058 – Corvo – Em Busca do Queijo do Corvo & na Casa do Mudo
A Vera toda equipada – de acordo com as normas da Covid-19 – para limpar os quartos dos hóspedes que se foram embora. Foram as senhoras turistas da ilha do Pico. Quando eu me for embora, a Vera terá que equipar-se desta maneira também, para entrar no meu quarto. Covid a quanto obrigas.
A minha sobremesa habitual, constituída por fruta e doce.
Procurei entretanto na internet empresas de mergulho na ilha do Faial, para onde irei depois de amanhã, sábado. Uma fechou por causa da Covid-19. Tem várias sucursais em várias ilhas, e a da ilha do Faial fechou. Mas deram-me indicação de outra. Fiz outra chamada e marquei um mergulho para 2ª feira às 9h. Ainda aguarda confirmação sobre o horário exato, ligar-me-ão no domingo a confirmar.
Não posso ir-me embora dos Açores sem experimentar um mergulho nas suas águas.
Contei à Vera que ontem não consegui provar o queijo do Corvo. Não havia. Então a Vera vai arranjar-me um queijo. Está a levar-me a casa duma senhora que vende queijos. Mas é muito difícil arranjar um queijo do Corvo. Eles ainda não estão feitos, e já estão vendidos – há reservas da própria população corvense, que os quer. A senhora que os faz não consegue dar conta do recado. Quase por caridade reservou-me um. Não me deixem ir embora da linda ilha do Corvo sem experimentar o seu famoso queijo!
A senhora dos queijos não está, pelo que é o borracho do filho que nos atende.
Os queijos pesam 1 kg e tal. Reservaram-me o mais pequeno que havia, com 1 kg. 14€ o kg. Eu darei conta dele. Vou para a ilha do Faial com o meu queijinho do Corvo. Vai na bagagem. Irei comendo o queijo ao longo da viagem.
A Vera tem um grupo de amigos de São Miguel a passar dois ou três dias de férias aqui na ilha, e por esta altura estamos todos juntos. O grupo reuniu-se a mim e à Vera, depois dos queijos, e a Vera trouxe-nos a todos aqui à casa do mudo. Parece que mora aqui um senhor mudo que faz miniaturas muito bonitas, e que podemos visitar. Chama-se Celestino. A Vera foi bater à porta, e atendeu o irmão do Celestino, que disse que ele estava a tomar banho e que voltássemos daqui a uma hora. (Isto é que é um banho demorado…) Então sentámo-nos todos no muro – de outra casa ao lado – e esperámos. São 17h58.
Claro que o banho foi muito mais rápido, e um quarto de hora depois o Celestino (nesta foto) recebeu-nos.
Olha o barco da Atlânticoline que é suposto levar-me no sábado de manhã à ilha das Flores! Chama-se Ariel e atualmente está com um problema no motor – pelo que percebi ainda reminiscências do furacão Lorenzo, em Outubro. É o Carlos Toste quem está a fazer o serviço, e o seu barco parte às 9h30 daqui do Corvo. Chega às 10h30 às Flores. Ainda tenho que meter-me num táxi e ir para o aeroporto. Ora o check-in fecha. Apesar do avião ser às 11h05, já não me deixam entrar a partir das 10h35, hora a que fecha o check-in. Vou precisar dum barco privado que me leve às Flores, está visto. Como é possível que nove meses depois do furacão, o barco ainda não esteja reparado? É alguma peça rara ou quê?…
Esta foto é muito importante. Mostra a antiga fechadura que existia em todas as casas na ilha do Corvo. Eu já a tinha visto na Delegação da Assembleia, na coleção etnográfica que lá está (crónica 52). O Paulo Estêvão explicou-me o funcionamento da fechadura. Basicamente não havia fechaduras – porque toda a gente consegue abrir isto. Não há chave nenhuma. Basta puxar o pau para baixo e ela abre-se. Era assim o antigo sistema comunitário na ilha do Corvo. Ainda hoje, em pleno século XXI, eu deixo a janela aberta, no meu alojamento. Se alguém quiser, pode entrar pela janela. Está aberta, é só empurrá-la. Há de haver uma maneira qualquer de trancá-la, mas eu nem perguntei à Vera. O quarto fica a arejar todo o dia. E enfim, tenho coisas no quarto que me fazem falta – nomeadamente os carregadores do telemóvel, da máquina fotográfica, das pilhas, e outras coisas como barras de proteína, equipamento de ciclismo, e mesmo dinheiro. Talvez chegue um dia em que as coisas na ilha do Corvo já não sejam assim. Mas por enquanto é.
