075 – Pico – Término do Passeio & Submarino Afundado
A Susana e o João, que dirigiram este passeio.
Faço uma interrupção neste passeio para falar de algo que aconteceu aqui perto. Ali à esquerda de Lajes do Pico, onde diz “São Mateus”, um submarino alemão foi afundado durante a Segunda Guerra Mundial, a 2 de fevereiro de 1942. Ele vinha em perseguição de um navio britânico que transportava soldados, o Llangibby Castle, o qual tinha sido danificado pelo torpedo de outro submarino dias antes, a 16 de janeiro de 1942. O navio danificado refugiou-se no porto da Horta, na ilha do Faial. O submarino alemão U-581 foi um dos três submarinos alemães destacados para tentar afundar o Llangibby Castle, quando este saísse do Faial. No entanto a presença de três navios de guerra da Marinha Real Britânica tornou-o num alvo, e acabou por ser destruído. Apenas em 2016, após 15 anos de trabalho, o submarino alemão U-581 foi encontrado nas profundezas, ali na zona de São Mateus.¹
Fotos retiradas de National Geographic.
Um dos sobreviventes alemães – Wolfgang Pohl – contou posteriormente que o navio escapou apenas “porque o mau tempo e o denso nevoeiro fizeram desaparecer o barco inglês”. Este aspirante tinha 19 anos em 1942 e regressou aos Açores em Setembro de 1967 para apurar se os seus camaradas de armas tinham sido sepultados no cemitério da Horta.²
Mais tarde, em 2012, Wolfgang Pohl, de visita aos Açores, onde vinha com frequência para homenagear os camaradas e visitar as suas «ilhas históricas», falou dos dias fatídicos da guerra e lembrou o homem – inimigo – que lhe salvou a vida. A entrevista foi emitida na Rádio Montanha no dia 28 de Setembro de 2012 e constitui, provavelmente, o derradeiro testemunho do último homem que navegara no submarino alemão. Pohl faleceu em 2016.³
(Citando a entrevista, onde Pohl conta que o submarino foi afundado após a tripulação se lançar à água):
Nesse momento, outro contratorpedeiro, o HMS Westcott lançou cargas de profundidade para o ponto onde estávamos. Uma explodiu mesmo à minha frente – talvez a 100 ou 200 metros. É mais difícil estimar distâncias quando estamos dentro de água. Senti que os meus pulmões ficaram sem ar quando a carga explodiu. Nadava e sentia o sangue na boca, juntamente com a água salgada. Ainda estava escuro, seriam seis horas da manhã. Pensei em desistir. Estava tão fraco que já não conseguia nadar. Sangrava. Nesse momento, três homens sentados à proa do HMS Croome lançaram-nos boias. Pegaram em mim e em mais quatro sobreviventes e subiram-nos a bordo.
Apenas cinco sobreviventes?
Neste contratorpedeiro, sim. O outro, o HMS Westcott, capturou 35 camaradas, mas, nessa altura, não o sabíamos. Estávamos separados. Nós, mais perto do canal do Pico; eles, na direção leste. Eu não conseguia ficar de pé, nem sentado. Estive quase a perder a consciência. O médico desse navio pôs os braços sobre os meus ombros e levou-me para a sua cabina. Deitou-me ali. Fiquei ali durante oito dias e ele permaneceu ao pé de mim durante esse tempo. Foi como um pai para mim! Ele salvou a minha vida.
Depois da guerra, procurei o seu nome, mas ninguém conseguia dizer-me onde vivia. Até que um amigo, curador no Museu Britânico dos Submarinos, em Gosport, descobriu por fim o seu nome e endereço. Infelizmente, em 1974, ele já tinha morrido. Escrevi à viúva e ela convidou-nos, a mim e à minha mulher, de imediato para sua casa. Visitámos em conjunto a sua sepultura. A viúva tinha então mais de noventa anos, mas ficou feliz por eu ter conhecido o marido. Nessa ocasião, deixámos um ramo de flores e um bilhete simples na sua campa: «Querido Dr. John Foley, muito obrigado por salvar a minha vida.»³
Ofereceram-nos sumos aqui dos Açores.
A Susana deu-nos depois uma explicação sobre as espécies que vimos. Nesta foto está o Golfinho Pintado do Atlântico.
Aqui a Baleia-Sardinheira.
O Cachalote, o que era caçado aqui nos Açores.
A Susana revela-nos o que nós vemos à superfície da água – apenas a parte de cima da baleia.
E aqui a Tartaruga-Careta.
Depois recebemos um certificado com os animais que avistámos: em baixo o golfinho Stenella frontalis; em cima, as baleias Balaenoptera borealis e Physeter macrocephalus. E também vi a tartaruga Caretta-Caretta.
E também vi um bicho felpudo.
A empresa dos passeios de barco fez-me o favor de chamar-me um táxi. Veio a Nilde, nesta foto. Foi ver qualquer coisa na frente do carro.
Oh! Um passarinho morto na frente do carro! A Nilde não teve coragem de tirá-lo. Eu fui apanhada de surpresa. Já íamos no carro, em andamento, e eu disse à Nilde que quando chegássemos eu iria tirar o pássaro. Coitado, já lhe basta ter morrido, ainda anda aí para trás e para a frente. A Nilde não consegue, disse que ia pedir ao marido. Ainda é pior do que eu. E depois da viagem esqueci-me completamente. O passarinho ali continuou.
A taxista Nilde nasceu aqui no Pico. Pedi-lhe para passarmos por uma mercearia primeiro, em caminho, para eu comprar um garrafão de água.
Fizemos 24 km, 25€.
Bom, e vou finalmente conhecer o meu alojamento.
Hoje fiz 1,8 km de bicicleta, de manhã, até ao barco, na ilha do Faial, e 50,7 km de carro aqui na ilha do Pico.
¹ Silveira, Susana (2017) “Submarino alemão afundado nos Açores durante a II Guerra Mundial”. Reportagem RTP Ensina. Página consultada a 2 fevereiro 2021,
<https://ensina.rtp.pt/artigo/submarino-alemao-afundado-nos-acores-durante-a-ii-guerra-mundial/>
² Rosa, Gonçalo Pereira (s.d.) “Submarino alemão a 800 metros de profundidade ao largo do Pico”. National Geographic Portugal. Página consultada a 2 fevereiro 2021,
<https://nationalgeographic.sapo.pt/historia/grandes-reportagens/1149-submarino-alemao-descoberto-a-800-metros-de-profundidade-ao-largo-do-pico>
³ Costa, Manuel Paulino (s.d.) “O último sobrevivente do U-581: Querido Dr. John Foley, muito obrigado por salvar a minha vida!”. National Geographic Portugal. Página consultada a 2 fevereiro 2021,
<https://nationalgeographic.sapo.pt/historia/grandes-reportagens/1151-o-ultimo-sobrevivente-do-u-581-querido-dr-john-foley-muito-obrigado-por-salvar-a-minha-vida>