055 – Corvo – Nas Lides do Campo com Pedro

Ia eu no tabuleiro da carrinha do João, de regresso à vila, quando vejo o carro do Pedro parado à porta do seu terreno. Bati apressadamente no capô, novamente, e pedi ao João para deixar-me aqui. Vou visitar o Pedro, disse-lhes, ao João e ao Filipe. Pacientemente o João tirou-me a bicicleta do tabuleiro e deixou-me aqui. Agradeci e despedimo-nos os três.

Cá está o Pedro. Entrei novamente no seu terreno, e fechei a cancela depois de passar, para os patos não irem para a estrada. Já começo a habituar-me a estas lides.

Quando aqui estive pela primeira vez, anteontem, tirei uma fotografia assim em grande plano ao Pedro, mas infelizmente ficou desfocada e eu apaguei-a. Agora é de vez. Eu já apresentei o Pedro nessa crónica, mas relembro algumas coisas: o Pedro conhece as ilhas todas e foi 19 vezes a Lisboa. Mergulhava para apanhar algas, as quais eram vendidas para São Miguel, e daqui iam para o continente.
E agora indicou-me que também fez caça à baleia. O Pedro era um caçador de baleias!

O Pedro vai tratar de outras coisas, no carro, e eu vou com ele. A bicicleta vai ficar presa dentro do seu terreno.
Ali em baixo está o Filipe e a carrinha do João, com um depósito de água atrelado. Eles ainda foram fazer mais qualquer coisa, afinal.

A minha bicicleta fica ali, presa com o cadeado. (Como se alguém fosse mexer na bicicleta, ainda por cima dentro do terreno de alguém. Mas eu venho de Lisboa, com outra mentalidade e receios, não estou habituada a isto).

Tem as patas presas para amansar, explica-me o Pedro. E não lhe põe o líquido para as moscas? – perguntei-lhe. Ainda não pôs. Também há uma injeção; e também há um brinco na orelha – ambos contra a mosca – explica-me.

O Pedro tem aqui 3 vacas fêmeas novas para procriar. Uma delas teve uma cria aos 15 meses, mas a cria morreu porque a vaca era muito nova. Os primeiros partos nem sempre correm bem.
A castanha é duma raça que não amansa, diz-me.
O Pedro tem trinta e tal cabeças de gado, inclusive no Caldeirão. Se o inverno é suave, elas ficam no Caldeirão até tirar a cria. Se for agreste, têm de vir para as terras de baixo.
As vacas vivem 23 ou 24 anos, ensina-me.

Faz fresco, eu já vesti a minha camisola de manga comprida.

Agora vamos visitar outras vaquinhas.
Não há muitos cavalos por aqui, na ilha do Corvo – digo eu ao Pedro. Há dois cavalos lá em baixo, na zona da vila – responde-me. Vão estar ali até morrer. Antes matavam-nos. O dono teve um avc, conta-me.

Ao verem o Pedro, as vacas vêm ter consigo.

São muito mansas, diz-me o Pedro. Foram criadas a balde. E explica-me que foram alimentadas com leite em balde, não diretamente da mãe.

Este castanho é um macho. Tem um ano de idade.

As próximas fotos estão tortas porque pendurei a máquina fotográfica da melhor forma que consegui, em cima do muro de pedra, e deixei-a a tirar fotos automaticamente, no modo de “auto-obturador”.

Aqui na ilha do Corvo há uma veterinária, com cerca de 40 anos de idade, que veio do continente, explica-me o Pedro. Antes só havia um rapaz, que era mais entendido e ia desenrascando as coisas. A médica veterinária está cá há uns 3 anos. Antes ainda houve um médico veterinário espanhol, mas foi-se embora.

Este bezerro é um mimo. Gosta de mimos. Quer brincadeira. Empurra-me com a cabeça; o Pedro tem que intervir, senão ele leva-me adiante. Porta-se como um cãozinho.
Se eu continuasse por aqui, creio que me tornaria vegetariana. Torna-se complicado pensar que ele vai ser cortado às postas. Que horror. Agora em viagem ando a comer mais carne devido ao esforço físico, mas em Lisboa reduzi substancialmente o consumo de carne. Não há necessidade de comer muita carne. E só a redução parcial já ajuda.
A nossa responsabilidade – de humanos – perante os animais, é muito grande. Eles têm que ser bem tratados enquanto estão vivos. Já que nos vão servir, que sejam mimados e bem tratados enquanto estão vivos, e que a morte seja rápida e indolor. Este bezerro vive bem e nitidamente está contente. O Pedro trata-o bem e o bezerro gosta de si.

E agora vai esfregar-se no muro e nas flores.

Quando íamos embora e o Pedro abriu a cancela, o bezerro queria sair também. O Pedro está a enxotá-lo com a mão.

Para grande surpresa minha, o bezerro dá um salto por cima do muro e aterra do outro lado, na perfeição. Foi tão rápido que eu nem tive tempo de agarrar na máquina e fotografar. Era digno duma fotografia, aquele corpanzaço todo a saltar um muro com toda a elegância e perfeição. E foi comer as ervas. Só quer comer as ervas do outro lado.
O fio elétrico está desativado.

E prossegue a viagem. Agora vamos a outro lado ver a Manteigueira.

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