Terminou a visita a casa do Celestino, e eu regresso a casa.
Isto é o meu pequeno-almoço de amanhã, que Vera já deixou no frigorífico, mas eu não consigo comer tudo de manhã, e dou-lhe já um desbaste.
Só depois me lembrei que agora tenho um queijo do Corvo!! Ainda fui prová-lo, pois claro.
Conforme já expliquei, a produção é muito reduzida e inteiramente artesanal. Este queijo é uma raridade e é delicioso. É feito com leite de vaca cru, coalho animal e sal. Tem uma cura mínima de 60 dias. Tem uma textura semi-dura, cor amarelada, tem um sabor intenso, e um ligeiro toque picante. Esframila-se ao cortar. (Nota: dou conta que a palavra “esframilar” não existe no dicionário. Terá origens alentejanas, de onde são os meus pais. “Esframilar” significa que se desfaz, que se separa em migalhas).
Deixo ainda a nota de que dizer “Queijo da Ilha” é insuficiente. Há muitas ilhas, cada qual com o seu queijo. Este é da ilha do Corvo. Normalmente as pessoas falam do queijo da ilha de São Jorge, o mais conhecido, parece-me. Portanto é necessário completar a frase: eu comi queijo da ilha. Qual ilha? Este da ilha do Corvo é totalmente diferente do da ilha de São Jorge.
E assim termina mais outro magnífico dia. Fiz 3,3 km na bicicleta e 22,5 km de carro.
Deitei-me às 21 horas. Tomei uma saqueta para o estômago antes de lanchar, e um comprimido para o estômago ao deitar. Amanhã vou subir o Morro dos Homens, não pode haver qualquer tipo de dor ou mal-estar. Já só estou a beber água mineral, já não beberei mais água da torneira.
Há a hipótese de eu partir para o Faial amanhã, 6ª feira, e não no sábado. Há voos diretos daqui para o Faial, nos dias úteis, e há lugar no avião das 14h, já questionei a companhia aérea. O Carlos Toste também tem um barco às 17h para as Flores.
Eu perderia uma noite aqui no Corvo (já paga e sem direito a devolução) e teria que pagar outra noite extra no Faial. É um duplo prejuízo. E acima de tudo uma grande contrariedade, porque eu não quero andar à pressa, amanhã, a preparar bagagens e bicicleta para o avião. Eu não quero perder meio dia que seja na ilha do Corvo. É aqui que estou bem. Quero ir ao Morro dos Homens. É importantíssimo. Quero muito. Não saio daqui.
No sábado, portanto, alguém terá que levar-me num barco privado às Flores, para eu conseguir apanhar o avião para o Faial. Várias pessoas estão a tentar arranjar-me um barco: o Filipe, o João, a Vera. Alguém há de levar-me. Eu pago, mas terei que imputar as despesas à Atlânticoline. Ou tentar junto do meu seguro de viagem. Alguma coisa estranha se passou, para a Atlânticoline não me ter avisado que esta viagem de barco não está a ser feita. Tenho outras viagens com a Atlânticoline que foram alteradas por causa da saga da Covid-19, desde que comprei os bilhetes, em janeiro. Não só me enviaram emails, como telefonaram mesmo, para terem a certeza que eu alterava a viagem de acordo. Porque será que não me disseram nada sobre este bilhete em específico? Escapou-lhes de alguma forma.
Curiosamente ontem ao conversar com o Pedro, um dos temas que abordámos foi o facto de poucos corvinos terem um barco. Estão a 45 minutos da outra ilha e poucos têm um barco, estão completamente dependentes de serviços externos.