018 – Chegada a Com

Às 12.40h arrancamos no carro, está muito calor e vento de frente, não vou na bicicleta para já. E estou com tanto sono que nem me aguento em pé. Isto de acordar às 4 e meia da manhã, e ainda não ter os sonos ajustados para o horário de Timor, é terrível.

Edifício da antiga alfândega portuguesa. Agora é uma escola de inglês. O Valério parou o carro e eu fui visitá-los e conversar com os alunos que encontrei – em inglês, claro. Se estamos numa escola de inglês, é em inglês que falamos. Devia tê-los fotografado, é pena, falhei aqui. Eram 4 ou 5 rapazes e raparigas, apenas. Hoje é quarta-feira, mas agora não estão em aulas.

Bunker japonês. Vestígios da II Guerra Mundial. Citando a Wikipedia:

“O exército japonês invadiu Timor a 20 de fevereiro de 1942 , atacando a força aliada estacionada na ilha, composta sobretudo por militares da Austrália, do Reino Unido e dos Países Baixos (na altura a zona ocidental da ilha era colónia holandesa e a oriental portuguesa). Após uma intensa mas breve resistência, a maior parte das forças aliadas renderam-se, mas algumas centenas de comandos australianos continuaram a efetuar ações de guerrilha, sendo reabastecidos por aviação e embarcações, que partiam sobretudo de Darwin, Austrália, a cerca de 650 km a sueste. Durante os combates subsequentes os japoneses sofreram pesadas baixas, mas acabaram por derrotar os australianos, que foram evacuados a 10 de fevereiro de 1943.
Apesar de Portugal ser neutro, muitos civis de Timor-Leste e muitos colonos portugueses combateram ao lado dos aliados (…), ou apoiaram-nos com mantimentos ou abrigo. Alguns timorenses continuaram a resistir mesmo depois da retirada australiana. Por isso pagaram um pesado preço e dezenas de milhares de timorenses morreram devido à ocupação japonesa, que durou até ao fim da guerra em 1945.”¹

Chegada à guesthouse de Com. São 14h. Eu não aguento o sono, pelo que vou dormir a primeira e única sesta desta viagem. Se há coisa que detesto é dormir sestas em viagem. O tempo é tão escasso, tenho apenas 26 dias para aproveitar a viagem, posso lá dormir sestas. Mas hoje tem que ser, não aguento tanto sono. Senão arrisco-me a cair para o lado, adormecida, enquanto conduzo a bicicleta. Vou dormir duas horas – com despertador, senão vou até às 9 da noite ou coisa que o valha.
O meu quarto está atrás do Valério, tenho as colunas de som na minha janela, que felizmente nunca as ligaram. Grandes festanças devem haver por aqui.

O autoclismo não funciona, é preciso usar aqueles recipientes verdes tirando água da banheira. Até agora ainda não mostrei como funcionam a maior parte das casas de banho em Timor. De facto eu própria ainda não sei, nesta altura do campeonato. Vou saber na perfeição e vou tornar-me perita, mas agora ainda ando a descobrir as coisas. Afinal de contas hoje é apenas o segundo dia na bicicleta. É o quinto dia da viagem, mas os primeiros três dias foram ocupados com aviões, aeroportos, chegadas e preparativos. Ainda estou novata nisto. Tão novata que vou fazer o primeiro (e último) disparate. É suposto tomar banho em pé, deitando água por cima de mim, com um daqueles recipientes verdes. Tenho de dar um nome a estas coisas, pois doravante terei que nomeá-las com frequência. Talvez um pequeno alguidar com pega? Que nome é que se dá a uma coisas destas, alguém sabe? Isto tem que ter um nome. Tudo tem um nome. Bom, mas eu não sabia desta técnica para tomar banho. Para mim uma banheira é para eu entrar nela e tomar banho dentro dela. E foi o que fiz. Não foi agora, será mais logo, antes de jantar. Deram-me um balde de água a ferver para misturar com esta água fria. Sim, porque eu não tomo banho de água fria. Até podem estar 40 graus e eu completamente transpirada, mas água fria…. jamé… como dizem os franceses. Jamais. Sou pior do que os gatos. Esses nem fria nem quente, não querem água nenhuma, mas pronto, eu pelo menos ainda vou tomando um banho todos os dias. E se não querem que eu me transforme numa doninha fedorenta, por falta de banho, é bom que me dêem água quente. Ora a Timor MEGAtours já sabia disto. Desta minha aversão à água fria, pelo que o Valério tratou disto todos os dias, junto das pousadas e guesthouses onde vamos ficando. Ele fez questão de não ter uma doninha fedorenta dentro da sua pickup, pelo que pediu sempre para me levarem um balde de água a ferver, para eu misturar com a água fria. E assim tomei banho todos os dias com água morna. E hoje foi um grande banho de imersão. Lavei o cabelo e tudo. Fiquei saudável e fresca que nem uma alface. É feia, a casa-de-banho? Paciência.

