035 – Flores – Cascata do Poço do Bacalhau
A entrar na povoação Fajã Grande, onde estou alojada. A minha casa (entenda-se: o meu alojamento) fica junto àquela torre da igreja. Mas ainda falta algum tempo antes de eu ir para casa: primeiro tenho que almoçar, e de seguida tenho o meu destino final de hoje: a Cascata do Poço do Bacalhau.
Perguntei por um restaurante bom e barato, e indicaram-me este, a Barraca Q’Abana.
Perguntei pelo prato do dia, e parece que esta foi a última dose disponível. Carne muito boa, tenra, sem gorduras. Não consegui comer tudo. 5€. A juventude à minha volta só pede hambúrgueres no pão com batatas fritas.
Eu disse que está muito vento para comer lá fora, peguei nas coisas e vim para dentro. O dono do restaurante – Amaral – respondeu-me que eu não sei o que é vento.
O Amaral tem este snack bar / restaurante há 4 anos, disse-me. Alugou durante uns anos o restaurante Papadiamandis – outro restaurante que existe aqui na Fajã Grande. 260 mil – era o preço do Papadiamandis. Perdeu por 1.111 euros, contou-me, perante o espanto do número (ou terá sido 111,11? Fiquei baralhada com tantos “1”). Pressuponho que tenha havido um concurso, pelo que percebi. Bom, esta carne guisada com batatas está uma delícia, espero que haja clientela para todos.
Olá gatinho!
Olá… – respondeu.
As piscinas naturais da Fajã Grande. Será que tenho paciência para ir a casa vestir o biquíni, trazer uma toalha, protetor solar, e vir dar um mergulho?… Para já tenho que cumprir o meu destino de hoje: a Cascata do Poço do Bacalhau.
Lá ao fundo é a ponta da Fajã, com a Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Se calhar também tenho que lá ir dar uma voltinha.
Cascata à vista!
Destino cumprido! São 15h14.
Ali pode tomar-se banho, e efetivamente chegaram dois turistas, acompanhados do Francisco, o rapaz que foi buscar-me ao aeroporto, e um deles vestiu o fato de banho, escondido pela toalha, e mergulhou.
Não perguntei de onde são. São estrangeiros. O Francisco anda há três dias com eles a mostrar-lhes a ilha de carro, contou-me.
Eu decido ir até à Ponta da Fajã. E aproveito para explicar a palavra “fajã”. De acordo com o dicionário da Priberam: “Palavra de origem duvidosa, talvez do espanhol fajana. Terra baixa e plana resultante de desprendimentos de uma encosta ou arriba ou de escoadas de lava que penetram no mar”.¹
Ou seja, o vulcão entrou em erupção, expeliu lava, a qual escorreu por ali abaixo até ao mar, e ao esfriar e endurecer criou estas “fajãs”, terras planas onde as populações acabariam por se instalar e construir as suas casas.
Leio este texto na internet:
“Passaram já umas dezenas de anos sobre uma derrocada no rochedo sobranceiro ao lugar da Ponta [em 1987], que destruiu e danificou imóveis e também uma ermida. Como houve fundadas dúvidas sobre a eventual ocorrência de outras derrocadas, foi decidido retirar dali, definitivamente, os habitantes e dar-lhes apoios para residirem noutro local.
Passado tanto tempo, não se considera que a zona ofereça hoje maior perigo do que as inúmeras localidades habitacionais ou de férias existentes nos Açores, situadas junto ao mar e encimadas por rochedos. Assim a Ponta da Fajã Grande foi progressivamente voltando à ocupação, seja para habitação permanente ou temporária. A lei da vida foi levando os naturais do lugar e agora só ali habitam permanentemente uma meia dúzia, vindos de fora. A zona é, cada vez mais, local privilegiado para fim-de-semana e férias.
A Ponta tem igreja; a Padroeira é Nossa Senhora do Carmo. Regressados alguns naturais e enquanto houve ali um número mínimo de participantes na Missa, um sacerdote deslocava-se para celebrar ao sábado. E retomou-se a Festa em honra da Padroeira”.²
Igreja de Nossa Senhora do Carmo, construída em 1898.
De regresso a casa.
Não sem antes passar pelo minimercado do José António, para ir buscar os meus ansiados iogurtes. Estes são aqui da ilha das Flores, disse-me. Em recipientes de vidro. São caros, mas vale a pena: 0,90€ cada. E comprei mais bananas.
Foi um magnífico dia. São 16h30, fiz 42,4 km na bicicleta. Um dia longo, de 9 horas. Passei 4h parada e 5h em movimento. Hoje já não saio mais, quero tomar banho, descansar, selecionar as fotos. Vou estar estendida na cama o tempo todo.
Ainda é o pão que trouxe da ilha de Santa Maria. Dura ainda! Uma maravilha de pão.
Gosto de copos de vidro grandes, de meio litro, e como aqui não há, divido o leite por duas canecas.
Amanhã será outro dia. Cada dia melhor do que o anterior.
Deitei-me às 21h30.
¹ “Fajã”, Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (2008-2020). Página consultada a 29 outubro 2020,
<https://dicionario.priberam.org/faj%C3%A3>
² Moura, Renato (2017, 4 agosto) “Foram-se os habitantes mas persiste a devoção à Senhora do Carmo”. Igreja Açores. Página consultada a 29 outubro 2020,
<https://www.igrejaacores.pt/foram-se-os-habitantes-mas-persiste-a-devocao-a-senhora-do-carmo/>