086 – São Jorge – Urzelina, Almoço & Piscinas Naturais
Agora tenho que fazer esta subida para chegar ao restaurante. Disseram-me que há um lá em cima. Foi o taxista Manuel que me disse, quando eu lhe perguntei por um bom e barato.
Posso escolher e repetir. Eu digo o que quero, e as senhoras põem no prato. Com sopa e sobremesa custa 7€.
Filetes dum peixe chamado panga, sem espinhas, deliciosos. Comi tudo o que está no prato exceto a perna de frango, que dei apenas uma dentada. A carne é fonte de proteína, e como eu tenho comido as barras de proteína, o meu organismo já não está a pedir-me carne. Estará a pedir hidratos de carbono. A salada de batata soube-me maravilhosamente bem e ainda repeti.
E acabei por esquecer-me de comer a sopa de peixe.
São 12h11, o restaurante abriu há 11 minutos, e está com bastantes clientes lá dentro. Quando eu sair, já perto das 13h, estará praticamente cheio. É bom, é bom. Ver estes negócios a prosperar, nesta altura fatídica da Covid-19.
Na segunda rodada experimento os filetes de abrótea. Os outros são melhores.
Vou dar uma volta aqui pela Urzelina, onde estou alojada. Afinal não vou à Fajã das Almas. Estou de barriga cheia e está muito calor. Vou lá fazer 10 km (ida e volta) com grandes subidas.
Escola Primária da Urzelina.
São 12h59 e o sino da Igreja de São Mateus vai bater as horas à minha chegada.
Igreja de São Mateus.
E a minha bicicleta encolheu!
Leio o seguinte na internet, numa página do Governo dos Açores:
A Igreja de São Mateus é uma igreja localizada na freguesia de Urzelina, concelho das Velas. Fica situada no centro da freguesia e começou a ser construída em 1822, para substituir a antiga igreja, construída no século XVII, e que foi destruída pelo vulcão no dia 1 de Maio de 1808. Depois deste acontecimento apenas restou a sua torre. [A qual irá aparecer nas fotos abaixo].
Em 1902, este templo era considerado um dos melhores da ilha de São Jorge. A iniciativa da sua construção pertenceu ao padre José António de Barcelos, vigário na Urzelina ao tempo da erupção. A construção da igreja iniciou a partir de esmolas e donativos do povo.
Esta igreja, no dia 26 de Setembro de 1869, esteve em risco de se perder com um incêndio. O povo que enchia o templo começou a gritar de aflição, procurando fugir. O incêndio porém não alastrou mais porque o senhor João Borges Cândido da Silveira e Melo, acompanhado dos executantes da filarmónica que no momento se encontrava na igreja, acorreram ao local e conseguiram dominar o incêndio.
Apesar de ser um templo alto e amplo, tem um corpo único. Tem um retábulo a talha pintada de ouro, azul e rosa, com motivos vegetalistas, o que pareça ser um influência das correntes artísticas da época.
O órgão presente nesta igreja foi colocado em 1855. É de construção de Marcelino Lima, do Faial. Foi restaurado por Tomé Gregório de Lacerda e mais tarde pelo maestro Francisco de Lacerda.¹
Infelizmente a igreja estava fechada e eu não pude ver o interior, todavia podem ser vistas fotos no site do Governo dos Açores.
À esquerda, um Império do Espírito Santo.
Império é a denominação dada a um pequeno templo de tipologia única no panorama arquitetónico nacional onde, entre o domingo de Páscoa e os domingos de Pentecostes ou da Trindade, predominantemente, se venera o Espírito Santo nos Açores. À volta dos Impérios desenvolvem-se durante vários dias as festividades do Espírito Santo, imbuídas de um ideal caritativo e compostas por um conjunto de cerimónias religiosas e profanas: a “coroação” do Imperador Menino, o desfile de cortejos e o bodo de pão e de carne.²
Mais adiante irei desenvolver este tema.
Pico, o Titã, sempre a espreitar o que se passa.
Estão a ver o micro-ondas ali à direita, na entrada da propriedade? É para colocar o pão. A moda não é só da ilha do Pico, afinal. E eu parei a bicicleta ali à entrada para fotografar o micro-ondas.
Nisto apareceu um cão enorme a ladrar, com uma corrente gigante, a correr na minha direção. Tive um segundo para empurrar a bicicleta para o lado – e eu também deslocar-me para a esquerda, para fugir do cão. Ele está deitado à sombra, no lado da casa, e tem uma corrente enorme que chega aqui à entrada.
A fera.
Este cãozinho é macho e tem seis meses. Está a tomar banho com gel de banho dos humanos, porque fica mais bem cheiroso. São os gatos que lhe pegam as pulgas, disse a dona, que acabei por não ficar com o seu nome. Esteve a catá-lo. Está cheio de carraças. A dona disse que ia à farmácia comprar uma pipeta anti-pulgas para lhe pôr.
Esta casa pertence a um casal norte-americano que não tem conseguido vir à ilha de São Jorge. O filho teve um acidente e ficou paraplégico. Mas já está a recuperar e a começar a andar, e eles querem vir para cá morar, contou-me a dona do cãozinho, ao ver-me intrigada com a bandeira dos EUA.