O terraço da guesthouse, a olhar o Oceano Pacífico.

São quatro da tarde. Já dormi umas belas duas horas, ao som do mar e do vento, estou recuperada. É hora de ir espiolhar esta terra chamada Com. O Valério não o vejo em lado nenhum, deve estar a dormir a sua sestazinha também. Pisguei-me da guesthouse, com a bicicleta. Nesta foto vêem-se quatro placas fazendo anúncio a quatro casas de hóspedes, integradas num projeto de turismo comunitário. Já existe a intervenção da Direção Nacional do Turismo. Lindos meninos. A minha está à esquerda.

O que se faz por aqui?, perguntei-lhes eu. Na-a-a-a-a-da… – responderam-me.
Mas faz-se, faz-se. Vou ter aqui umas das melhores tardes desta minha viagem a Timor. Fica para a próxima crónica.

Já estou dentro do Parque Nacional Nino Konis Santana, o primeiro Parque Nacional criado em Timor-Leste, em 2008, com uma área total de 1.236 km². A parte marinha do parque está incluída no Triângulo de Coral, região biogeográfica que contém enorme diversidade de corais e peixes dos recifes de coral. O Parque foi batizado com o nome de Nino Konis Santana, nascido em Tutuala, comandante fundador das FALINTIL, as forças armadas do movimento de independência. O Parque, que chegou a estar ameaçado pela proposta de um projeto hidroeléctrico, o qual iria dividir a região ao meio e destruir a floresta local, inclui as margens costeiras de três vilas principais: Com, Tutuala e Loré².
Hoje estou em Com, em breve irei para Tutuala e Loré, e oportunamente falarei um pouco mais deste Parque.

Mapa do Parque Nacional Nino Konis Santana.
Foto retirada de: https://www.researchgate.net/figure/The-Nino-Konis-Santana-National-Park_fig7_260165658

Uma “No-Take Zone”, ou em português “Zona de Exclusão” é uma área reservada pelo governo onde nenhuma atividade extrativa é permitida. Atividade extrativa é qualquer ação que remove ou extrai qualquer recurso. Atividades extrativas incluem pesca, caça, extração de madeira, mineração e perfuração. A coleta de conchas e a escavação arqueológica também são extrativas³.

Uma “Buffer Zone”, ou em português “Zona Tampão”, são áreas criadas para melhorar a proteção de uma área de conservação específica, muitas vezes periférica a ela. Dentro das zonas intermediárias, o uso de recursos pode ser legal ou costumeiramente restrito, muitas vezes num grau menor do que na área protegida adjacente, de modo a formar uma zona de transição⁴.


¹ “Batalha de Timor” (s.d.). Wikipedia. Página consultada a 27 Setembro 2018,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Timor>

² “Parque Nacional Nino Konis Santana” (s.d.). Wikipedia. Página consultada a 27 Setembro 2018,
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Parque_Nacional_Nino_Konis_Santana>

³ “No-take zone” (s.d.). National Geographic. Página consultada a 27 Setembro 2018,
<https://www.nationalgeographic.org/encyclopedia/no-take-zone/>

⁴ “Buffer zones” (s.d.). Biodiversity A-Z. United Nations Environment Programme (UNEP). Página consultada a 27 Setembro 2018,
<http://www.biodiversitya-z.org/content/buffer-zones>

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