001 – Viagem a Timor – Introdução

Um diamante em bruto, ainda por delapidar – é a descrição mais rápida e adequada que encontro de Timor. Um diamante ainda escondido, desconhecido. O seu brilho, para quem consegue aproximar-se e vislumbrá-lo, já ofusca.

Desde 2010 que eu tentava ir a Timor, no entanto por um motivo ou outro acabou por ser uma viagem adiada. Mas em 2017 decidi que seria de vez. Tenho de ir a Timor. É importante, é essencial no conhecimento desta região asiática. Pelo que voltei a contactar as agências timorenses no sentido de planear a próxima viagem de 2018. Esse contacto já foi difícil logo à partida. A ilha de Timor está discretamente escondida, e as suas agências de viagens também. Foi quase um trabalho de detetive, encontrar – ou voltar a encontrar – as agências com quem tinha falado há anos atrás. Uma desapareceu, ou pelo menos nem me respondeu mais. E a outra – Timor MEGAtours – mais do que responder – aceitou o desafio e proporcionou-me esta espantosa viagem. Não é uma tarefa fácil, organizar uma viagem destas. Eu não quero um programa standard. Quero uma viagem de bicicleta, com um carro de apoio. Sem programas rígidos. Tudo vai depender da velocidade a que vou na bicicleta. E se quero demorar mais aqui ou ali. Se calhar estou a gostar de estar em algum local e quero prolongar a estadia. Ou se calhar quero acelerar. Porventura até será fácil organizar algo assim, mas poucos estão habituados e menos ainda têm a ousadia de experimentar cumprir a vontade dum cliente mais excêntrico. Eis portanto que obtenho esta maravilhosa viagem e vou finalmente conhecer as gentes e as paisagens de Timor – em bicicleta.

Vão ser 831 km de bicicleta e 1.459 km de carro, num total de 2.290 km, duma ponta a outra de Timor, durante 26 dias. E enfim, mais algumas milhas náuticas para visitar as ilhas de Ataúro e de Jaco. Três dias serão passados na parte indonésia de Timor (que por vicissitudes de bicicletas e oficinas transformaram-se em quatro dias e meio); o restante será passado em Timor-Leste, ou usando o nome oficial – República Democrática de Timor-Leste.

Dado serem umas férias desportivas, fisicamente intensas, o regime alimentar bem como o regime de sonos, são rigorosos. Adicionalmente às altas (e deliciosas) temperaturas, na ordem dos trinta e tal graus. Em termos práticos isto significa que tenho fotos tiradas às 5.45h da manhã a tomar o pequeno almoço – pequeno almoço esse que é constituído por carne e arroz, metade café e metade leite condensado. Os dias começam bem cedo – e em força. Também terminam cedo: às 21h estou a dormir. E a equipa que está comigo acompanha este ritmo.

Uma viagem desta envergadura, de bicicleta, em que ando por montanhas remotas, no meio de aldeias perdidas, onde as pessoas me tocam no braço para ver se é mesmo verdade, se eu estou ali, de bicicleta, sozinha, no meio do nada – é uma experiência muito marcante. Nem há palavras que descrevam propriamente uma viagem destas. O contacto direto com as pessoas, tê-las frente a frente, ser convidada a entrar em suas casas, ver por vezes a dureza das suas vidas. E receberem-me sempre com um sorriso. A doçura do povo timorense ficar-me-á para sempre na memória. Quando regressei a Portugal, foi-me colocada a pergunta habitual: “A viagem correu bem? Gostaste?” e acusaram-me depois de ser parca nas palavras. Eu podia responder “Gostei muito, foi fantástica!”, no entanto considero que essa seria uma resposta leviana. Parece que estou a falar dum cruzeiro no Mediterrâneo Efetivamente já fiz um cruzeiro no Mediterrâneo, e só andar num navio com catorze andares é mesmo fantástico. Mas não. Agora estou a falar duma viagem muito especial, profunda e marcante. Reduzi as palavras, portanto. Quase que me remeti ao silêncio. A melhor forma de perceber o calibre duma viagem destas é mesmo acompanhar as suas crónicas detalhadas, dia a dia.

Aí vão elas.

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