Vou segui-lo – disse eu a este pescador.
Ele ficou surpreendido, mas reagiu rapidamente, riu-se. “Então venha”, respondeu-me.
E explicou-me que vai pescar ali para a zona onde está o barco. O caminho é mau, apercebo-me. Hesito. Já tive a minha dose de rochas vulcânicas a subir a montanha do Pico. Fiquei a ver o caminho.
Mas depois decidi seguir o pescador. Deixei a bicicleta lá em cima presa com o cadeado (presa a nada…) e tentei o caminho. É bastante agreste.
O pescador já despareceu. Se eu fosse a segui-lo de perto, ele ensinar-me-ia onde colocar os pés e as mãos. Mas agora assim sozinha…. Desisti. Voltei para trás.
O que é isto? Com este calor, esta piscina natural tão apetitosa?…
São 14h10.
Vou a casa vestir o biquíni e trocar os calções da bicicleta por outros normais. Vou dar uns mergulhos. O meu alojamento está a 450 metros daqui.
Trinta e cinco minutos depois, aqui estou eu dentro de água. Mas a água está bastante fria!
São 16h14, vou-me embora. Até já dormi, estendida na toalha. Chegou uma porção de gente entretanto.
Eu estava ali no meio daqueles dois grupos, junto à rocha.
Cá está a torre que sobreviveu à erupção de 1808. Leio o seguinte no site da “Visit Azores”:
Tal como acontece noutras ilhas do Grupo Central dos Açores, a designação de “mistério” aplica-se a um campo lávico, de terreno rochoso e improdutivo, formado na sequência de uma erupção vulcânica presenciada pela população. Trata-se, neste caso, das escoadas lávicas do tipo aa do Mistério da Urzelina, originadas aquando da erupção de 1808. Estas lavas foram emitidas das Bocas de Fogo (ou Caldeirinhas), um conjunto de crateras localizado na cordilheira vulcânica central da ilha e movimentaram-se para sul ao longo das encostas, tendo atingido o mar nesta zona da Urzelina. A erupção de 1808 teve início em Maio e foi antecedida de diversos sismos sentidos pela população. A atividade explosiva foi responsável pela abundante queda de cinzas sobre a Urzelina e Manadas e as escoadas lávicas basálticas destruíram várias casas e a igreja, da qual resta uma torre sineira, que se ergue como testemunho silencioso daquela erupção. Este geossítio do Geoparque Açores tem relevância nacional e interesse científico, pedagógico, cultural e geoturístico.³
São agora 18h39. A Odília – dona do alojamento – veio trazer-me uma lâmpada amarela para um dos candeeiros das mesinhas de cabeceira. Ambas as luzes são brancas, e eu pedi o especial favor de trocar uma delas por uma amarela. (São esquisitices, podem vocês dizer, mas uma lâmpada amarela no quarto é essencial. A luz branca é muito agressiva, e pelo que dizem faz mal). É o terceiro incidente que tenho nesta viagem com as luzes das mesinhas de cabeceira, é curioso. Foi na ilha das Flores (fundiu-se), na ilha do Corvo (também se fundiu), e agora na ilha de São Jorge, esta troca de cores. Vai aqui grande atribulação com lâmpadas das mesinhas de cabeceira.
A Odília já tinha saído do trabalho e num instante se pôs aqui. Trabalha num lar e tem de fazer a análise à Covid-19 todos os meses, contou-me, a propósito da conversa que entretanto tivemos. A Susete, na crónica 31, também trabalha num lar, na ilha das Flores, e tem de fazer a análise de 15 em 15 dias, ainda é pior. A análise custa muito. Pelo menos a mim custou-me, conforme contei na crónica 60. Bolas. Fazê-la de 15 em 15 dias, ou de mês a mês, seria cá uma estopada…
Houve um grupo de oito pessoas aqui em São Jorge que foram passar férias ao Dubai e voltaram todas contaminadas. Três passaram mal, uma senhora dos seus 40 e tal anos teve inclusivamente um AVC. Os outros cinco foram assintomáticos. Isto foi logo no início da pandemia. Entretanto não houve mais casos, contou-me.
¹ “Igreja de São Mateus” (s.d.) Secretaria Regional da Educação e Cultura. Governo dos Açores. Página consultada a 18 de janeiro 2021,
<http://srec.azores.gov.pt/dre/sd/115152010600/nova/Site_AP12A/Construcoes/IgrejasErmidas/IMateus.htm>
² “Os Impérios do Espírito Santo na Ilha Terceira” (s.d.) SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitetónico”. Direção-Geral do Património Cultural. Página consultada a 18 de janeiro 2021,
<http://www.monumentos.gov.pt/site/app_pagesuser/siparoute.aspx?id=2097b07d-4235-4031-8c9c-19f7d4e0ca45>
³ “Mistério da Urzelina – Torre da Igreja” (s.d.). Visit Azores, Sítio Oficial Turismo dos Açores. Página consultada a 18 de janeiro 2021,
<https://www.visitazores.com/pt/the-azores/places-to-visit/misterio-da-urzelina-church-tower>