vida.
O Eduardo Massa, da Timor MEGAtours, (o qual apareceu na crónica 3) entretanto ligou-me para definirmos o programa dos próximos dias. Amanhã de manhã parto para a ilha de Ataúro, e pernoitarei lá apenas uma noite, está definido. Eu fiquei indecisa sobre quantas noites quero lá passar. Se uma ou duas. Não sei bem o que há para fazer lá. Então o Eduardo mandou entregar-me um programa informativo sobre Ataúro, no apartamento, para eu ler. Mas fico uma noite, deverá chegar.
Perguntou-me também onde quero ir jantar agora, mas eu não quero jantar de todo. Fiquei satisfeita com o bife e os cogumelos, já tarde; agora à noite bebo apenas leite. Também tenho bananas e bolachas, se me apetecer algo mais.

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