067 – Faial – Praia da Fajã & Almoço

A minha posição está identificada pela seta azul. O meu destino está identificado pela bandeira axadrezada. Escolhi aquele destino ao acaso. Quero descer, quero ir para aquele ponto, e a partir dali ir para o Vulcão dos Capelinhos. Se eu pedisse um caminho direto para o Vulcão, o caminho seria diferente. E optei agora por um percurso de bicicleta, e não pedestre. Já são 10h30, tenho que despachar-me.

Um cavalinho muito lindo que anda aqui a passear!… – cantei-lhe.
– Vais visitar o Vulcão dos Capelinhos, não é verdade, Rute?
– É sim, cavalinho.
– Mas o caminho que estás a fazer agora não é muito bom. Irás fazer um desvio.
– Irei, cavalinho?
– Segue o teu caminho, vai bem.
– Adeus, cavalinho. Vive bem.

Isto é para o gado não passar.

Vêem-se frequentemente coelhos a atravessarem a estrada.

É tão raro eu ver alguém, que – como tem vindo a ser hábito – eu fotografo toda a gente que vejo, sejam turistas ou locais. Senão as fotos saem todas desertas. Vem aí este caminhante, e coitado, quer queira quer não, eu fotografo-o com o zoom no máximo, ainda ele vai longe. Eu já os tinha visto, estavam os dois sentados no topo dum monte. Nessa altura eu tive uns minutos ao telefone com a empresa de mergulho, em pé, parada na bicicleta, a combinar o mergulho de amanhã. À tarde vai haver um mergulho com tubarões, e o mergulho da manhã pode ser alterado em função desse. Mergulho com tubarões?! Vai haver um mergulho com tubarões?! Mas eu quero ir mergulhar com tubarões! – disse eu ao telefone. Não quero o mergulho da manhã, então, quero sim o mergulho da tarde, com tubarões. – Este mergulho da tarde está dependente do número de inscrições, estamos a aguardar algumas confirmações – disse-me o rapaz ao telefone – Gonçalo – que se identificou como sendo filho do Norberto, o dono da empresa. E ficou de dizer-me qualquer coisa durante o dia de hoje, para eu orientar também a minha vida.
Mergulhar com tubarões, que fabuloso. Espero que o mergulhe se realize, é uma oportunidade imperdível.

Entretanto chega este caminhante ao pé de mim, com a sua fiel companheira. Vive há 12 anos na ilha do Faial – acabei por não ficar com o seu nome! – e vai conhecer hoje pela primeira vez o Monte dos Trinta. Virei a descobrir mais tarde que é um cone vulcânico.

Perguntei-lhe os nomes, e não quiseram dizer – porque ela é casada com outro homem, disse ele. Rimo-nos todos. Ela é da Escócia, e ele da África do Sul. Ah, então e tu tens a tua mulher na África do Sul! E rimo-nos outra vez. (Estamos a falar em inglês).
Eles têm um barco e velejam juntos há 30 anos. Vão agora aos Capelinhos nadar, contaram-me. Falta-lhes apenas conhecerem a ilha do Corvo.
Que casal maravilhoso.

A tal “Reserva Natural” para onde eu apontei o GPS é por aqui. Diz que faltam 680 metros. Não vai dar a lado nenhum, está visto. Está no meio do mato. São 12h35, aproxima-se a hora de almoço, e eu decido mudar de rota. Vou mas é conhecer a Praia da Fajã e procurar lá um restaurante.
(E o cavalo tinha razão, vou mesmo fazer um desvio na minha rota inicial).

O relógio na parede marca 12h48 e está correto. Mas não se iludam com as mesas desertas.
– Qual é o menu, s.f.f.? – perguntei à rapariga que estava ao balcão.
– Nós só servimos o prato do dia, que hoje é frango frito. Também temos pizzas.
– Está bem, venha o frango frito. Vou sentar-me lá fora, posso comer na esplanada?
– Sim, mas nós só conseguimos servir a partir das 14h.
– Daqui a uma hora?!
– Sim, já temos muitas encomendas, as pessoas vêm cá buscar.
Esta é boa.
– Então vou dar uma volta e já regresso. Deixo-lhe o meu número de telemóvel, se porventura estiver pronto antes, ligue-me, p.f., que eu venho, estou de bicicleta.

Se todos os restaurantes tivessem esta velocidade a cozinhar – o prato do dia! – , estávamos tramados. E ninguém quer cozinhar aqui na Praia da Fajã?!… Vem tudo buscar comida?!…

Olha estes são mais despachados, cozinham ali, trazem comida e pronto. Só espero que não se tenham posto a encomendar também frango frito e pizzas no restaurante!

Isto já não está aqui a fazer nada. Mas a esfoladela – vermelhita – está ali por baixo do penso enrolado. Estas sandálias estão a atingir o fim de vida, coitaditas. Já fizeram tantas centenas de quilómetros pelo mundo fora, comigo. Não são elas as culpadas das esfoladelas. (Bom, eu já não vou repetir pela milésima vez o que me provocou estas esfoladelas).

Pedra vulcânica. A esta pedra os açorianos chamam de “biscoitos”, por se parecerem com os biscoitos torrados duas vezes que os pescadores levavam para o mar, muito duros. Também é chamada de pedra “aa” – pelo que me explicaram, porque os pescadores andavam descalços, e ao andar em cima desta pedra, a única coisa que se exclama é “ah… ah” – porque magoa bastante.

A Sofia, a Bianca e o Sandro são três faialenses que vieram passar o domingo aqui à Praia da Fajã. Nas fotos acima os três aparecem na praia, com a Sofia e a Bianca sentadas na toalha, na areia, e eu até pensei que fossem estrangeiros, pelo facto delas serem uma loura, outra ruiva. A minha foto anterior já foi tirada pela Bianca, que é dona duma loja de artigos náuticos. A Sofia, por seu turno, é dona duma loja de artesanto. O Sandro é dono desta pickup, a qual já me tinha despertado o interesse logo à chegada, e viaja com ela para outras ilhas. Ainda não as conhecem todas, está quase. O objetivo agora é irem ao continente com a carrinha, mas o transporte ida e volta é 1200€. Caramba. A seguir querem ir a Marrocos. Costumam vir a esta praia, e também à pizzaria onde eu encomendei o almoço. Gostam muito das pizzas daquele restaurante, dizem-me. Deixaram lá uma encomendada e vão para lá. Perguntei-lhes se posso ir com eles – tenho o meu frango frito à minha espera, supostamente.

Uma dose de frango frito, 7€. Bem me parecia que devia ter optado por meia dose. Comi apenas dois pedaços, e ainda consegui convencer o Sandro a ficar com um terceiro. Por seu turno, deixaram-me experimentar um bocadinho da sua pizza.

Desta vez não tirei o capacete – impede-me que o cabelo caia para os olhos, com o vento (estamos inclusivamente com camisolas de mangas compridas, pois à sombra faz fresco).

Agora vou de boleia até lá acima. A subida daqui da praia até ao cruzamento lá cima é bastante íngreme. O Sandro leva-me na sua magnífica carrinha.

Foram 1,9 km em subida muito acentuada. Soube mesmo bem, esta boleia tão pequenina, mas tão importante, e agradeci ao Sandro. Despedi-me da Sofia e da Bianca, e prossigo então caminho para o meu destino final: o Vulcão dos Capelinhos. São agora 14h47 e tenho 20,5 km na bicicleta.

<< >>