044 – Chegada a Viqueque

Chegámos às 18h a Viqueque, mas não vamos ficar aqui porque o hotel está mesmo no centro, na estrada principal. Ora se bem se recordarão da crónica 4 (não se lembram, claro, mas eu deixo uma dica: foi aquela em que eu andei a mudar de quartos de hotel por causa do barulho dos carros) agora na crónica 44 temos o mesmo problema. É curioso. Isto é problema da numeração. Crónica 4 / crónica 44; quando chegarmos à 444 também vou mudar de hotel. Não tem nada a ver comigo, é pura coincidência da numeração. (Pronto, pronto, fiquem descansados que não vamos chegar à 444).
Então vamos fazer mais meia hora de caminho até uma pequena povoação a seguir. Se a estrada estivesse boa seriam 5 minutos de caminho. Assim é meia hora, em câmara lenta, com muitos saltos.

Eu já não aguento mais os calções do ciclismo, são quentíssimos, têm esponja por dentro, parece que tenho uma fralda. Dentro desta igreja há-de haver uma casa de banho para eu trocar de calções. Parece que voltei à Áustria, com uma igreja tão bicuda e tão grande, mas de momento a preocupação é mesmo trocar de calções.

Andava eu à procura de uma casa de banho, veio o pároco ter comigo. Acho que é o pároco. Eu com um par de calções vermelhos numa mão, e a máquina fotográfica na outra. Felizmente fala bom português e expliquei-lhe que os calções que trago vestidos são muito quentes, que já não vou andar de bicicleta hoje, e que quero trocar pelos que tenho na mão. Ele levou-me então para uma parte interior da igreja, junto à entrada, e deu-me acesso a uma casa de banho. Não tem água, disse-me ele. Para o que é, não é preciso, e agradeci-lhe. O pior é que esta casa de banho é tão minúscula, e com o chão molhado e sujo, que a operação de despir e vestir lá dentro é complicada. Acho que vou mas é lá para fora, junto às escadas que sobem para o primeiro andar. Há uma secretária com coisas em cima. Vou ser rápida. Ninguém há-de vir nestes segundos. Se alguém vier e me apanhar na fase intermédia – aquela em que estou de cuecas com dois calções na mão (acabei de tirar uns e ainda não vesti os outros) vai ser lindo. Porque é que o pároco traz uma mulher aqui para dentro que agora está de cuecas.
Fui o mais rápida que pude, e felizmente ninguém veio.

Devo ter tirado umas dez fotos à ambulância, que ia a toda a velocidade à nossa frente, e esta foi a que melhor se aproveitou. É que estamos a ser completamente chocalhados. Eu tenho fotos do teto da pickup, com tanto trambolhão. Quase que preciso de pôr o capacete. O Valério disse que se porventura for uma mulher grávida naquela ambulância, ela já terá perdido o bebé por esta altura. Rimo-nos os dois, com este humor macabro.

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