017 – Mergulho e Almoço numa Praia Deserta

Mas há alguma praia em Timor-Leste que não seja deserta?… Lá está… é um pequenino diamante em bruto. Quando o turismo se desenvolver vai ser lindo. Como será daqui a cem anos? Será que alguém vai ver estas fotos de praias desertas? No meio de muitos chapéus de sol e toalhas estendidas na areia, nessa altura, será que consultarão estas fotos nos smartphones – ou nessa altura já devem ser uns óculos especiais, já não haverão smartphones, devem ser uns óculos tridimensionais ativados com a íris dos olhos ou com o pensamento… “Consultar fotos antigas de Rute Norte”- será a ordem desse utilizador, para os óculos – e estas fotos aparecer-lhe-ão diante dos olhos. (Querias, meu amigo futuro, ter uma praia deserta só para ti!… – toma lá, para o caso de consultares as minhas fotos antigas).

Ele, ao saber que eu sou portuguesa (eu parei a bicicleta, claro, e meti-me com eles), disse que gostava muito de Portugal. Mostrou verdadeiro entusiasmo. Felizmente foi bem tratado pelos meus compatriotas, apercebo-me. Se ele soubesse falar português (ou eu, tétum) ter-me-ia contado as suas peripécias com os portugueses. Assim, ficamos sem saber, paciência. Mas pronto, seria complicado eu dizer que sou portuguesa e virem com três pedras na mão. Não. Pelo contrário, sou muito bem recebida sempre que digo que venho de Portugal.

Sessenta dólares é o preço deste peixe, contou-me posteriormente o Valério. Caro, heim.

Encontrei o Valério estacionado aqui. Explicou-me que vai comprar peixe nesta cabana, e vamos almoçar aqui na praia. São 11 da manhã. Não se esqueçam que acordei às 4 e meia da manhã (crónica 13). Já estou capaz de comer um frango inteiro. E o peixe ainda vai levar algum tempo a assar.

É meio dia, agora. A logística de alternar entre a bicicleta e a praia é um bocado trabalhosa. Trocar de roupa, vestir o fato de banho – vesti-o na cabana, se bem que tenha sido difícil explicar à senhora o que eu queria. Ela não percebe nada de português. Entretanto chegou um velhote também, e nenhum me deixa sozinha dentro da cabana, estão a tentar perceber o que eu quero, preocupados. Eu vou despir-me, enfim. Teve de vir o Valério explicar-lhes em tétum que quero vestir o fato de banho. Finalmente foram-se embora e fechei a porta. Fiquei no meio duns pintainhos que vieram sei lá de onde, no meio da tralha que existe dentro da cabana.

Depois do banho há que renovar o protetor solar. Afinal de contas vou andar de bicicleta sob altas temperaturas. Em cima do protetor solar tinha o anti-mosquitos, se bem se recordam da crónica 13, desta manhã. Agora já não renovei o anti-mosquitos. Aparentemente o mosquito da malária só ataca à noite. Vamos ver se não chego muito tarde ao hotel, pois ao entardecer já é aconselhável ter o anti-mosquitos posto. Isto de andar de bicicleta e interromper para dar um mergulho na praia é um bocado complicado. Tenho que escolher entre uma coisa ou outra. É que só tenho três embalagens de anti-mosquitos, que efetivamente não chegaram para a viagem toda. Se eu começo a renová-lo a meio do dia, então nem para metade da viagem chegará.

E quem me acompanha nestas aventuras todas são as minhas sandálias. Foram comigo ao banho, pois o fundo tem pedras e não sei se há para ali algum bicharoco. As sandálias secam depressa. Servem para tudo, estas sandálias que mandei vir dos EUA, através da internet. Em Portugal não se vendem coisas destas ainda. Servem para fazer caminhadas no meio da floresta, servem para andar de bicicleta, servem para tomar banho na praia. São umas mega-sandálias. Têm protetor dos dedos, com metal. Eu sei que conto sempre isto nas minhas crónicas, mas para algum novo leitor que por aqui apareça é importante explicar. Se eu der um pontapé numa pedra, é a pedra que sofre. Creio que já temos aqui uma Rute sandálio-dependente. Um bom calçado numa viagem é fulcral.

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